Ano I - Nº 03 - Dezembro de 2001 -
Quadrimestral - Maringá - PR - Brasil - ISSN 1519.6178
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O descaso político Daniel Ribeiro da Silva*
Existe, atualmente, um grande preconceito com relação à política.
Uns falam que sobre política, não se discute; outros dizem que, a
política é somente um mecanismo de se crescer economicamente; há outros
que acreditam que política é sinônimo de algo ruim; e têm, também,
aqueles que nem pensam sobre política, por achar que é perda de tempo.
Mas, por que existe tanto conceito mal formado com relação à política?
Será a educação que falha neste sentido? Ou, será a forma que nos
apresenta a política atual?
Para não cairmos, também, num conceito errado de política, é preciso que voltemos a sua origem, isto é, aos antigos. Aristóteles dirá, por exemplo, que a política é a ciência que visa o bem comum dos cidadãos. Pois, segundo ele, ela nasce da necessidade de se ter leis que organizem as atitudes das pessoas perante o público e o privado, e todo aquele que exerce esse poder, exerce em função de todos os cidadãos, e terá o tempo integral para trabalhar em função disto. Por isso, devera ser quem conhece as leis e tenha condições de colocá-las em pratica. Trazendo isso para os dias de hoje, perceberemos algumas semelhanças e algumas diferenças. A primeira grande semelhança está relacionada ao tempo que o individuo, que tem um poder político, dispõe para trabalhar. e, também, um tempo integral. A diferença está na maneira de se trabalhar. São também, na maioria das vezes, homens que conhecem as leis, mas, nem sempre as põem em pratica.
Tomemos dois exemplos, aparentemente sem ligação, mas que podem nos auxiliar a compreender o descaso político: o caso da “fome” e o caso do “apagão”. Vivemos em um país tão grande, capaz de se sustentar tranqüilamente, e ainda existem pessoas morrendo por não ter o que comer. São cidadãos com os mesmos direitos e deveres. Porém, os seus deveres são cobrados, mas os seus direitos, nem sempre, são lembrados. Onde estão aqueles que assumiram o compromisso de organizar a sociedade, e organizar, como disse, Aristóteles, é proporcionar a felicidade para cada cidadão? Será que estão pensando em como resolver esse problema, ou como utilizá-lo para, na próxima eleição, serem eleitos?
No outro exemplo, o caso do “apagão”, o governo ao invés de se preocupar com o bem-estar dos cidadãos, preocupou-se em permanecer submisso ao FMI, ou seja, acatando as ordens com relação ao “déficit publico”, e com isso, deixou de lado os investimentos em áreas de serviços a população acarretando um abandono da política energética, causando tudo isso que estamos assistindo de camarote. Mas, com certeza, as maiores conseqüências virão com o tempo, como: a queda da produção com o aumento do desemprego. Sem dizer que tudo implica numa falta de respeito a todos os direitos dos cidadãos, contido na constituição.
Nos dois exemplos vemos o que acontece quando o poder político
se volta aos interresse de um grupo deixando os direitos dos cidadãos
“pra escanteio”. Sem falar que, com isso, encontramos algumas respostas
com relação às perguntas feitas no início do nosso trabalho.
Mas esses dois exemplos nos despertam para outros problemas: o que noos, cidadãos, devemos fazer para mudar esse panorama? Será que, realmente, o poder corrompe o homem? Para tentar resolver esses problemas, basear-me-ei naquele que me inspirou a pensar os problemas políticos atuais, que foi o mestre Aristóteles.
Primeiramente, devemos fazer o que estamos fazendo: discutindo a política. Sem querer subestimar o caro leitor, mas já subestimando, discutir neste caso significa questionar, ou melhor, ir a raiz do problema, procurar as causas. Durante a discussão, percebera-se-a que as dúvidas vão sendo sanadas, e, conseqüentemente, o conhecimento enriquecido. Existem várias maneiras de discutir sobre o assunto. Pode ser verbalmente em reuniões, encontros, salas de aula, ou por escrito em jornais, revistas (a revista Urutagua é um desses espaços) e outros meios de comunicação. Afinal, o importante é colocar as questões humanas, neste caso, a política, no centro das discussões.
Para que isso torne um hábito entre as pessoas, é preciso,
segundo Aristóteles, educá-lo. Para ele, é a educação que torna o
homem virtuoso, apto a pensar nas questões fundamentais do homem.
Segundo ele, a virtude já estaa no homem, e a educação iira
fazer o papel de extrair dele, isto é, colocar em prática essa virtude
no seu dia-a-dia. Além do costume de praticar o bem, a educação terá
a incumbência de exercitar a dimensão racional, ou seja, proporcionar
a consciência dos seus atos. Portanto, a educação tem uma função importantíssima
na caminha do homem. E, digo mais, a educação, como afirma
Aristóteles, é responsabilidade do Estado.
Mas, alguém poderia me dizer: concordo com o que tu dizes,
mas a realidade não permite que isso aconteça, pois, ao invés de estudar
o individuo precisa trabalhar para não morrer de fome. Sem dizer que
existe um grande meio para se manipular as pessoas, dizendo como agir
e no que pensar. Em partes, eu concordaria com meu interlocutor,
em partes não. Dizer que a ideologia atual é forte, isso é verdade.
Mas, ser pessimista, isso não.
Confesso que não sei como mudar a situação, estando nela.
Mas, como já disse, sou otimista e proponho um ideal político, mesmo
que seja um ideal pensado a mais de dois mil anos, para juntos, eu
com o meu ideal, e você, com o seu ideal, pensarmos em como mudar
o real. Pois, se conseguirmos, pelo menos, acabar com
o descaso do diálogo político, já estaremos dando um grande passo.
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