MARIA LUIZA ALMEIDA CUNHA DE CASTRO
Mestre em teoria da arquitetura e urbanismo (UFMG),
doutoranda em desenvolvimento sustentável (NAEA/UFPA), professora assistente
cursos de Arquitetura e Urbanismo e Design de Interiores- UFU
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A
metodologia de redes como instrumento de compreensão do capital social
Maria Luiza Almeida Cunha de Castro
Resumo:
Este artigo destaca a importância do
estudo das redes sociais para o desenvolvimento do capital social. A
seção inicial apresenta os fundamentos de ambos os conceitos,
relevando a forma pela qual a metodologia de redes contempla os dois
pólos teóricos do capital social: o primeiro, que enfatiza o
benefício das redes sociais para o indivíduo; e o segundo, que
aborda o benefício para o grupo. Desenvolvida para permitir a
geração de indicadores capazes de explicar a estrutura de rede tanto
em seu conjunto como individualmente, a metodologia de redes produz
conhecimento a respeito da qualidade do capital social,
possibilitando a construção de estratégias para reforçá-lo. As
últimas seções procuram demonstrar a maneira pela qual a Teoria da
informação fornece argumentos matemáticos para a comprovação da
eficiência das redes, afirmando o potencial destas enquanto
instrumento de reforço ao capital social, na construção do
desenvolvimento regional.
Palavras-chave: Capital social.
Metodologia de Redes. Teoria da Informação
The network
methodology as an instrument for understanding social capital
Abstract:
This paper stresses
the importance of the studies of social networks for the development
of social capital. The initial section presents the fundaments of
the studies of both concepts, emphasizing the means by which the
methodology of networks contemplates the two theoretical poles of
social capital: the one which deals with the benefits that social
networks bring to the individual; and the one that focuses on the
benefits for the group. Developed in order to help generate
indicators able to explain the network structure in its whole as
well as individually, the methodology of networks produces knowledge
with respect to the quality of social capital, providing information
for the construction of strategies to reinforce it. The last
sections aim at explaining the means by which Information theory
supplies mathematical support for demonstrating network efficiency,
stating its potential as an instrument for reinforcing social
capital in the construction of regional development.
Key words:
Social Capital, Methodology of Social Networks, Theory of
information |
Considerações iniciais
Segundo Abromovay, (2003), a constatação de que a existência de redes
sociais é “uma fonte decisiva de geração de riqueza”, foi é considerada
“uma das mais importantes descobertas da economia nos últimos anos” (p
14).
O segredo está no fortalecimento dos vínculos localizados que
permitem a ampliação da confiança e, portanto, o alargamento do
próprio círculo de negócios dos atores sociais (...). A novidade é a
ênfase na dimensão subjetiva – organizacional, referente à confiança
- da própria identidade social dos atores, pela qual se define o
território: mais que um simples conjunto de atributos objetivos de
distância e localização, o território consiste exatamente numa trama
de relações, de significados, de conteúdos vividos pelos indivíduos,
que permite a construção de modelos mentais partilhados subjacentes
ao sentimento de pertencer a um lugar comum (ABROMOVAY, 2003, p 14).
O estudo das relações sociais através das redes data do início do século
XX; entretanto, o método para seu estudo sistemático com base na álgebra
linear, sob forma de representação matricial só foi desenvolvido a
partir dos anos 1940 e foi sendo aprimorado na medida em que se
desenvolveram computadores e softwares para o tratamento de grandes
bases de dados (MARTELETO, SILVA, 2004).
A aplicação de conceitos da Teoria da informação ao contexto das redes
sociais oferece um suporte epistemológico para os questionamentos que
surgem quanto à eficiência das redes, contribuindo ainda para a análise
da relação que se estabelece entre os laços sociais e o seu potencial de
utilidade para alcançar determinados fins.
A teoria da informação tem origem no artigo de
Claude E. Shannon
“The Mathematical Theory of Communication”, que em 1948
propôs os fundamentos de uma teoria matemática com base na estatística,
para explicar processos de comunicação.
Assim, ela disponibiliza um recurso matemático que pode ser aplicado a
diversas situações complexas como as que ocorrem na área das ciências
sociais, às quais os métodos estatísticos tradicionais não se adequam.
