Ano I - Nº 01 - Maio de 2001 - Bimensal - Maringá - PR - Brasil - ISSN 1519.6178
Análise do
filme A Letra Escarlate
1666. A Inglaterra se encontrava
sob o domínio do rei Carlos II. Navios apinhados de gente aportavam a todo
o momento no Novo Mundo. Pessoas vinham em busca de liberdade, fugindo da
perseguição religiosa da terra natal
[1]
. É sob esse momento histórico-cultural que
se passa o filme A Letra Escarlate
[2]
que mostra em detalhes a situação da mulher na sociedade
vigente.
A chegada de Hester Prynne deu-se normalmente. Desembarcara em Massachussetts
Bay Colony com sonhos de uma vida melhor. O marido ficara para trás, viria
mais tarde. A ela cabia a tarefa de organizar todo o necessário para a estadia
do casal naquele lugar. Mulher determinada, forte, destemida, moderna. Com
essas características, a senhora Prynne chocava a sociedade local. Não se
preocupava em esconder a cabeça ou o colo. Possuía conhecimento “de homem”,
argumentava com qualquer um que tentasse impor-lhe regras descabidas. Essas
atitudes escandalizavam os outros moradores da pequena cidade que olhavam-na
com reprovação. As mulheres dessa época não apenas aceitavam as condições
de sujeição a que estavam sendo submetidas como procuravam manter essa relação,
discriminando qualquer outro tipo de comportamento. Os homens pensavam que
uma mulher liberada que chocava a sociedade por pensar por conta própria,
só poderia ser alguém sem respeito, vista apenas como objeto de prazer sexual.
Essa atitude masculina pode ser exemplificada na cena em que um dos homens
respeitados da sociedade tenta beijar a força a personagem principal interprestada
por Demi Moore.
Dessa maneira, não precisou de muito tempo para que Hester percebesse que
o Novo Mundo não era tão diferente do Velho. As pessoas que ali chegaram,
trouxeram consigo todos os antigos preconceitos e regras. O Estado e a religião
confundiam-se. A intolerância parecia coisa natural. Havia um conflito entre
homens brancos e índios. As autoridades políticas e religiosas aguardavam
um sinal de Deus para tomar uma atitude. Hester Prynne deu-lhes o que precisavam.
Assim, seu “pecado
[3]
” tornou-se a principal razão dos males que assolavam
a sociedade o que justificou atitudes de discriminação, preconceito, injustiça
e intolerância.
Como vimos em A Letra Escarlate, havia todo um contexto que corroborava para
a discriminação da mulher nos séculos passados. Romper com esse paradigma
foi algo muito valoroso e demandou muito tempo. Hoje, na sociedade ocidental,
usufruímos direitos e deveres que nos garantem a igualdade. Mulheres, como
a personagem Hester Prynne e muitas outras não identificadas mas reais,
pagaram um preço alto para isso. Porém, ainda há Estados laicos, como alguns
países muçulmanos, cujo tratamento dado às mulheres em muito se assemelha
ao exemplificado no filme. Pode-se ver, então, que a luta das mulheres ainda
não acabou. Há, ainda, muito por fazer.
* Acadêmica do Curso de Comunicação Social - Universidade Salgado de Oliveira (Recife - PE)
[1]
Edward Clarendon foi
nomeado chefe dos ministros, restaurou a supremacia da Igreja na Inglaterra
e os dissidentes presbiterianos ingleses e escoceses foram perseguidos.
(Enciclopédia® Microsoft® Encarta 2001.
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[2]
Hollywood Pictures. The Escarlet Letter,
direção de Roland Joffé, produção de Andrew G. Viajna,, roteiro de Douglas
Day Stewart. 1995.
[3]
Hester apaixona-se pelo Reverendo Arthur
Dimmesdale. O navio que trazia seu marido sofre um ataque dos índios que
seqüestram o Sr. Roger Prynne. Acreditando na morte de Roger, Hester e Arthur
entregam-se à paixão que os consumia. Grávida e sem marido, a Sra. Prynne
é presa e obrigada a usar uma letra vermelha estampada no peito como símbolo
do pecado.