Ano I - Nº 02 - Julho de 2001 - Bimensal - Maringá - PR - Brasil - ISSN 1519.6178

 

O assédio moral, a microviolênica do cotidiano – notas sobre o protofascismo  invisível*

Raymundo de Lima**

 

     "O que não me mata me fortalece"   (F. Nietzsche)

     "O inferno são os outros" ( J.-P. Sartre)

 

O recente projeto de lei que tipifica o assédio sexual, no Brasil, deixa escapar outro tipo de assédio mais abrangente e mais perigoso para a saúde mental da população: o assédio moral.

Lançado na França em 1998 e no Brasil, pela Ed. Bertrand Brasil, 2000, o livro da psicanalista francesa  Marie-France Hirigoyen, "Assédio moral: a violência perversa no cotidiano", não é de auto-ajuda, mas nos leva a abrirmos os olhos para com pessoas, grupos e instituições perversas que no mínimo tramam para tirar o nosso tapete. O livro não estimula a paranóia, mas situa o assédio moral dentro da estrutura perversa, que anda a solta por aí ganhando os espaços sociais e atazanando a vida da maioria da população.

O assédio moral, por definição, é um tipo particular de abuso de poder que acontece de modo sofisticado e sutil de uma pessoa sobre outra, tomada como vítima. O assediador moral ou "perverso narcisista" (sic!) pratica compulsivamente a "conduta abusiva, manifestando-se sobretudo por comportamentos, palavras, atos, gestos, escritos que possam trazer dano a personalidade, à dignidade ou à integridade física ou psíquica de uma pessoa". (HIRIGOYEN, 2000: p.65) Noutras palavras, é quando alguém em posição de poder (patrão, chefe, professor, médico, psicoterapeuta, etc.) usa de palavras e/ou ações ambíguas (pouco claras de sentido, sutis) que não são imediatamente percebidas como sendo agressivas ou destrutivas, porque outras mensagens , emitidas simultaneamente com elas se confundem e, por isso mesmo, terminam por atingir o moral, a auto-estima e a segurança de outrem. A vítima indefesa, introjeta em seu psiquismo esse "veneno", causando-lhe efeitos que vão desde a dúvida sobre sua competência, sentir-se magoada consigo, até podendo disparar uma depressão já latente. Há casos comprovados de suicídios em que houve assédio moral.

O conceito é oportuno nesses tempos pós-modernos, de traço narcísico-individualista que vivemos, pois procura abranger as microviolências ou violências invisíveis do cotidiano que sofremos quer com pessoas, quer com grupos e na convivência intra institucional. Observo por minha conta que, se no jogo entre as classes sociais existe a ideologia dominante, no jogo microssocial (que compreende pessoas e grupos investidos de poder versus os despossuídos do mesmo) é que tende a acontecer o assédio moral. Desse modo, um chefe no trabalho poderia abusar da posição hierárquica para com seu subalterno, um graduado das forças armadas com um menos graduado, um médico pode cometer assédio moral com seu cliente e com funcionários, um professor (que tem o poder de saber e de controle de turma, das notas, etc.) poderia estar cometendo assédio moral com um aluno ou a turma toda. Até um psicoterapeuta  de estrutura perversa poderia abusar da fragilidade de seu cliente, com intervenções que em vez de melhorá-lo psiquicamente o faz piorar na sua condição clinica.

O assédio moral é calculado e dirigido pelo agressor que deseja destruir outra pessoa de modo limpo, isto é, "sem que haja uma gota de sangue ou um gesto mais brutal" a tal ponto de terminar por provocar um verdadeiro "assassinato psíquico"(sic!), sem que os que estão ao seu lado sequer percebam. Quando o assédio moral acontece no trabalho, poderá causar danos a vítima, tais como: colocar em perigo seu emprego, desqualificá-lo, degradá-lo de seu título, etc. Por exemplo, um funcionário, antes acostumado a almoçar com colegas, se vê isolado na mesa, comendo sozinho. Antes, chamavam-no para jogar futebol, agora "esquecem" de chamá-lo. Há poucos dias, pertencia a um grupo de trabalho, agora os membros desse grupo não mais fala com ele e, nem ele sabe qual o motivo desse afastamento.

