Ano I - Nº 01 - Maio de 2001 - Bimensal - Maringá - PR - Brasil - ISSN 1519.6178

 

Alusão à Filosofia

 

Jocelino José [*]

 

Resumo:
Filosofia, é de origem grega e significa literalmente amigo do saber – philos (amigo) + sophia (sabedoria). Toda Filosofia tem em vista o uso do saber em-prol do homem. Sendo assim não seria, absurdo indagar sobre a origem deste saber. Que pode ser revelado pelo transcendente ao homem ou  produzido pelo homem, utilizando-se da razão. Toda a filosofia tem a finalidade de promover a vida: seja a salvação no mundo transcendente do físico; seja a felicidade desse mundo dos fenômenos.

Hoje há quem a firme que a filosofia é um tema vasto, por isso é indeterminada e, portanto, podemos tratá-la sob os mais diferentes pontos de vista e mesmo assim atingiremos algo certo. Quanto ao termo, FILOSOFIA, é de origem grega e significa literalmente amigo do saber – philos (amigo) + sophia (sabedoria). Existe uma narrativa de que o termo foi inventado pelo grande gênio Pitágora [1]: certa vez, ouvindo alguém chamá-lo de sábio e considerando este nome muito elevado para si mesmo, pediu que o chamasse simplesmente de filósofo, isto é, amigo do saber. Porém, hoje em dia, já não se aceita tal narrativa.Ao nosso ver, toda Filosofia tem em vista o bem do homem - se elas promovem, tal bem, é questionável e não trataremos neste texto sobre essa questão. É já em Platão que encontramos esta idéia. Segundo ele filosofia é o uso do saber em proveito do homem. Platão declara que de nada nos serviria uma ciência que nos tornasse imortal se não soubéssemos, da imortalidade, nos servir e assim por diante. Por isso precisamos da filosofia, pois é nela que coincide o fazer e o saber valer-se daquilo que se faz. [2] Na República, Platão afirma: "alem disso, será o único – o filósofo – que juntará à experiência a reflexão ". [3]

Se é verdade que a filosofia é uso do saber em favor da vida humana não seria, portanto, absurdo indagar-nos: qual a origem desse saber? Essa questão nos leva a duas resposta e definem dois polos do pensamento: um tipo estabelece a origem do saber como algo revelado pelo transcendente ao homem e, um outro, estabelece a origem do saber como algo produzido pelo homem, utilizando-se da ratio (razão).

O primeiro tipo – o saber como uma iluminação transcendental – pelo fato de apresentar uma iluminação transcendental não é acessível ao mortal comum, mas é um privilégio para um ou alguns homens (seita, casta, igreja). Esta interpretação da origem do saber apresenta a crença, a qual é ditada pelo próprio transcendente, de que seu uso deve estar em benefício dos homens – neste caso a salvação. Todavia, essa interpretação parece eliminar o trabalho filosófico, mas não acontece na prática. Ao contrario, a filosofia encontra um vasto campo:

1) na necessidade de tornar a verdade revelada compreensível, para o comum homens;

2) de adaptá-la as circunstancias e de fazer com que ela atenda aos problemas novos;

3) de defendê-la de negações, desvios, incredulidades declaradas. No entanto, o trabalho filosófico encontra na revelação e na tradição limites, que o proibi de desenvolver-se. Em outras palavras o trabalho filosófico torna-se subordinado aquilo que a verdade revelada determina.

Essa subordinação da filosofia numa verdade revelada nos faz duvidar se é possível considerá-la como filosofia. No entanto encontramos esse tipo de filosofia, ainda que nenhuma apresente com rigorismo os caracteres que foram expostos, no mundo ocidental e, pelo que afirmam, é comum no oriente. Tais filosofias atribuem a si mesmas a tarefa de interpreta as crenças, as quais não podem ser postas em dúvida e nem ser corrigidas ou negadas. Como exemplos, desse tipo de filosofia no ocidente, podemos citar: Doutrinas de Fílon de Alexandria ( séc. I d.C.) a Patrística, a escolástica, a Direita hegeliana e boa parte do espiritualismo contemporâneo. – as quais servem-se da filosofia para a defesa e ilustração de uma verdade religiosa.

