Ano I - Nº 01 - Maio de 2001 - Bimensal - Maringá - PR - Brasil - ISSN 1519.6178
Dicotomia entre o ensino público e privado: mitos e realidade
Daniele Gervazoni Delanheze*
Muito se tem discutido sobre a relação entre o sistema educacional e a distribuição da renda e da riqueza no Brasil, todavia, o tema apresenta pontos controvertidos que conduzem a uma polêmica ainda maior: a dicotomia entre ensino superior público e privado.
A maioria dos estudiosos, sobremaneira, os economistas, defendem a tese de que o sistema educacional reflete as desigualdades sócio-econômicas. Para eles, a renda e a riqueza são quem possibilita o ingresso ao sistema educacional de qualidade pois à medida que a demanda de ensino superior supera a oferta de ensino superior de boa qualidade e gratuito, passa a existir a necessidade de um ensino 1º e 2º que satisfaçam as exigências para o ingresso nas universidades públicas com oferta limitada de vagas; assim, o ensino superior que atende a demanda de alta renda é totalmente subsidiado.
A revista Veja, em publicação feita no mês de março, sob o título “Campeões do Provão” procurou desmistificar certas conclusões sobre o sistema de ensino, bem como, atualizar dados tidos como obsoletos. Para tanto, pautou-se em pesquisa realizada com 250.000 estudantes que concluíram a universidade no ano passado, dentre as conclusões que contrariam não só o senso comum, como também os pesquisadores, têm-se:
“Estudantes mais pobres de universidades públicas têm melhor desempenho que os alunos mais ricos de escolas particulares.”Contudo, os estudiosos de outrora, estavam corretos no tocante a ser a universidade pública melhor que a privada, tese respaldada pelo provão, em que 16 dos 18 melhores colocados estavam em universidades públicas; tem-se ainda, que só 22% das instituições privadas alcançaram conceitos A e B no provão, contra 60% das instituições públicas federais, e 40% das estaduais;
“Ao contrário do que se pensa, os estudantes mais ricos não estão tirando vagas de alunos pobres nas universidades mantidas pelo poder público. Esses universitários mais abonados em geral freqüentam escolas privadas.” Esta assertiva, contudo, apresenta letal erroneidade quando se trata de cursos tidos por elitistas, em que a baixa renda obsta o ingresso de muitos;
“A maior parte dos estudantes universitários brasileiros é composta de pessoas cujos pais não freqüentaram cursos superiores.” Constata-se, daí ,que cada vez mais pessoas vêem na educação uma possibilidade de ascensão social e quebra do círculo vicioso da pobreza. Tem-se como dado ratificador que entre 1994 e 2000, o números de matrículas nas universidades aumentou 40% , alcançando 2,7 milhões. As escolas particulares são as propulsoras deste processo, visando atender a demanda por ensino superior;
“Metade dos universitários completou o ensino médio em escola pública.” Esta conclusão destrói, o esteriótipo de que o ensino médio público é totalmente incompetente e inapto a propiciar o ingresso ao ensino superior também público; salvo as especificidades dos cursos mais concorridos."
Desse modo, o crescente aumento na demanda de universidades , por pessoas de baixa renda, faz crer que o sistema educacional vem sendo encarado como propulsor econômico-social.
* Acadêmica 3º ano Direito – Universidade Estadual de Maringá
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ALVES, Denisard C. de Oliveira. Manual de economia da USP: Educação, desenvolvimento econômico e distribuição de renda: a experiência brasileira. 1998
GOMES, Beto; SCHELP,
Diogo; COUTINHO, Leonardo; BAUCHWITZ, Nahara. Revista Veja:
Campeões do Provão. Edição 1692, Ed. Abril, SP, 21 março de 2001.