Ano I - Nº 01 - Maio de 2001 - Bimensal - Maringá - PR - Brasil - ISSN 1519.6178

 

Reflexões sobre um modelo de universidade

 

Marcos Cipriano da Silva *

É difícil abordar  um assunto tão abrangente como  universidade que, segundo WANDERLEY, “é um lugar - mas não só ela - privilegiado para conhecer a cultura universal e as várias ciências, para criar e divulgar o saber, mas deve buscar uma identidade própria e uma adequação à realidade nacional” (1988, p. 15). Poderia, ainda, citar MARCOVITCH , onde coloca o motivo da existência da universidade dizendo que: “ela é o melhor lugar possível para uma enriquecedora transição da adolescência para a juventude e, depois, para a idade adulta” (1998, p. 23) e completa: "A universidade tem ainda o papel de formar a cidadania. Cabe-lhe, e talvez seja essa a sua principal função, desenvolver a inquietude do ser social"(1998, p. 23).

Estas definições representam em si a essência da universidade a grosso modo, porém elas representariam realmente o momento histórico-econômico que elas estão passando, onde cortes de verbas, orçamentos escassos, equipamentos ultrapassados e condições de trabalho deficitárias, fazem parte do dia a dia?

É difícil responder a essa questão, uma vez que as leituras consultadas nos dão uma visão global de universidade, e por vezes, de um otimismo até utópico. Por que pensar assim? Parto do seguinte pressuposto, que sendo a universidade um local onde se reúne uma demanda de idéias, ideologias  e pensamentos os mais diferentes, seria lógico procurar me associar com aqueles que tem pensamentos e idéias parecidas com as minhas, principalmente em momentos de crise, começando então a formação de grupos que provavelmente defenderão seus ideais, e a partir disto, estará plantada a semente para que a universidade deixe de ter seu caráter global, criando-se linhas divisórias entre professores, acadêmicos e sociedade, passando a ser uma estrutura meramente política para formação de conchavos e cárteis, onde os interesses de uns sobrepõe os interesses de outros, onde a burocracia e os métodos de controle passam a emperrar e encobrir o que realmente se propõe a universidade, formar cidadãos críticos e participativos, dando sua contribuição para melhorar as condições sociais do meio em que se vive; ser dinâmica e estar atenta as transformações que a cerca, e ser o espaço da assimilação espiritual e da digestão intelectual do saber (BERCHEM, 1990).   Então o que fazer para suplantar as idéias individualistas e egoístas tão presentes em nosso meio hoje? Como unir todas essas ansiedades latentes em torno de um objetivo coletivo?

De acordo com SPERANDIO (1997) e BERCHEM (1990) concorda com ele, a resposta estará na interdisciplinaridade, que é a capacidade de diálogo entre cientistas, provenientes de horizontes diversos trabalhando sobre um tema comum. E cada um contribuindo com sua metodologia específica de sua matéria. E esta capacidade de compreender os outros, e através disto, se questionar será fator determinante na adoção desse sistema, que terá  impacto significativo na estrutura acadêmica, e seus efeitos se alastrarão sobre os cursos de graduação e pós-graduação, pesquisa e extensão. Entretanto, para isto acontecer será necessário repensar os programas pedagógicos dos cursos, as relações professor/aluno, um novo enfoque para a relações universidade e sociedade sobre uma perspectiva mais dinâmica e participativa, enfim uma maior integração em todos os âmbitos, mas o principal, a universidade estará contribuindo para a formação de indivíduos polivalentes com uma visão global, rompendo de vez com a cultura fragmentada. Para tanto ela terá que abandonar a forma tradicional de ensino, pesquisa e extensão, além de vencer os obstáculos daqueles que se recusam a aceitar inovações e preferem o conformismo. Para finalizar, faço uso das palavras de SPERANDIO (1997), "se a instituição universitária não começar a pensar de forma interdisciplinar, ela estará de costas para o futuro" (p. 51).

* Graduado em Administração na Universidade Estadual de Maringá

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Bibliografia

BERCHEM, Theodor. A missão das universidades na formação e no desenvolvimento culturais: a diversidade dentro da universalidade. Cadernos Plurais (Série Universidade – I). Rio de Janeiro: Editora da UERJ, setembro, 1990.

MARCOVITCH, Jacques. A universidade (im)possível. São Paulo: Futura, 1998.

SPERANDIO, Décio. Administração universitária: a educação numa visão interdiciplinar. Caderno de Administração, Maringá/Pr, v. 3, n. 1, p. 49-51, ago. 1997.

WANDERLEY, Luiz Eduardo W. O que é universidade? São Paulo: Editora Brasiliense. 9. ed. – Coleção Primeiros Passos, 1988.