Escolas, universidades e institutos, ao mesmo tempo que são reconhecidos por serem centros de excelência de ensino e de pesquisa, também tendem ser ambientes carregados de situações perversas com pessoas e grupos que fazem verdadeiros plantões de assédio moral. Com uma vantagem adicional: são ainda mais sofisticados nos atos de violência invisível, cuidando-se ao máximo para causar dano ao colega sem deixar pista. Por exemplo, um professor universitário (A. A.) da Unicamp, revelou  que vinha sendo desmoralizado por colegas (mestres e doutores) por ter elaborado uma teoria que ia contra o que os colegas pregavam. Um dos opositores chegou a chamar os alunos de A., um por um, e os advertiu de que se aceitassem aquela teoria, poderia prejudicá-los no futuro. [Vejam como nesse caso, o ato perverso imprime na metacomunicação ser "bom", o que Sizek (1990) chamou de "moral cínica". Os assediadores morais, às vezes deixam escapar pistas ao dizer que: "não é nada pessoal", ou que "faço assim para o bem de todos", etc]. Mas, continuando, A. passou a ser visto com reservas dentro do departamento; pedidos de bolsa foram recusados. "Eu fiquei tão deprimido com a rejeição que até pensei em deixar a carreira científica", desabafou à revista Isto é (n.1554, 14/07/99).

Assédio moral e fascismo

Muitos ainda pensam o fascismo somente como um regime de Estado. Debatido numa mesa-redonda em 1980, o psicanalista Narcilo Mello Teixeira (1980), declarou que o fascismo não é perigoso apenas quando se torna fascismo de Estado, mas,  também quando é praticado nas violências invisíveis e sem sangue que acontecem no dia a dia. Como ninguém quer assumir os seus atos fascistas, o principal mecanismo utilizado é a denegação. Alguém que se auto-engana ser bom, ético, sente o horror quando se desmascara fascista. Os atos fascistas têm origem numa estrutura perversa. Como tal, ao recusar ver o outro como ser, denigre-o em coisa. Preocupado com a ascensão do fascismo na Europa, denominado de "nova direita", o pensador e semiólogo italiano, Umberto Eco [1] , propôs em 14 pontos que aprendêssemos a identificar os sinais de "protofascismo" na nossa sociedade. Em primeiro lugar, reconhecer que sintomas protofascistas no discurso contemporâneo pouco tem a ver com o nazismo. Por exemplo, enquanto o antigo nazismo, porque esse último tem uma teoria do racismo, tem uma filosofia da vontade de poder e do Ubermensch (Superhomem), o fascismo não tem teoria, só retórica e ação pela ação. No fascismo, diz Eco, "não há luta pela vida mas vida pela luta". Ou seja, o gozo individual e patológico do fascismo se realiza no seu estado permanente de beligerância e intolerância. Segundo, o protofascismo pode ser facilmente reconhecido e sentido naquelas atitudes calculadas para gerar ansiedades persecutórias nos indivíduos. Terceiro, o ato protofascista independe de coloração política. Pode ter desde inspiração nazista, mas também pode estar  presente em atitudes políticas que se dizem anarquistas, democráticas e até mesmo as socialistas, ecológicas, etc. Observa-se que o fascismo na contemporaneidade se sofistica em microviolências no cotidiano, tal como nos diversos casos de abuso do moral alheio "sem aparecimento de sangue" mas, que poder chegar a fazer  violência explícita traumática ou sangrenta, bastará apenas que o momento histórico facilite a sua expressão. Uma comparação rápida ilustra a extensão danosa de um nazista skinhead e um intelectual de bons modos. Um skinhead ao cometer atos brutais de coisificação de um determinado grupo cultural humano, comparado a um indivíduo bem preparado de conhecimentos e bem situado socialmente, mas incapaz de dialetizar idéias e de convivência com as diferenças humanas, ao usar o instrumento do assédio moral pode causar mais dano psíquico  que o skinhead. Os perversos narcísicos morais e os normóticos, que Roberto Crema considera "esclerosados no pensamento", causam mais destruição psíquica  que as pessoas despreparadas ou psiquicamente doentes.

