Diante do texto ficcional, o leitor é
forçosamente convidado a se comportar como um estrangeiro, que a todo
instante se pergunta se a formação de sentido que está fazendo é adequada à
leitura que está cumprindo. (Luiz
Costa Lima. A literatura e o leitor).
A leitura permite ser entendida, também, como uma intervenção do leitor no
texto, a qual se pode comparar ao comportamento de um estrangeiro em terras
desconhecidas, onde a curiosidade, as perguntas e as respostas (às vezes nem
tão esclarecedoras) e a intuição farão parte da performance
desse aventureiro das letras. É justamente nesse encontro do leitor com o
texto ficcional, que surge a importância dos vazios textuais e, para
refletir um pouco acerca desses vazios, recorreremos a um estudo reflexivo
sobre a obra Macunaíma de Mário de Andrade e Iararana do autor
Sosígenes Costa, isso, meditando sobre como se dá a presença do personagem
estrangeiro nas respectivas obras.
A obra Macunaíma foi publica em 1928, enquanto Iararana,
provavelmente, no início dos anos 30 do século XX, ambas as obras foram
produzidas no momento conhecido literariamente como Modernismo, época de
reivindicação e de solidificação das novas concepções artísticas que vieram
para redimensionar as idéias tradicionais e, por outro lado, trazer o novo
ideário modernista, fundamentado nas idéias surrealistas de Freud, na
pintura cubista de Picasso, no futurismo de Marinneti e na Filosofia de
Nietzsche, além de diversas outras ideologias impregnadas nesse início do
novecentos. Para F. Karl, o Modernismo:
(...) é coisa tão revolucionária à sua
própria maneira como experiências em linguagem, sondagens psicológicas,
atonalidade, cubismo e abstração. (...) daí, torna-se impossível ignorar
que o modernismo viera para tudo varrer, como se houvesse sido
uniformemente organizado por alguma inteligência de ânimo igual. (KARL.
1988, p. 431).
Em Iararana, o estrangeiro presente na obra, representado aqui
através do personagem Tupã-Cavalo, permite que se encontre certa descrição
acerca do “outro”, o qual rompe oceanos em busca de novas terras distantes:
“Ele nasceu na Oropa... / teve que disparar daquela terra... / atravessou o
mar como quê...” (COSTA. 1959, p. 33).
A citação acima permite-me ainda trazer para este espaço de reflexão um
pouco do que Todorov escreve em A conquista da América, a respeito da
ação avassaladora do europeu em desterrar, violentar, aterrorizar, enfim,
massacrar o índio das novas terras da América em busca do poder da posse
sobre o ouro, sobre a terra e sobre o “objeto” indígena. Não se
satisfazendo com a carnificina, os europeus realizavam ainda uma violação
moral:
Nem semelhante nem totalmente diferente, o
sacrificado também é avaliado segundo suas qualidades pessoais: o
sacrifício de guerreiros valorosos é mais apreciado do que o do
joão-ninguém... O sacrifício é executado em praça pública... (Todorov,
1999, p. 171 – 172).
Essa afirmação de Todorov pode nos remeter ao momento em que o estrangeiro
da obra Iararana (o trecho referido será citado e discutido
posteriormente nesse mesmo texto) chega à nova terra, humilhando o
pai do mato, escorraçando-o na frente dos nativos, ação metafórica,
comparável à dos invasores que nos colonizaram no século XVI.
De volta à reflexão acerca do personagem estrangeiro, na obra sosigeniana
existe um momento em que o sujeito poético, ao comentar a chegada do
forasteiro, permite-nos deduzir acerca da personalidade desse ser
colonizador, visto que o mesmo é citado como bicho, adjetivo que está
associado à sua deformidade, agressividade e coragem, que tanto amedrontam o
caboclo, exigindo, com isso, uma ação dos nativos em defesa de sua
liberdade, de suas terras, de sua vida, e principalmente de suas águas.
É mister lembrar a relação dos caboclos com o rio, posto que esses nativos
podem ser entendidos como guardiões das águas que trazem as cheias, que
produzem mantimento, que renovam a vida e que são habitadas por deuses. E,
é justamente através dessas águas, símbolos do sagrado, que surge o profano
estrangeiro, tomando o espaço dos deuses locais, aparecendo como um ser
estranho, que “bonga” as águas límpidas locais e espanta a pureza natural do
rio:
─ Mas que bicho danado era este?