Ela “[...] é capaz de expressar a interlocução que existe entre sistemas
ou entre partes identificáveis de um mesmo sistema, expressando dessa
forma, os níveis de organização ou o grau de estruturação dos mesmos”
(PONTE, VAN DYNE, 2000. p 47).
A reflexão com base na teoria da informação sobre a pesquisa das redes
sociais demonstra o potencial desta metodologia em reduzir as incertezas
e contribuir para o crescimento de cada ator da rede.
As redes sociais e o capital social
As redes sociais são estruturadas a partir do compartilhamento de
informações e dizem respeito a um conjunto de atores (que podem ser
indivíduos, organizações ou entidades) interligados por relacionamento
sociais, baseados seja na amizade seja em relações de trabalho ou outros
tipos de laços que permitam construir uma estrutura social (TOMAEL,
MARTELETO, 2006). A elaboração teórica de uma rede social permite
conhecer os canais e fluxos, uma vez que a observação
dos eventos no espaço estudado fornece informacões que alteram o
seu nível de previsibilidade: o conhecimento dos comportamentos e
relacionamentos entre os membros da rede constitui um código ordenador
que torna certas combinações possíveis em maior ou menor grau. O
conhecimento da rede também possibilita ações que venham a reforçá-la,
tais como a construção de elos faltantes ou mesmo uma reestruturação
maior, aumentado a probabilidade de que determinados eventos venham a
acontecer sob determinadas circunstâncias e permitindo um planejamento
mais eficaz e a efetiva transformação dos laços em capital social.
O conceito de capital social foi desenvolvido a partir dos anos 80, com
contribuições importantes de Bourdieu, Coleman, Putnam e outros.
Bourdieu (apud MARTELETO, SILVA, 2004) o define como “a soma dos
recursos reais ou potenciais ligados à possessão de uma rede duradoura
de relações de reconhecimento mútuo mais ou menos institucionalizados.”
Os campos sociais são o locus das manifestações de poder e se
estruturam “a partir da distribuição desigual de um quantum social que
determina a posição que cada agente específico ocupa em seus interior.
Bourdieu denomina este quantum de capital social” (p. 44).
Coleman (apud DURSTON, 2002) “afirma que os recursos sócio-estruturais
constituem para o indivíduo um ativo de capital e facilitam certas ações
dos indivíduos que estão nessa estrutura” (p. 19). Para ele,
O capital social é definido por sua função. Ele não é uma identidade
única, mas uma variedade de identidades, com dois elementos em
comum: todas elas consistem em algum aspecto de estruturas sociais e
elas facilitam certas ações dos atores - seja pessoas ou atores
corporativos_ dentro da estrutura (COLEMAN, 1998. p. S 98).
Putnam (1996) considera o capital social não só através de redes de
confiança entre iguais, mas também entre desiguais. Os elementos básicos
das organizações sociais seriam, além das redes, as atitudes de
confiança, a reciprocidade e as normas – formais ou não- que facilitam a
ação e a cooperação para benefício mútuo.
Diversos teóricos têm trabalhado com estas idéias aprofundando e
discutindo determinados aspectos. Nesta literatura, Nan Lin, (1999)
identifica duas perspectivas principais, calcadas seja na direção da
ênfase do beneficio para o indivíduo, seja na ênfase do beneficio para o
grupo. O primeiro enfoque se concentra na análise de como os indivíduos
lucram através de suas redes sociais, investindo nelas com expectativa
de retorno, lucro ou beneficio para si e tem raízes no pensamento de
Bourdieu. A outra posição focaliza o nível do grupo, analisando o
Capital Social como um ativo coletivo e tem respaldo nas colocações de
Coleman e Putnam.
Para Lin, a posição teórica de Bourdieu seria, dentro de certa medida,
uma elaboração das relações sociais na teoria marxista do capital: o
capital social seria, em última instância, uma nova forma de manter e
reproduzir a classe dominante, uma vez que consiste num processo segundo
o qual os indivíduos desta classe, através do reconhecimento e promoção
mútuos, reforçam e reproduzem o grupo privilegiado que controla as
diversas formas de capital - econômico, simbólico e cultural.
