As
sociedades contemporâneas estão interconectadas por vários meios, e
determinantemente, pelos meios de comunicação. Os veículos
informacionais, no atual mundo globalizado, têm potencializado a interação
do homem com os suportes midiáticos. Nesse contexto, ocorrem os diversos
confrontamentos no que se refere às identidades culturais, sejam elas
globais ou locais: a facilidade na inter-relação das culturas e a
potencialização nas trocas de informações, ocasionam uma suposta e por
vezes comprovável transmutação de culturas.
Assim,
as identidades locais podem se utilizar de suportes contemporâneos para
reafirmar sua identidade, formando núcleos de resistências presentes
ainda hoje. Neste sentido, se utilizam destes suportes em prol de sua
cultura, cônscios ou não desta possibilidade.
A
partir destes aspectos, este trabalho propõe, através da apropriação
da técnica do vídeo por representantes do grupo indígena Tupinambá de
Olivença, do Sul da Bahia, observar a sua auto-expressão, sua identidade
étnica e territorial. Através do vídeo elaborado pelo grupo,
pretendeu-se discutir como ocorre a relação entre identidade indígena e
tecnologia, e como a cultura dos Tupinambás é representada, desde o
processo de tessitura do vídeo até o produto final.
Ser
Tupinambá de Olivença
Historicamente,
a referência dos Tupinambás, originários do grupo Tupi, nesta região,
se origina de um aldeamento do século XVI, a aldeia indígena Nossa
Senhora da Escada, existente na antiga Capitania de São Jorge de Ilhéus.
Este grupo estabelecia relações com os colonizadores, inclusive jesuítas,
através do escambo e com o fornecimento de força de trabalho. Mas com a
apropriação da terra, estas relações mudaram. Passaram-se a capturar
índios, escravizá-los e destribalizá-los.
A
história dos índios desta região foi marcada por
alguns acontecimentos: a presença do Caboclo Marcelino, a Batalha
dos Nadadores (Guerra de Cururupe), a construção da ponte do rio
Cururupe. Todos estes eventos foram seguidos de destribalização e
desterritorialização dos Tupinambás, mas o grupo ainda manteve algumas
formas de resistência, e dentre uma delas está a Puxada do Mastro de São
Sebastião.
Hoje,
após superar a principal dificuldade que é assumir-se como índio, os
Tupinambás de Olivença são formados, principalmente, por pescadores e
trabalhadores rurais, organizados em 23 comunidades, almejando conquistar
algumas reivindicações. Conhecidos como “Caboclos” de Olivença,
são 4.300 índios, aproximadamente, abrangendo um território de 92 Km2,
7 léguas em quadro, a 15 km ao sul de Ilhéus, numa área das bacias
hidrográficas costeiras entre Ilhéus e Canavieiras.Como movimento
organizado, fazem manifestações públicas, reivindicando principalmente
por terra. Para manutenção da própria cultura, é ensinada a língua
Tupi. Desde o ano de abril de 2002 são reconhecidos como grupo indígena
pela FUNAI e hoje aguardam a demarcação do território indígena em
Olivença.
Construção
do Epiak Tupinambá: o vídeo na comunidade
Primeiramente,
deve ser esclarecido que esta investigação não possuiu, nem pretendeu
ser de caráter antropológico, tendo-se como objetivo compreender o vídeo
como meio de comunicação, que, no contexto atual de globalização, se
relaciona com as identidades, neste caso, étnicas e territoriais.
Entretanto é inegável o fato da Antropologia perpassar nessa experiência
empírica realizada.
Buscar
entender a relação entre comunidades indígenas e tecnologias
audiovisuais não é algo novo. Menos ainda, compreender o vídeo, ou
outros suportes de registro imagético em práticas antropológicas.
Bateson e Mead já utilizavam em 1942 imagens fotográficas, que eram
categorizadas, para entender a cultura dos povos. Em seu livro, The
Balinese Character: A Photografy Analisys, mostraram a cultura dos
habitantes da Ilha de Bali tornando-se uma das primeiras utilizações de
imagens fotográficas e fílmicas em abordagens
etnográficas: Massimo Canevacci, quando se refere ao Balinese
Character, afirma que “É possível sustentar, de fato, que com esse
texto firma-se a passagem da antropologia visual, em sentido técnico, à
antropologia da comunicação em sentido metodológico” (CANEVACCI,
2001, p. 65).