─ Mas que bicho danado era este, senhor?
─ Menino este bicho veio da Oropa.
(...)
os cabocos do rio se esconderam no mato
e quiseram dar flechada mas a flecha não
pegou.
Não pegou não, meu avô?
Pegou que nada, menino do céu.
(COSTA. op. cit., 34)
Surge aqui a descrição física e espacial desse ser que invadiu a terra dos
caboclos. O ser que tanto amedronta é o filho da grande serpente chamada
“Diabo”, a qual veio tomar o que não lhe pertence, destruir identidades e
culturas, além de matar povos, realizando assim sua função. Daí o motivo de
tanta força, pois segundo o dicionário dos símbolos: “O Diabo simboliza
todas as forças que perturbam, inspiram cuidados, enfraquecem a consciência
e fazem-na voltar-se para o indeterminado” (CHEVALLIER; GHEERBRANT, 2006,
p.337). É válido lembrar que esse ser andrógeno não é filho de qualquer
terra, mas, sim, do velho mundo, especificamente da Europa, continente
citado pelo sujeito poético com certo ar depreciativo: “Oropa”, de onde
nasceram muitos invasores que tomaram terras estrangeiras, dizimaram os
nativos, produziram riquezas e escravizaram povos, por isso a ênfase dada à
localidade de origem do estrangeiro: “Não vê que esse bicho era filho do
diabo? / Esse bicho da Oropa tinha parte com o diabo. / Esse bicho da Oropa
foi o diabo neste rio...” (Idem, p.34 )
Ao representar Tupã-Cavalo como o bicho da Oropa e também como filho do
“Diabo”, o sujeito poético viabiliza ao leitor se deparar com a questão da
mudança funcional e identitárias do personagem, exigindo maior atenção para
o desenrolar do enredo da narrativa Iararana, o que nos faz lembrar
um pouco do que pensa Ingarden: “Ingarden pensa que nem todos os pontos de
indeterminação devam ser forçosamente preenchidos...” (ISER. 1979, p. 97).
Apesar de Ingarden expor a idéia pertinente de que nem todos os vazios
acabam sendo combinados pelo leitor, não significa dizer que o vazio
continuará eternamente presente, ou seja, ele só acaba sendo trabalhado pelo
leitor que detém o repertório necessário para combinar os vazios. No caso
específico do texto sosigeniano em estudo, podemos notar a exigência de
repertório, quando o receptor se defronta com uma mudança de imagem do
personagem, visto que Tupã-Cavalo (que tem imagem de centauro) agora é
descrito como um bicho que tem parte com o “Diabo”, exigindo com isso, que o
leitor entenda o personagem invasor como um ser disforme e ao mesmo tempo
multiforme (dado à magia que o diabo tem de poder mudar sua aparência a todo
instante... quem não se lembra da serpente que enganou Eva no Éden?!). Com
isso notamos que os vazios convidam à intervenção do leitor, já que nesse
caso específico do texto sosigeniano, o personagem foi descrito com uma
imagem diferente das narradas anteriormente.
Haja vista suas habilidades, o comportamento desse “filho do Diabo” não
seria outro, senão atacar os nativos de maneira bem violenta, lançando mão
de armas de fogo produzidas pelo capitalismo sustentado pelas colônias,
gerando uma carnificina. Além de matar, o estrangeiro escorraçou o
Pai-do-mato, figura de maior respeitabilidade local e que defende os nativos
locais, além de interceder junto aos deuses da mata pelo seu povo.