Em resumo, segundo a autora, os traços marcantes do assédio moral são: a) um ato perverso contra o outro; b) visa atingí-lo no ponto em que a vítima se destaca e mais sofreria; c) sua intenção velada é destruir a pessoa, começando por  miná-lo no seu moral e na sua estrutura psíquica; d) o "homicida psíquico" cuida em não deixar pistas de sua violência, isto é, a vítima fica impossibilitada de reagir a violência sofrida, quer porque fica presa a dúvidas, quer porque sente um temor reverencial pelo assediador; e) Sua situação se agrava quando não se sente apoiada pelas pessoas que ela compartilha sobre o perigo vivido. Essas pessoas costumam não acreditar no relato da vítima, pensam ser exagero, paranóia, ou que ela fez por merecer. Se a vítima recorre a uma psicoterapia ou análise que tem por princípio clínico descartar o que é fato social e hipervalorizar o intrapsíquico, certamente vai responsabilizar a própria vítima pela situação e, obviamente, tenderá a piorar o seu estado psíquico.  Maria Helena Kühner, pergunta nas "orelhas" do livro: "quantas pessoas já foram assim aniquiladas, quantas estão sendo moral e psiquicamente destruídas por assédio moral?"

O livro de Hirigoyen é quase um manual para reconhecermos e prevenirmos nossa saúde mental e social nas várias situações e contatos humanos que obrigatoriamente temos que passar no dia-a-dia. Apesar de psicanalista, a autora não desenvolveu a pesquisa tomando o caminho psicanalíticamente correto, mas sim o de vitimóloga. Esclarece que: "A Vitimologia é uma disciplina recente nos Estados Unidos, e inicialmente era apenas mais um ramo da criminologia. Ela consiste na análise das razões que levam um indivíduo a tornar-se vítima, dos processos de vitimização, das consequências que isso traz para ele e dos direitos que pode reivindicar. Na França, existe formação para esta especialidade desde 1994, levando a um diploma universitário. Esta formação destina-se aos médicos de emergência, aos psiquiatras e psicoterapeutas, aos juristas, bem como a todas e qualquer pessoa que tenha como responsabilidade profissional a ajudar as vítimas". Como já sinalizei, acima, a autora faz um alerta: se essas vítimas estão em análise há uma tendência de alguns analistas que só levam em consideração o intrapsíquico, não levar em conta toda a situação real ou acontecida. Só interpretar até que ponto elas próprias foram responsáveis pela agressão que sofreram, até que ponto inclusive a desejaram, mesmo inconscientemente, poderia estar piorando a situação de abalo psíquico do paciente. O perigo vai mais além de simples alienação da realidade objetiva dos fatos pelo profissional, "pode acontecer que, com sua hesitação em nomear o agressor e o agredido, reforcem a culpa na vítima e, com isso, agravem seu processo de destruição". Assim, considera a autora que os métodos psicoterápicos clássicos não seriam suficientementes para ajudar a vítima de assédio moral.   

Concluíndo...

Penso que, a autora ao criticar a psicanálise acerta no varejo mas não no atacado. Primeiro, é ponto sabido entre psicanalistas que a psicanálise não é uma técnica apropriada para tratar de estruturas perversas, ou mesmo em ambientes em que o traço da perversão predomina. Por exemplo, nas penitenciárias não realizam psicanálise genuína. Segundo, Freud, muito pouco se interessou pela perversão (sexual ou moral) salvo quando precisou fazer contraponto com as neuroses. O mesmo desinteresse ele tinha com as psicoses. Sua obra como um todo e sua clínica tem as neuroses seu solo principal de investigação ou análise. Quando apareceu C. G. Jung (1906-8), Freud, manteve a expectativa desse psiquiatra suíço levar a psicanálise "para além do gueto judeu e do campo das neuroses". Terceiro, seria oportuno observar que a autora  dirige suas críticas a um tipo particular de psicanálise que preferiu ficar alienada da coisa social. É a psicanálise influenciada pelo cientificismo, que até hoje faz o corte epistemologicamente dogmático: só ouvir o intrapsíquico e acreditar estar fazendo interpretações "objetivas" [2] . Essa é a psicanálise dos cosultórios  de classe média e alta, das formações caríssimas que criaram um "baronato da psicanálise" no Brasil, denunciado nos anos 70 por Hélio Pellegrino, Eduardo Mascarenhas e Wilson Chebabi, enfim, uma psicanálise que nunca teve interesse em ir aonde o povo está, conforme verso musicado de Milton Nascimento. Essa clínica analítica que fez opção pelos ricos, teve que se alienar tanto do social desfavorecido como do compromisso de fazer uma crítica à ideologia dominante presente em nosso cotidiano através das influencias da mídia, no individualismo, no consumismo, do academicismo, etc.