Etienne
Samain descrevendo o processo de inserção do vídeo na Antropologia,
afirma que o uso do vídeo nasceu da necessidade de “mostrar”,
“tornar visível” o homem, objeto de estudo, e não somente descrevê-lo.
(SAMAIN,1994, P. 34). Reyna complementa, valorizando as imagens animadas:
Só
o filme e o vídeo podem chegar mais próximos do realismo do tempo e do
movimento ou as variedades de realidades psicológicas nas relações
interpessoais. Um exemplo disso está na difícil avaliação do caráter
do amor entre pais e filhos com fotografias, enquanto que tanto o filme
quanto o vídeo podem registrar a natureza, a duração e a freqüência
do contato familiar. O que não acontece com a fotografia, porquê ela
quebra a cadeia de atitudes e reações em face do meio social; estes
cortes no tempo são fragmentos de vestígios emocionais fluentes de um
processo qualquer de comunicação. (REYNA, 2000 p.2).
Samain
considera os diversos fins do registro audiovisual antropológico como
documentar e descrever a realidade, inventariar situações e rememorá-las;
entretanto destaca a existência nestes registros de “índices, marcas,
rastros de intencionalidade humana” por mais objetividade que se
contenha em seu discurso e tentativa. Por isso a necessidade de que uma
produção videográfica seja elaborada diretamente por integrantes de
um grupo, pois, a partir do momento que ele se apropria da técnica, eles
têm a possibilidade de escolher as imagens o conteúdo e a linguagem de vídeo
que mais o representam. Sendo assim, o vídeo pode funcionar como suporte
de auto-expressão da identidade cultural desta comunidade. Este se
constitui o elemento diferenciador da investigação, reforçado pela
experiência Kaiapó descrita por Terence Turner (1993). Este pesquisador
observou como aconteceu e em que refletiu um vídeo feito pelos próprios
índios Kaiapó ,os seus efeitos sociais e políticos,o
uso que se propôs pelos índios como documentação social e política,
enfim demonstrou que resultados obteve-se naquela comunidade.
O
processo de inserção para efetuar a investigação da comunidade
Tupinambá em Olivença teve inicio em julho de 2003. A pesquisa não se
restringiu a observação do período de produção técnica. Observou-se
o processo desde os primeiros momentos de contato, com a aceitação da idéia
de construção de um vídeo pelo grupo e engajamento na execução. A
investigação ocorreu desde as fases da produção do vídeo propriamente
dito, (elaboração das idéias, tessitura do roteiro, participação na
captação das imagens e edição) bem como, o produto audiovisual final.
Todas estas etapas, ressaltando mais uma vez, elaboradas por e com a
participação dos Tupinambás. Cinco fases foram demarcadas
simbolicamente: a inserção na comunidade, a oficina de vídeo, a
roteirização, a gravação e a edição de imagens.
No
período de inserção/aproximação na comunidade foi o momento de
apresentação das idéias a comunidade Tupinambá, seguido pela formação
de um grupo representante disposto a participar da confecção do vídeo.
Este grupo pôde preparar-se para a produção, através da oficina de vídeo,
concedendo-lhe autonomia.
Posteriormente
foi confeccionado o roteiro. Nesta fase, evidenciou-se tanto o sentido
coletivo de reafirmação da identidade, quanto o reivindicatório dos
direitos do grupo. Dentro de um grupo formado por diversas faixas etárias,
as opiniões sobre o objetivo e o conteúdo do vídeo, apesar de
diversificadas, apresentaram-se com o mesmo cunho.
No
período de gravação, o grupo Tupinambá teve liberdade para dirigir a
captação das imagens, de acordo com o próprio senso estético e de
conteúdo, seguindo a idéia já estruturada no roteiro. Ficou bastante
claro neste momento como imaginavam o vídeo com o senso estético próximo
ao da TV aberta.