Há algo de interessante nesse confronto do invasor com o Pai-do-mato, o
estrangeiro não o mata, evitando certa associação de sua morte a de um
mártir (ou surgimento de mais uma entidade religiosa), ao contrário, ele
afugenta, demonstrando a fragilidade do pajem local e seus deuses (seria a
idéia de substituição do forte pelo fraco). Com tudo isso, o “filho do
Diabo” demonstra ter vindo para dominar, construir posses, escravizar,
enfim, tornar-se um grande mandatário das novas terras, o que lhe conferiu o
nome de Tupã-Cavalo, o rei dos trovões que destroem matas e seres, o grande
representante das forças desconhecidas e indeterminadas que amedrontam os
caboclos. Esse ser de aparência monstruosa possui a força e a velocidade do
cavalo, além da astúcia e da sagacidade humana, o que nos permite associá-lo
à figura mítica do Centauro:
Ele fez guerra com espingarda aos cabocos do
mato
e venceu os cabocos e escorraçou o
Pai-do-mato
e ficou no lugar dele e se chamou dono da
gente.
Mas caboco com ódio o chamou Tupã-Cavalo
pois tinha corpo de cavalo e andava de
quatro pés (...) (Idem, p.34).
Toda essa descrição do ser estrangeiro que vem de longe para atacar, tomar,
escravizar e construir morada, nos faz retomar a História oficial da
colonização do Brasil, que parte dos livros de história minimizam, tornando
ameno esse momento de habitação portuguesa em terras brasileiras. Além
disso, não podemos esquecer de citar aqui a considerada por muitos como a
“certidão de nascimento de nosso Brasil”, a Carta de Caminha,
documento que possui um conteúdo de metaficção-historiográfica e acima de
tudo, de cunho malicioso, onde o narrador por motivos financeiros da Igreja
e da Metrópole, encobre a verdadeira forma de posse e convívio com os
nativos: “E, segundo que a mim e a todos pareceu, esta gente não lhes
falece outra coisa para ser toda cristã...” (http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/obras_download)
Visto que o olhar ideológico
de Pero Vaz de Caminha está voltado apenas para o que lhe convém observar,
prova disso é essa visão idealizada de nativos bestiais a espera de serem
escravizados pela coroa portuguesa. Mas, essa idéia de posse implícita na
Carta de Caminha é também trabalhado por Mário de Andrade, ao
descrever o estrangeiro como um ser que vive em terras brasileiras e que
detém certa autoridade sobre os nativos.
Mário de Andrade, seguido anos depois por Sosígenes Costa, lança mão do
personagem estrangeiro em sua obra modernista Macunaíma, afinal,
qualquer leitor que se encontra com Macunaíma vai perceber essa
velocidade da obra, ao se deparar com cenas que se sobrepõe, enredo sem
conexão lógica, além de uma linguagem bem eclética e cheia de vazios
textuais que narra a obra.
E o homem era um grilo. Macunaíma teve ódio
de tanta boniteza e chimpou uma bruta duma bolacha nas fuças do grilo. O
grilo berrou, e enquanto falava numa frase em língua estrangeira agarrou o
herói pelo congote.
─
Prrrêso!
O herói gelou.
─
Prêso por quê?
O polícia secundou uma porção de coisas em
língua estrangeira e segurou firme.
─ Não
estou fazendo nada! que o herói murmurava com mêdo. (Andrade. 1979, p. 127).
Entretanto, enquanto em Iararana, Sosígenes aborda principalmente a
chegada do estrangeiro em terras nativas, na obra andradiana nos deparamos
mais com uma estada já fixada, podendo perceber assim, como se dá a
permanência do estrangeiro em nosso país.
No trecho acima escolhido da rapsódia andradiana, encontramos um episódio em
que o personagem Macunaíma se encontra com o estrangeiro, nesse encontro de
culturas e aparências distintas, o nativo é tomado por um choque de
diferença física, o que o faz tomar uma decisão de dar um tapa na cara do
estrangeiro descrito como grilo (podemos entender aqui como uma forma
depreciativa de se referir a gringo).
Entretanto, o que o protagonista da obra andradiana não tinha talvez
esperado é que aquele gringo fosse na verdade uma autoridade local, o que
acaba invertendo a idéia de nacionalidade, onde Macunaíma passa a ser o
estrangeiro que respeita às ordens do nativo grilo, o qual reprime os
comportamentos ofensivos à sua estadia.
É válido salientar a imagem do gringo associada ao grilo, permitindo através
de uma linguagem metafórica, entender o estrangeiro como um devorador de
culturas e comportamentos e que impõe seu canto (sua língua) como um aviso
de presença constante e destrutiva.
