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       Ano 
        I - Nº 04 - Maio de 2002 - Quadrimestral - Maringá - PR - Brasil - ISSN 
        1519.6178 
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       Resumo:  O presente texto 
        pretende ser mais uma explanação de algumas reflexões do filósofo T. W. 
        Adorno (1903-1969) acerca da Indústria 
        Cultural vigente no século XX.  Palavras-chave: Adorno, indústria cultural, ideologia, 
        razão técnica, arte.  | 
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               A Indústria Cultural impede a formação de indivíduos autônomos, independentes, 
              capazes de julgar e de decidir conscientemente. 
              
              [2] 
              
              Com as 
              palavras do próprio Adorno, podemos compreender o porque das suas 
              reflexões acerca desse tema.  Theodor Wiesengrund-Adorno, em 
              parceria com outros filósofos contemporâneos, estão inseridos num 
              trabalho muito árduo: pensar filosoficamente a realidade vigente. 
              A realidade em que vivia estava sofrendo várias transformações, 
              principalmente, na dimensão econômica. O Comércio tinha se fortalecido 
              após as revoluções industriais, ocorridas na Europa e, com isso, 
              o Capitalismo havia se fortalecido definitivamente, principalmente, 
              com as novas descobertas cientificas e, conseqüentemente, com o 
              avanço tecnológico. O homem havia perdido a sua autonomia. Em conseqüência 
              disso, a humanidade estava cada vez mais se tornando desumanizada. 
              Em outras palavras, poderíamos dizer que o nosso caro filósofo contemplava 
              uma geração de homens doentes, talvez gravemente. O domínio da razão 
              humana, que no Iluminismo era como uma doutrina, passou a dar lugar 
              para o domínio da razão técnica.  
              Os valores humanos haviam sido deixados de lado em troca 
              do interesse econômico. O que passou a reger a sociedade foi a lei 
              do mercado, e com isso, quem conseguisse acompanhar esse ritmo e 
              essa ideologia de vida, talvez, conseguiria sobreviver; aquele que 
              não conseguisse acompanhar esse ritmo e essa ideologia de vida ficava 
              a mercê dos dias e do tempo, isto é, seria jogado à margem da sociedade. 
              Nessa corrida pelo ter, nasce o individualismo, que, segundo o nosso 
              filósofo, é o fruto de toda essa Indústria 
              Cultural. Segundo Adorno, na Indústria Cultural, tudo se torna negócio. 
              Enquanto negócios, seus fins 
              comerciais são realizados por meio de sistemática e programada exploração 
              de bens considerados culturais. 
              
              [3] 
              
               Um exemplo disso, dirá ele, é o cinema. O 
              que antes era um mecanismo de lazer, ou seja, uma arte, agora se 
              tornou um meio eficaz de manipulação. Portanto, podemos dizer que 
              a Indústria Cultural traz 
              consigo todos os elementos característicos do mundo industrial moderno 
              e nele exerce um papel especifico, qual seja, o de portadora da 
              ideologia dominante, a qual outorga sentido a todo o sistema.  É importante salientar que, para 
              Adorno, o homem, nessa Indústria 
              Cultural, não passa de mero instrumento de trabalho e de consumo, 
              ou seja, objeto. O homem é tão bem manipulado e ideologizado que 
              até mesmo o seu lazer se torna uma extensão do trabalho. Portanto, 
              o homem ganha um coração-máquina. Tudo que ele fará, fará segundo 
              o seu coração-máquina, isto é, segundo a ideologia dominante. A 
              Indústria Cultura, que 
              tem com guia a racionalidade técnica esclarecida, prepara as mentes 
              para um esquematismo que é oferecido pela indústria da cultura – 
              que aparece para os seus usuários como um “conselho de quem entende”. 
              O consumidor não precisa se dar ao trabalho de pensar, é só escolher. 
              É a lógica do clichê. Esquemas prontos que podem ser empregados 
              indiscriminadamente só tendo como única condição a aplicação ao 
              fim a que se destinam. Nada escapa a voracidade da Indústria Cultural. Toda vida torna-se 
              replicante. Dizem os autores: 
 Fica claro portanto a grande intenção 
            da Indústria Cultural: obscurecer 
            a percepção de todas as pessoas, principalmente, daqueles que são 
            formadores de opinião. Ela é a própria ideologia.  Os valores passam a ser regidos por ela. Até mesmo a felicidade 
            do individuo é influenciada e condicionada por essa cultura. Na Dialética do Esclarecimento, Adorno e Horkheimer 
            exemplificam este fato através do episódio das Sereias da epopéia 
            homérica. Ulisses preocupado com o encantamento produzido pelo canto 
            das sereias tampa com cera os ouvidos da tripulação de sua nau. Ao 
            mesmo tempo, o comandante Ulisses, ordena que o amarrem ao mastro 
            para que, mesmo ouvindo o cântico sedutor, possa enfrentá-lo sem sucumbir 
            à tentação das sereias. Assim, a respeito de Ulisses, dizem os autores: 
        
 
 É importante frisar que a grande 
              força da Indústria Cultural 
              se verifica em proporcionar ao homem necessidades. Mas, não aquelas 
              necessidades básicas para se viver dignamente (casa, comida, lazer, 
              educação, e assim por diante) e, sim, as necessidades do sistema 
              vigente (consumir incessantemente). Com isso, o consumidor viverá 
              sempre insatisfeito, querendo, constantemente, consumir e o campo 
              de consumo se torna cada vez maior. Tal dominação, como diz Max 
              Jimeenez, comentador de Adorno, tem sua mola motora no desejo de 
              posse constantemente renovado pelo progresso técnico e científico, 
              e sabiamente controlado pela Indústria 
              Cultural. Nesse sentido, o universo social, além de configurar-se 
              como um universo de “coisas” constituiria um espaço hermeticamente 
              fechado. E, assim, todas as tentativas de se livrar desse engodo 
              estão condenadas ao fracasso. Mas, a visão “pessimista” da realidade 
              é passada pela ideologia dominando, e não por Adorno. Para ele, 
              existe uma saída, e esta, encontra-se na própria cultura do homem: 
              a limitação do sistema e a estética.  Na Teoria Estética, obra que Adorno 
              tentará explanar seus pensamentos sobre a salvação do homem, dirá 
              ele que não adiante combater o mal com o próprio mal. Exemplo disso, 
              ocorreram no nazismo e em outras guerras. Segundo ele, a antítese 
              mais viável da sociedade selvagem é a arte. A arte, para ele, é 
              que liberta o homem das amarras dos sistemas e o coloca com um ser 
              autônomo, e, portanto, um ser humano. Enquanto para a Indústria 
              Cultural o homem é mero objeto de trabalho e consumo, na arte 
              é um ser livre para pensar, sentir e agir. A arte é como se fosse 
              algo perfeito diante da realidade imperfeita. Além disso, para Adorno, 
              a Indústria Cultural não 
              pode ser pensada de maneira absoluta: ela possui uma origem histórica 
              e, portanto,  pode desaparecer. Por fim, podemos dizer que Adorno 
              foi um filósofo que conseguiu interpretar o mundo em que viveu, 
              sem cair num pessimismo. Ele pôde vivenciar e apreender as amarras 
              da ideologia vigente, encontrando dentro dela o próprio antídoto: 
              a arte e a limitação da própria Indústria Cultural. Portanto, os remédios 
              contra as imperfeições humanas estão inseridos na própria história 
              da humanidade. É preciso que esses remédios cheguem a consciência 
              de todos (a filosofia tem essa finalidade), pois, 
              só assim, é que conseguiremos um mundo humano e sadio. 
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