Em
um último momento, ocorreu a edição do vídeo. A comunidade escolheu
uma das lideranças dos Tupinambás. Demonstrou-se uma preocupação com
os depoimentos e com as relações da comunidade.
Epiak
Tupinambá
O
produto audiovisual final intitulado Epiak Tupinambá, possui 9’54”,
tempo que foi insuficiente para os Tupinambá participantes do processo.
Representantes do movimento, demonstraram ser grupo organizado
que almeja a reafirmação de sua identidade.
Desde
o momento de construção do roteiro, os Tupinambás deixaram evidentes
que o vídeo deveria recorrer a elementos de sua cultura originária (a
pintura no corpo com jenipapo, o Porancim, os adornos, a história de
Marcelino, as histórias de resistência, a escravidão indígena) sempre
através da fala dos idosos, ou seja, referência direta da cultura oral.
Também deveria ser mostrada a realidade das comunidades indígenas (a
educação das escolas, a cura através de raízes e ervas, as atividades
desenvolvidas pelos grupos comunitários,a feitura da farinha nas ‘casas
de farinha’, o artesanato como fonte de renda, etc). Ao fim,
seria destacada a fala da cacique, que seguindo o roteiro proposto pela
comunidade, apresentou as reivindicações dos Tupinambá de Olivença.
O
vídeo é iniciado com imagens dos Tupinambás, saindo com suas lanças,
pintados e adornados, ao som de um de seus cânticos:Jacy aê iandé
Jacy/ mba-e pé moindy iandé taba/Tupã our tym/ Isapé iandé taba/Ixé
asó sy jacy/ To-uri pitibó/ ixé asó xe uby Tupã/ pé iandé taba byr.
Todo vídeo é entrecortado com imagens
do grupo caracterizado dançando o Porancim. Destacam-se os depoimentos
que intercalam o vídeo, iniciando com a fala dos mais idosos: seu Alicio
fala da importância do Porancim em sua vida; dona Dinete relembra a
escravidão indígena que sua mãe vivenciou; dona Nivalda, mãe da
cacique, conta como sua mãe resistiu, quando tentaram tomar a sua casa.
Mais adiante, Pedro Piroca e Pedro Braz contam como os índios eram
perseguidos e torturados para entregarem o caboclo Marcelino. De certa
forma, todos estes depoimentos legitimam a história dos Tupinambás de
Olivença, por serem explicitados por indivíduos que vivenciaram
–diretamente ou não – os fatos apresentados.
O
vídeo segue com o depoimento da cacique:
Pra
nós, o reconhecimento da gente (sic) é muito importante. Foi muito difícil
a gente conquistar a nossa autonomia de dizer “somos índios, somos
Tupinambá que moramos em Olivença”; e que a terra é importante pra
gente. A terra, desde o nosso nascimento até a nossa vida adulta (sic). Nós
estamos lutando por essas causas que é os nossos velhos que diz (sic),
que conta a história, conta o surgimento, conta a discriminação[...].
A
cacique ainda fala da importância de apresentar nas escolas e para a
comunidade, o que é ser Tupinambá e a importância de ter uma cultura
diferente. São mostradas imagens da escola indígena em Sapucaeira,
com as crianças dançando o Porancim. Pedriza, professora da escola, fala
que a educação trabalhada com as crianças está relacionada com a
realidade da comunidade e com as histórias do mais velhos.
Em
um momento posterior, a cacique Valdelice fala da medicina indígena e do
uso das raízes para curar. Dona Nivalda reforça este discurso e aparece
usando raízes para benzer uma mulher enferma. Neste momento, uma depoente
indígena mais jovem, Valdeci, aparece falando um pouco sobre o seu
trabalho como agente de saúde junto à comunidade.Depois, a cacique
Valdelice retoma a discussão em relação à importância da terra e o vídeo
é finalizado com imagens de crianças Tupinambá brincando em um rio.
Todos
os elementos mostrados pela comunidade – importância da terra, a história
do caboclo Marcelino, a educação diferenciada, as reivindicações dos
Tupinambás,a cura através das raízes – foram pensados desde o
primeiro momento de construção do vídeo.