Do futurismo, Mário adota o princípio da
velocidade moderna; do surrealismo, o do “sonhar” distraído, que se
manifesta no fluxo de retalhos caóticos de pensamentos. Mário apresenta de
forma brilhante o princípio moderno da “simultaneidade”, do “sincronismo
(...) (ROSENFELD. 1994, p. 102)
A obra Macunaíma é um grande exemplo dessa velocidade descrita por
Rosenfeld, posto que a obra traz em si uma dinâmica da linguagem, a qual se
fragmenta por meio de termos regionais variados, fruto das pesquisas e
viagens feitas no Brasil pelo autor. Esse dinamismo se dá, ainda, por um
enredo fragmentado e plurissignificativo, em que o leitor se transforma em
um personagem a parte, combinando os vazios presentes na obra à partir de
seu imaginário.
Voltando à última descrição retirada da rapsódia, em que Macunaíma é preso,
mesmo que o protagonista da obra andradiana tente se justificar e o povo
tente interceder pelo detento, a decisão dos gringos é de prender o nativo.
Outro fato nos chama atenção nessa narrativa, é justamente o desconhecimento
da língua brasileira, posto que o estrangeiro mesmo vivendo em outra terra,
não se importa em desenvolver a competência lingüística, o que nos aponta
para uma aversão ao idioma e por conseguinte cultura local. Além de invadir
e dizimar grande parte dos nativos, o estrangeiro se preocupou com a
imposição de sua cultura e língua, tornando-o como idioma oficial, pois em
situações como a que passou Macunaíma, os nativos precisavam entender um
pouco da língua do outro, o que nos traz a lembrança do que aconteceu aqui
no Brasil nas décadas iniciais da colonização, em que a companhia de Jesus
criou mecanismos de aculturação indígena a partir também da imposição da
aprendizagem da língua estrangeira.
Então o senhor fêz um discurso pros
grilos, que êles não deviam de levar Macunaíma prêso porque o herói não
fizera nada. Tinha ajuntado uma porção de grilos mas nenhum não entendia o
discurso porque nenhum não pescava nada de brasileiro. As mulheres
choravam com dó do herói. (Andrade, op. cit., 127)
Na obra Iararana, dentre as muitas “brechas” narrativas citamos um
diálogo final do canto I:
E o capeta disse à caipora:
─ Minha avó, apareceu uma anta
com cara de gente na boca da barra,
entrou pelo rio, passou pelas ilhas
saltou na Linha espantando os bichos.
─ Hum! é cousa ...
Eu penso que já pela lngauíra.
O homem-de-saia fícou com medo
e entrou no mundo.
Aquela bruxa também azulou.
O lobisomem tomou um sumiço
e a mula-de-padre foi se esconder.
─ Hum! é cousa ...
─ O peixe do Bu flechou pra a Lagoa
quebrou o esporão, perdeu o aruá
de tanto correr com medo do bicho.
Não sei como não furou os olhos
Nos cavacos da boca do Bu.
─ Minha avó, o que será? (Idem, p.30)
Nas estrofes acima, percebemos que Romãozinho dialoga com sua avó Caipora
acerca da chegada do monstro invasor, contudo, na mudança de canto,
especificamente no início do canto II, o leitor é surpreendido com a
continuação do mesmo diálogo, entretanto com personagens diferentes:
─ Mas que bicho danado era este?
Mas que bicho era este, senhor?
─ Menino, este bicho veio da Oropa.
─ Mas na Oropa tem anta me diga?
Olhe, meu avô, que na Oropa não tem anta.
─ Esta anta com cabeça de gente não era
anta, meu neto.
Aquilo era cavalo com cabeça de gente.