O segundo tipo – o saber como produção do homem – tem por fundamento o homem como animal racional e que portanto, como diz Aristóteles: “Todos os homens, por natureza, desejam conhecer [4]. Nesse sentido o saber não é um privilégio de poucos e que qualquer um pode contribuir na sua construção, aprová-lo ou rejeitá-lo. Todos têm voz ativa, isto é, o direito de negá-lo. Aqui, a busca e a organização do saber é a tarefa da filosofia. Como exemplos podemos citar: estruturalista, existencialista, materialista e outros.

Nesta, segunda conotação, a filosofia é uma criação dos homens e inicia-se com gregos. Ela opõe-se à opinião, ao preconceito – que para os gregos é a tradição – a crença infundada. Platão- na República - esclarece o conceito de filosofia:

“Por conseguinte, dos que contemplam a multiplicidade de coisas belas, sem verem a beleza em si.... nem verem a justiça, e tudo da mesma maneira – desses, diremos que têm opiniões sobre tudo, mas não conhecem nada daquilo sobre que as emitem....Logo, não os ofenderemos de alguma maneira chamando-lhes amigos da opinião.....Por conseguinte, devemos chamar amigos da sabedoria, e não amigo da opinião, aos que se dedicam ao Ser em si” [5]

Seguindo Platão a filosofia, como busca da sabedoria, é vista como algo oposto à ignorância. A ignorância é a ilusão de ter posse da sabedoria e destroi, definitivamente, qualquer tentativa de pesquisa (de busca) pelo saber. A filosofia, enquanto pesquisa, diz Platão é a aquisição [6]; para os Estóicos o esforço [7]; para os Epicuristas atividade [8]. Em Heráclito somos forçados a entende que a pesquisa é algo (extremamente) necessário na filosofia: “é necessário que os homens filósofos sejam bons pesquisadores de muitas coisas” . [9]

Portanto, a esses dois pólos do pensamento leva-nos, como afirmamos, a idéia de que a filosofia é o saber que esta em-prol da humanidade (e porque não dizer a favor da vida em geral?) seja filosofia revelada pelo transcendente, seja filosofia produzida pela razão humana. E sem dúvida, o uso do saber e toda a filosofia tem por objeto responder as grandes preocupações humana e sua finalidade, não poderia ser diferente, é de promover a vida: seja a salvação no mundo transcendente do físico; seja a felicidade desse mundo dos fenômenos.

[*] Acadêmcio do Instituto de Filosofia Arquidiocesano de Maringá (IFAMA)

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Notas:

1 - Afirma-se, com base em testemunhos, que Pitágoras nasceu, em Samos, a maio ou menos 731 a.C. O auge de sua vida, deve situar-se em torno de 532 ou 531 a. C., e a sua morte nos primeiros anos do século V. Parece que de Samos ele passou à Itália, na cidade de Crotona. Nesta fundou uma escola, e alcançou grande sucesso, dado que a mensagem pitagórica continha uma nova concepção de vida de tipo místico e ascético.

2- (Eutidemo, 288 e 290 d).

3 - Platão: A República. (582d, 4-5). Tradução: Maria Helena. Fundação Calouste Gulbenkian, 1949.

4 - Aristóteles: Metafísica. (A, 980a, 21). Tradução: Leonel Vallandro. Editora Globo – Porto Alegre, 1969.

5 - Platão: A República. (V, 479e, 1 – 480a). Tradução: Maria Helena. Fundação Calouste Gulbenkian, 1949.

6 - Eutidemo, 288d

7 -Sexto Empírico, adv. Math., IX, 13

8 - Ibid., XI, 169

9 - Heráclito. Fragmento 35  (Diels-Kranz) – Geovanni Reale: História da Filosofia Antiga: vol. I