A outra visão, representada pelas elaborações de Coleman e Putnam, seria
uma extensão da visão de Durkheim, (apud VILA NOVA, 2004) que vê a
sociedade como “um sistema formado pela associação”, com uma
“consciência coletiva” (p. 78) Para estes autores os ativos coletivos
estão disponíveis para todos os membros do grupo, seja ele um grupo
social ou uma comunidade, independente de quais membros efetivamente
promovam, sustentem ou contribuam para tais recursos. São os membros
individuais que constroem o capital social e, neste caso, fatores tais
como as normas, a confiança, as sanções e a autoridade tornam-se
primordiais para a sua manutenção.
Entretanto, as discussões não se atêm a um ou outro nível e acabam
fluindo entre os dois, gerando interpretações epistemológicas
contraditórias (LIN, 1999, p.33). Adicionalmente, as polêmicas que
surgem questionando o caráter individual ou coletivo do ativo que o
capital social representa levam a sua confusão com outros bens
coletivos, na verdade distintos, tais como normas, cultura, confiança.
Lin contesta a visão de Coleman, que ele considera uma forma de
tautologia, quando este afirma que o capital social é definido por sua
função – e, consequentemente, por seus resultados. Apesar das restrições
teóricas de Lin, este enfoque é, entretanto, amplamente difundido e
utilizado. Considera-se que onde existe capital social, as sociedades
exploram melhor as oportunidades que se apresentam e tornam-se mais
fortes; as instituições funcionam melhor e as organizações tornam-se
mais eficientes. (FRANCO, 2001). O capital social é frequentemente
medido através da eficiência das instituições e organizações, da força
das ações coletivas.
Lin (1999) admite que haja uma possível relação causal, mas não concorda
com a aferição do nível de capital social através de suas conseqüências,
pois estas conseqüências podem advir de outros fatores, além do capital
social.
Assim, ele propõe uma definição ampla que remete o conceito aos recursos
contidos ou ancorados numa estrutura social, que podem ser acessados ou
mobilizados em ações com objetivos específicos. Por meio desta
definição, ele procura incluir elementos que façam um corte transversal
na análise, incluindo estrutura e ação, ao mesmo tempo em que enfatiza a
necessidade de compreensão dos processos, para uma interpretação
criteriosa de indicadores.
As redes sociais e a Teoria da informação
A eficiência do capital social advém basicamente de características que
de uma forma ou de outra estão ligadas à existência de laços sociais: o
acesso do indivíduo a recursos suplementares, o reforço da identidade e
reconhecimento mútuo através das relações sociais bem como a facilidade
do fluxo de informações (LIN, 1999).
As relações sociais possibilitam a construção de redes envolvendo
indivíduos, grupos, organizações, etc. (os chamados sujeitos sociais,
que são os “nós” das redes), a partir das conexões entre eles, que podem
se estabelecer por meio de “relacionamentos sociais, motivados pela
amizade e por relações de trabalho ou compartilhamento de informações” (TOMAEL,
MARTELETO, 2006, p. 75).
Assim, os laços sociais das redes exercem influência sobre agentes que
detêm o poder de decisão – o indivíduo tem acesso a recursos adicionais
ao seu capital pessoal, a partir de suas relações, numa espécie de
credencial social e, ainda, as relações reforçam a identidade e
reconhecimento mútuo, bem como o fluxo das informações.
O interesse pelos estudos de redes sociais está relacionado com o
desenvolvimento das pesquisas na área do capital social, pois fornece
uma ferramenta extremamente adaptada aos requisitos e características da
sociologia, para os quais os métodos estatísticos tradicionais não são
na maioria das vezes adequados.
A metodologia de rede social parte de dados qualitativos mais do que
quantitativos e foi desenvolvida para permitir a geração de indicadores
capazes de explicar a estrutura de rede tanto em seu conjunto como
individualmente (ALEJANDRO, NORMAN, 2005).
Para muitos autores trata-se de uma metodologia de análise de dados
relacionais que permite a captação de diversos fenômenos sociais que
se deseja estudar, segundo a teorização de uma área de conhecimentos
especifica, para outros trata-se de um novo paradigma de análise
estrutural. (...) Para outros é uma tentativa de se introduzir um
nível intermediário entre os enfoques micro e macro na análise da
realidade social, ou entre o indivíduo e a estrutura, nas principais
correntes da sociologia (MARTELETO, SILVA, 2004, p 42)
Esta característica possibilita contemplar e subsidiar os dois pólos
teóricos que, conforme já visto, Lin identificou no estudo do capital
social. “O nível de confiança e expectativa entre os indivíduos da rede
está relacionado com o capital social cognitivo e influencia a ação
coletiva do grupo” (MARTELETO, SILVA, 2006, p. 42): trata-se do foco no
seu uso pelos indivíduos, “a maneira pela qual eles têm acesso e usam
recursos ancorados nas redes sociais para obter retornos em ações
instrumentais (...) ou preservar ganhos em ações expressivas” (LIN,
1999, p. 32).