Dando esse desconto a autora, ainda assim, é um excelente livro pela novidade do tema e os fartos exemplos que apresenta. Na minha opinião, a obra vai mais como um instrumento de apoio para fazermos exercícios da suspeita quanto ao campo psicossocial, que pela estruturação epistemológica enquanto corpo teórico. As vezes, as colocações teóricas aparecem um tanto repetidas no decorrer da leitura da obra, mas, terminamos sendo recompensados  pelos inúmeros exemplos e dados, que no mínimo leva qualquer leitor a fazer sua própria identificação. Trata-se de uma obra cujo valor reside na promoção da saúde mental. Só para lembrar, uma pesquisa inglesa aponta que 61% das queixas de estresse no país devem-se a: chefias incompetentes, assédio moral e pressão. Na Inglaterra, doenças do trabalho provocadas por assédio moral causam prejuízos equivalentes a 24 bilhões de reais por ano (Isto é, 14/7/99).

 Oxalá, que uma obra como essa não só diminua o estresse em nossos locais de trabalho, mas pode efetivamente ajudar a transformar as "ralações humanas" em autênticas relações humanas em casa, na rua e no trabalho.

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Abaixo, seguem algumas situações de assédio moral:

Nas situações mais amplas da sociedade:

"Você é uma nulidade". A vítima, se já não anda bem com sua auto-estima, poderá introjetar mais esse dado. "É mesmo, eu sou nulidade" e, vai-se anulando realmente. Estratégias desse tipo, alerta a autora, são destinadas a rebaixar o outro para ele se enaltecer. Noutras palavras. "para manter a cabeça fora d'água ela tem que afundar o outro" (p. 120).

em relação às mulheres, são inúmeras situações apontadas pela autora:

uma garota bonita que sai com um homem mais velho é uma puta;

uma mulher exigente vira uma mal-amada;

uma apresentadora de televisão famosa forçosamente dormiu com todo mundo para chegar a este posto;

uma colega de trabalho bem-sucedida deve ter "passado por alguma cama". (p.120)

nas diversas situações entre pessoas em que há "vampirismo psíquico"

em forma de racismo: exemplo "crioulo parado é suspeito, correndo é culpado", assim está gravado nas paredes de muitas escolas de política" (CHAUÍ, 1984: p. 228)

em forma de "vampirismo emocional" (A. Bernstein) ou "vampirismo psíquico" (S. Karangulla). Também, nos estados de "transe grupal" ou "efeito de grupo (J. Wood), popularmente conhecido como "caça às bruxas".

Na política

No recente episódio político que envolveu o procurador Joaquim Francisco e o senador Antonio Carlos Magalhães. O casal de colegas do procurador,  no depoimento, colocou o procurador Francisco em posição de ridículo perante a opinião pública. Sua honestidade e paixão de "passar o país a limpo" terminou  fazendo vítima de assédio moral no perigoso jogo político do planalto. Por trás de todo episódio, o senador ACM foi quem saiu vitorioso, pois nada foi tecnicamente comprovado contra ele, em que pese que ninguém nesse país o ache santo.     

No trabalho:

denegrir ou ridicularizar um colega diante dos outros, ex: "Fulano é muito bom profissional, pena que é gay..."

debochar de seus pontos fracos

fazer alusões desabonadoras a seu respeito, sem nunca explicitá-las.

pôr em dúvida sua capacidade de avaliação, de decisão.

EM REUNIÕES DE EMPRESA, DE CONDOMÍNIO, DE ESCOLA OU UNIVERSIDADE, ETC. É relativamente fácil identificar um perverso narcisista  (ou assediador moral)  em locais de trabalho. Seu estilo de ser, as vezes silenciosa outras sendo inconveniente, cria uma atmosfera ruim nas reuniões, impedindo o seu natural avanço, por vezes fazendo-a arrastar-se para além do tempo necessário ou causando uma discussão inútil e vazia de conteúdo. Uma vez terminada a reunião ou dia de trabalho,  a maioria se sentirá exausta e atomatizada a estar "ligada" às coisinhas da reunião ou do trabalho. No entanto, o perverso narcisista, continua "ligado" e "energizado", maquinando uma forma de  retaliar, de vingar-se de alguém ou do grupo. OBS:  Não se trata de alguém de estrutura psicótica paranóica, nem de histéricos (teatrais, que "latem e não mordem". O perverso moral não late e morde sem sangrar. Por exemplo, faz de um colega  - as vezes, um amigo de antes- uma vítima. Nega sua existência em palavras, ou meias-palavras, alusões, insinuações e atos, até finalmente causar efeitos de destruição da vítima.

O perverso narcisista é aquele que lança dúvidas sobre a competência, a moral, a idoneidade de alguém que tem boa imagem no social.