Deve
ser ressaltada a aproximação do vídeo produzido com a linguagem
televisual, mesmo com as dificuldades do grupo em estruturar o roteiro,
viabilizar as idéias, nos momentos de gravação e edição. Se o
tradicional estava inserido no discurso, em contrapartida, ficou evidente
a aproximação do grupo representante com a linguagem televisual. Neste
momento, é importante ressaltar que o trabalho foi desenvolvido com
pessoas da Estância Hidromineral de Olivença, ou seja, indivíduos que
se não possuem, mantém contato com a televisão. Aqueles que vivem em
comunidades isoladas, dentro da mata, que não possuem energia elétrica,
não participaram do processo de construção do vídeo.
Identidade
Cultural: um olhar sobre o olhar Tupinambá
Primeiramente,
verifica-se a necessidade de observar a importância das discussões sobre
identidade no atual contexto globalizado. Muito se tem debatido sobre
identidade, seja ela nacional, territorial ou étnica. Hoje, com as
possibilidades advindas da circularidade de informação, através dos
meios de comunicação, é presente a idéia de que a convergência de
culturas pode gerar uma crise de identidade. De acordo com Woodward: “A
globalização envolve uma interação entre fatores econômicos e
culturais, causando mudanças nos padrões de produção e consumo, as
quais, por sua vez, produzem identidades novas e globalizadas”. (WoodWard,
2000, p. 20)
Woodward
trata a identidade como adquirida através da linguagem e dos meios simbólicos.
Ainda, destaca-a como relacional tendo em vista sua definição ser
reproduzida através da diferença e conseqüentemente pela exclusão.
Stuart Hall (2000) nos
oferece um conceito de identidade na contemporaneidade, sua formação, e
sua diferenciação em relação à identidade essencialista.
Segundo Woodward, a identidade conceituada pelo essencialismo
proporia um conjunto de características cristalinas e autênticas que um
povo partilharia sem alterá-los ao longo de sua história. O não-essencialismo
sugeriria focalizar as diferenças e as semelhantes características
partilhadas, como também a observação nas modificações da autodefinição
deste povo.
Os
índios Tupinambás de Olivença buscam na história, pontos de partida,
ou melhor, verdades essenciais e
fundamentais para construção de sua história. A afirmação, por
exemplo, de que a igreja Nossa Senhora da Escada foi construída por eles
e que na praça onde ela se encontra aconteciam as festas e alguns rituais
Tupinambá, é uma reivindicação através da autenticação/reconhecimento
da história do grupo. Woodward explica que “ao afirmar uma determinada
identidade, podemos buscar legitimá-la por referência a um suposto e autêntico
passado – possivelmente um passado glorioso, mas de qualquer forma, um
passado que parece “real” – que poderia validar a identidade que
reivindicamos”. (WOODWARD, 2000 p. 27)
Castells
identifica a origem da construção de identidade em três vias: através
das instituições dominantes da sociedade (identidade legitimadora),
através dos atores sociais marginalizados socialmente (identidade de
resistência) e através da construção de uma nova identidade por estes
indivíduos (identidade de projeto). Ressalta-se ainda a existência de
uma dinâmica entre estas identidades, como por exemplo, identidades que
se iniciam em resistência podem resultar em um projeto. Para entender a
prática desta resistência podemos nos reportar a Augusto Oliveira, que
acredita na diferenciação entre o “eu” e o “outro”, quando os
Tupinambá de Olivença, se utilizam da própria denominação de Caboclo,
para legitimarem sua identidade diferenciada e de resistência(OLIVEIRA,2003p.11).
Oliveira ainda acrescenta que os índios de Olivença criaram uma
identidade de projeto a partir do estabelecimento das fronteiras étnicas.
Pelo
caráter de resistência e através da definição de Castells sobre
movimentos sociais identitários, podemos caracterizar o movimento
Tupinambá como um deles. Portanto, podemos legitimar desde já as
reivindicações da Nação Tupinambá (como se autodenominam) como
pertencentes ao que se chama de “movimento social”.