Por outro lado, “a participação em redes está associada ao capital
social estrutural” (MARTELETO, SILVA, 2006, p. 42): é o foco em seu uso
pelo grupo, que discute como determinados grupos desenvolvem ou mantém
maior ou menor quantidade de ativos coletivos e como tais ativos
melhoram as chances dos membros do grupo (LIN, 1999).
O fato da metodologia de redes se aplicar a um ou outro modelo teórico –
ou a ambos – fornece um instrumento valioso para os pesquisadores do
capital social, embora muitas vezes induza a confusões: se o capital
social é eficiente devido à existência de redes sociais, ele é,
entretanto mais do que relações sociais e redes. Ele inclui os recursos
contidos e acessados, ou seja, a utilidade dos laços existentes para os
fins desejados (LIN, 1999).
A metodologia permite identificar diversas interações e características
que são de fundamental importância para a compreensão das dinâmicas
sociais; ela se mostra imprescindível para qualquer tentativa de
orquestração do capital social, enfocando indicadores ligados a fatores
tais como o compartilhamento da informação, que inclui a centralidade da
informação, ou a existência de ligações fortes ou fracas.
As múltiplas intersecções entre capital social e redes evidenciam a
capacidade elucidativa e o potencial de desenvolver uma compreensão
sistêmica e abrangente que a metodologia de redes aporta.
Assim, fica evidente a estrutura de redes por trás do conceito de
capital social, que passa a ser definido como um recurso da
comunidade construído pelas suas redes de relações. A construção de
redes sociais e a conseqüente aquisição de capital social estão
condicionadas por fatores culturais políticos e sociais. Entender
sua constituição pode levar a sua utilização como mais um recurso em
favor do desenvolvimento e da inclusão social especialmente das
comunidades (...) (MARTELETO, SILVA, 2004, p. 44).
A Teoria da Informação fornece argumentos matemáticos para comprovação
da eficiência das redes: ela analisa o número de alternativas
necessárias “para definir [um] evento sem ambigüidades e as alternativas
que - na fonte – se apresentam como co-possíveis” (ECO, 1976 p. 13, 14).
A informação é a diminuição da incerteza, que por sua vez é inversamente
proporcional à probabilidade. “Quando entre dois eventos sabemos qual
deles irá acontecer, temos uma informação” (ECO, 1976. p. 10). Se a
nossa ignorância com relação à probabilidade de que um ou outro venha a
acontecer é total, então a probabilidade de que cada um deles ocorra é
de ½. Trata-se de uma situação de eqüiprobabilidade, onde a incerteza é
máxima. Com o aumento da quantidade de eventos equiprováveis, aumenta-se
também o número de informações necessárias para saber qual evento irá
ocorrer. Este número de informações pode se estabelecido através de uma
relação matemática logarítmica; por exemplo, em 64 eventos
equiprováveis, precisamos de uma quantidade de informações igual a log
2 64 = 6. Cada uma
destas “unidades de disjunção binária” é chamada de bit. Ou seja: para
saber qual dos 64 eventos deverá ocorrer, necessita-se de 6 unidades de
informação binária ou bits (ECO, 1976). Se existe uma informação que
leve à redução da quantidade de eventos equiprováveis, então o nível de
incerteza é reduzido: “introduz-se na situação de eqüiprobabilidade da
fonte um sistema de probabilidades” (ECO, 1976. p.14).
Na eqüiprobabilidade a incerteza é máxima, numa situação que os
teóricos da informação chamam de entropia, termo tomado emprestado da
termodinâmica, que é identificado com um estado de desordem.
A informação na fonte, como liberdade de escolha é extraordinária,
mas a possibilidade de transmitir essa informação possível,
individuando-se uma mensagem completa, torna-se bastante difícil
(...) é então que intervém a função ordenadora do código. (...)