(Idem, p. 33)
Esses dois fragmentos citados anteriormente representam não apenas um vazio
presente no texto, mas principalmente a quebra da good continuation,
em que a estrutura textual traz uma superposição de imagem, convidando ao
leitor para que intervenha na obra a partir de seu imaginário e, por
conseguinte, acrescente ao texto novas possibilidades de leitura. É preciso
lembrar que em outros momentos da obra sosigeniana a mudança do canto não
será paralela à mudança estrutural (o que ratifica ainda mais a presença do
vazio na mudança do canto I para o II), fato que podemos perceber no final
do canto IV: “Fogo pegou na cana brava / ninguém passe mais por lá / que
pode sair com fogo...” (Idem, p.44)
Já no início do canto V, a seqüência estrutural do texto vai se dar de
maneira complementar ao canto anterior: “Ah! Depois de nove meses / que
aquele fogo se deu...” (Idem, p. 45)
Em Macunaíma, também, o leitor se deparará com situações em que a
“planificação” do texto perpassará por alguns pontos de indeterminação e
isso se dará justamente no momento em que o capítulo IX nos apresenta a:
“Carta pras icamiabas”, o que nos traz a lembrança de uma nova versão da
carta de Caminha, agora relatada por um nativo. A “Carta pras Icamiabas”
representa um vazio um tanto convidativo, posto que o receptor é
transportado de um plano de leitura (o enredo da obra) para outro plano de
leitura (a carta).
Esse ponto de indeterminação acaba sendo, ainda, uma obra pequena com enredo
próprio (a carta) dentro de outra obra grande (Macunaíma). Vejamos
como se dará essa mudança estrutural, em que o receptor no final do capítulo
VII lê o seguinte: “No outro dia Macunaíma não achou mais graça na capital
da República. Trocou a pedra Vató por um retrato no jornal e voltou prá taba
do igarapé Tietê.” (p.91). Já no capítulo seguinte, a mudança estrutural é
brusca, e o leitor se confronta com a seguinte informação:
As mui queridas súbditas nossas, Senhoras
Ama-
zonas.
Trinta de Maio de Mil Novecentos e Vinte e
Seis,
São Paulo. (Idem, p. 95)
Essa mudança estrutural acaba sendo um vazio que de certa forma provoca uma
“pausa” na leitura no enredo da obra Macunaíma e traz a atenção do
leitor para o conteúdo da inesperada carta, retomando a idéia de que:
(...) a quebra da good continuation
pelos vazios provoca o reforço da atividade de composição do leitor, que
tem agora de combinar os esquemas contrafactuais, opositivos, contrastivos,
encaixados ou segmentados, muitas vezes contra a expectativa aguardada. (ISER,
1971, p. 110)
Assim, podemos perceber, através desse estudo reflexivo acerca de
Macunaíma e Iararana, a idéia de posse, violentação, imposição e
habitação, que permeiam a chegada do estrangeiro em terras brasileiras, o
que nos possibilitou fazer, através da associação dos personagens dessas
obras com a História oficial de nosso país, um estudo reflexivo retomando a
chegada do colonizador no Brasil.
Isso tudo, a partir também da reflexão acerca dos vazios textuais até aqui
apontados nos trechos das duas obras em análise, o que nos permite entender
o quanto de dialógico tem o texto, que, por mais que não seja uma relação
diádica, carrega um processo comunicacional latente que permite certa
interação. Por fim, entendemos, ainda, que mesmo Macunaíma e
Iararana sendo obras aparentemente “difíceis”, sem personagens planos,
com muitos ambientes, apresentando ausência de enredo linear, todas essas
características textuais dessas narrativas permitem um rompimento com a
idéia da good continuation, ou seja, das imagens bem encadeadas, o
que lança sobre os vazios a importância de despertar no leitor a necessidade
de interação com o texto.
Referências
ANDRADE, Mário de. Macunaíma, o herói sem
nenhum caráter. São
Paulo: Martins, 1979.
CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT,
Alain. Dicionário de Símbolos.
Rio de Janeiro: José Olympio, 2006.
COSTA, Sosígenes. Iararana. São
Paulo: Cultrix, 1959.
LIMA, Luiz Costa. A Literatura e o
Leitor: textos de Estética da Recepção. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1979.
ROSENFELD, Anatol. Letras e Leituras.
In: Mário de Andrade. São Paulo: Perspectiva, 1994.
TODOROV, Tzvetan. A conquista da América:
a questão do outro. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
KARL, Frederick. O moderno e o
modernismo: a soberania do artista, 1885-1925. Rio de Janeiro: Imago,
1988.
Web site: http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/obras_download,
24 de maio de 2007. 18:40.
ZUMTHOR, Paul. Performance, recepção,
leitura. São Paulo: EDUC, 2000.