Tradição,
Mídia e Identidade
Observando
a necessidade dos Tupinambás de recorrerem e incorporarem elementos
anteriores ao seu próprio tempo e vivência e a se “vestirem e pintarem
como índios”, nos fazem entender o que John B.Thompson esclarece como
causa de retorno a tradição, que funcionaria como material simbólico
preexistente, fonte de identidade.
Após
definir tradição através de quatro aspectos – o normativo, hermenêutico,
legitimador e identificador – afirma que “em outros aspectos, contudo,
a tradição retém a sua importância no mundo moderno, particularmente
como um meio de dar sentido ao mundo (aspecto hermenêutico) e de criar um
sentido de pertença (aspecto identificador)” (THOMPSON, 1998 p.165).
Observar
as escolhas dos índios Tupinambás significa enxergar o tradicional
escolhido e construído em suas representações, como elementos
identificadores de seu mundo.
Thompson
investigou também a interferência da mídia na visão de “tradição”:
Antes
do desenvolvimento da mídia, a compreensão que muitas pessoas tinham do
passado e do mundo além de seus imediatos ambientes era modelada
principalmente pelo conteúdo simbólico intercambiado em relações face
a face. Para a maioria das pessoas, a noção do passado, do mundo além
dos seus locais imediatos e de suas comunidades, das quais foram parte,
era constituída principalmente através das tradições orais que foram
produzidas e reproduzidas nos contextos sociais da vida cotidiana. Com o
desenvolvimento da mídia, contudo, os indivíduos puderam experimentar
eventos, observar outros e, em geral, conhecer mundos – tanto reais
quanto imaginários – situados muito além da esfera de seus encontros
diários. (THOMPSON, 1998, p.159).
Se
por um lado, o desenvolvimento dos meios de comunicação facilita o declínio
da autoridade da tradição, por outro, as novas mídias possibilitam
experiências com realidades distintas, excedendo as limitações de tempo
e de espaço. O autor nos fala sobre a relação ambivalente entre mídia
e tradição em que “os meios de comunicação podem ser usados não
somente para desafiar e enfraquecer os valores e crenças tradicionais,
mas também para expandir e consolidar tradições”.(THOMPSON, 1998.
p172)
Antes
de se adentrar em tal reflexão, propõe-se as seguintes questões: qual a
natureza real da tradição? Que tradição é esta? Mutável e construída
durante o tempo?As interferências das mediações nas tradições
existem. A princípio, é apontado o fato de os suportes em que as tradições
são mediadas (fixadas) “dotam este conteúdo de uma permanência
temporal”. Thompson relaciona-o a desritualização da tradição, pois
“a manutenção da tradição no tempo se tornou menos dependente de uma
reconstituição ritualizada”. Ou seja, é necessário perceber como a
possibilidade de manter algo tratado como tradicional fixo em um suporte,
o mantém cravado na história. É inegável, entretanto, que uma tradição
para manter-se ainda precise da ritualização, como por exemplo, da
oralidade existente.
Outro
ponto apontado por Thompson é o referente à mudança na autoridade da
tradição que constitui-se da despersonalização, ou melhor, a
autoridade de tradição vai se distanciando dos indivíduos com quem se
interage nos contextos práticos da vida cotidiana.
Assim,
a relação entre espaço e tradição é modificada através da mídia.
As tradições através do uso dos meios de comunicação desvinculam-se
dos espaços dentro dos quais os indivíduos viviam. O elo mantido pela
limitação espacial já não existe, logo que “as tradições foram
sendo paulatinamente deslocadas à medida que se tornaram mais e mais
dependentes da formas mediadas de comunicação para sua manutenção e
transmissão de uma geração para outra.” (THOMPSON, 1998 p.173)
Desta
forma, Thompson nomeia e define a “nova ancoragem da tradição” sendo
a libertação da tradição dos limites espaciais e temporais. A comunicação
“face a face” foi ultrapassada, e a partir deste dezenraizamento da
tradição houve a sua reimplantação de contextos práticos, ocorrendo
assim a invenção da tradição, com formação de
novas tradições em diferentes contextos práticos.