Quando o chefe confia à vítima tarefas inúteis ou degradantes, estaria cometendo um abuso moral. A autora conta o caso de uma pessoa com título de Mestrado que foi incumbida de colar selos em local de trabalho exíguo e mal ventilado (p. 80).

Por falar nisso, qual estagiário de nível superior não foi vítima dos colegas mais antigos ou do chefe, de ter que organizar arquivos da empresa?

Em casal:

Quando um casal vive uma situação em que os papéis não estão definidos. Um não sabe qual é o posicionamento do outro na relação. Costuma ser um relacionamento limite que "não ata nem desata" e deixa um sem saber qual é o seu papel na vida do outro. Um deles, ao tomar consciência e se vendo como vítima, pensa : "que sou para ele, já  que não sou sua mulher, nem sua noiva, nem sua namorada ?" (p. 25).

Na ficção de Cristiane de Rocheford, O repouso do Guerreiro (Ed. Abril), teorizado pelo psicanalista José Bleger, em Simbiose e ambigüidade (Ed. F. Alves), além da simbiose vivida pelo casal, ele é o assediador moral da personagem, sua vítima.

Na escola:

A professora diz a um menino, seu aluno: "Você é um menino inteligente, apesar de ser negro".

Jane Elliott, a professora americana que inventou um ousado projeto para eliminar o preconceito racial, que virou documentário, "Olhos azuis",  chama atenção nas dinâmicas de grupos que os negros nos Estados Unidos, desde pequenos até quando idosos são tratados de "boy", isto é, "garoto", "moleque", pelos brancos racistas. Esse tratamento só tende a minar a auto-estima dos negros desde criancinhas; força-nos a sentirem-se infantis sempre, nada responsáveis e pouco capazes como cidadãos.

Na universidade:

Professores que prestavam serviços em outro departamento "x", na mesma universidade, foram vítimas de assédio moral quando trabalhando normalmente, sem nenhum motivo ou comunicado oficial, ficaram sabendo pela imprensa da cidade que esse departamento "x" tinham aberto concurso para seleção de professores daquela disciplina. Finalmente, a seleção aconteceu, outros  professores foram contratados e jamais os professores, nem o departamento a que pertenciam foram comunicados de tal decisão do outro departamento. Portanto, esse é mais um exemplo de assédio moral entre departamentos numa instituição.

Sobre a prevenção do assédio moral:

"O assédio se instala quando o diálogo é impossível e a palavra daquele que é agredido não consegue fazer-se ouvir. Prevenir é, portanto, reintroduzir o diálogo e uma comunicação verdadeira"(p. 200).

Psicólogos e psiquiatras treinados em vitimologia, poderão ensinar as vítimas a "metacomunicar", isto é, a comunicar sobre a comunicação, a fim de eles saibam intervir antes que o processo se instale, fazendo dar nome ao que no outro irrita o agressor, fazendo-o "ouvir" o ressentimento de sua vítima.



*         Trabalho apresentado no II Encontro de Psicologia Social "Subjetividade e ação", promovido pela Associação Brasileira de Psicologia Social, em 26/ 05/ 2001, em Maringá, Pr. Texto base para matéria jornalística escrito pela jornalista Ariana Zahdi, de "O diário do norte do Paraná", Maringá, de 27/05/2001. Também texto base para debate na TV cidade, em Maringá, em 29/jun/2001.

** Professor do DFE-UEM (Área de Metodologia e Técnica de Pesquisa) e membro da BFC-Centro de Psicanálise, de Curitiba.

 

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[1] ECO, U. A nebulosa fascista. In: Folha de S. Paulo-Mais!, 14/05/95.
[2] Observo que esse modo de operar clinicamente a psicanálise, parece querer compensar sua alienação com excessos de interpretações (interpretoses),as vezes tão ridículas que fazem rir os alunos em formação nas universidades e o próprio paciente diante do seu analista.

 

Referências bibliográficas:
CHAUÍ, M. O que é repressão sexual. SP.: Brasilense, 1984, p. 228
ECO, U. A nebulosa fascista. In: Folha de S. Paulo – Mais!, 14/05/95.
HIRIGOYEN, M.-F. (2000) Assédio moral: a violência no cotidiano. Rio de Janeiro: B. Brasil,
SIZEK, S. (1990) Eles não sabem o que fazem. O sublime objeto da ideologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
TEIXEIRA, N. M  e outros. (1980) Psicanálise e fascismo. In: Psicanálise e política. PUC-Rio.