Limitam-se as possibilidades de combinação entre os elementos em
jogo e o número dos elementos que constituem o repertório (ECO,
1976. p. 14).
Na medida em que é fornecida informação ao sistema, a incerteza diminui,
a possibilidade de transmitir a mensagem aumenta.
As redes sociais garantem a diminuição da incerteza de duas maneiras:
por intermédio da criação de canais pelos quais a informação pode fluir,
e através do conhecimento prévio destes canais - o que fornece
indicações sobre o caminho que a informação provavelmente vai percorrer
e sobre os “ruídos” a que ela estará sujeita (problemas de compreensão).
Assim, as redes sociais facilitam o fluxo das informações, uma vez que
se constituem em canais pelos quais elas circulam: o aumento do nível de
informação da rede diminui as assimetrias e permite uma melhor análise
das forças e fraquezas da empresa, oportunidades e riscos aos quais ela
está sujeita.
A disposição em compartilhar e o compartilhamento eficiente de
informação entre os atores de uma rede asseguram ganhos, porque cada
participante melhora, valendo-se das informações às quais passa a
ter acesso e que poderão reduzir as incertezas e promover o
crescimento mútuo. Segundo Yu Yan e Cheng (2001) cada ator tem muita
informação sobre sua situação, mas não tem informação sobre outras
situações. Para reduzir a incerteza e consolidar a parceria, os
atores precisam de mais informações confiáveis de seus parceiros.
Assim, todos ganham, porque cada ator vai construir alicerces e
desenvolver novas ações tendo como base as informações
compartilhadas (TOMAÉL, MARTELETO, 2006, p 75).
Por outro lado, a metodologia de redes mapeia os relacionamentos entre
os atores com base neste fluxo de informação, por meio de uma descrição
completa e rigorosa da estrutura de suas relações como ponto de partida
para a análise. Desta forma, a organização da estrutura em redes
funciona como um código pré-estabelecido cujo conhecimento aumenta a
previsibilidade de acontecimentos e reações, baseados num sistema de
expectativas que limita as contingências, gerando um decréscimo de
entropia.
Por estes motivos, dentro de uma organização em redes é maior a
probabilidade de se identificar problemas e oportunidades, estimar
parâmetros, encontrar soluções, planejar, selecionar e obter sucesso na
aplicação de políticas. As estruturas de rede podem mais facilmente
escanear o ambiente para detectar mudanças, melhor interpretá-las e
criar adaptações, através de uma capacidade de aprendizado coletivo, o
que leva as redes industriais altamente adaptáveis a serem designadas
como “regiões de aprendizado” ou “learning regions” (FOUNTAIN, s/d).
Segundo North (apud PUTNAN, 1996), a existência de redes de
relacionamento está intrinsecamente ligada à história e tradição de cada
local – e se elas não existem a tendência é que continuem a não existir:
Empregando o termo instituição em sentido amplo para designar as
regras do jogo numa sociedade, North assinala que os modelos
institucionais tendem a auto reforçar-se, mesmo quando são
socialmente ineficientes. Primeiro, quase sempre é mais fácil para
um agente individual adaptar-se às regras do jogo do que tentar
modificá-las (...); segundo, depois que o desenvolvimento toma
determinado rumo, a cultura organizacional, os costumes e os modelos
mentais do mundo social reforçam essa trajetória. (...) as regras
informais e a cultura não só mudam mais lentamente do que as regras
formais, como tendem a remodelá-las de modo que a imposição externa
de um conjunto comum de regras formais acarreta resultados
amplamente divergentes (p. 189).
Assim, a formação de capital social é um dos pontos mais sensíveis do
desenvolvimento local. Nos agrupamentos onde os níveis de interação são
baixos, a tendência natural é de que o capital social continue fraco – a
não ser que sejam aplicados esforços bem direcionados para romper a
inércia.
Seguindo o raciocínio de North, o aprendizado não vai acontecer
espontaneamente: se não houver uma preocupação metodológica que estimule
com maior ênfase a convivência, a cooperação, a civilidade, a
participação, e outras formas de interação positiva, não há
possibilidade de desenvolvimento de capital social. Desta forma,
torna-se imperativo gerar condições para que o aprendizado ocorra,
condições estas que devem ser controladas e planejadas de acordo com as
circunstâncias específicas de cada caso - e, neste sentido, a
metodologia de redes pode ser de valor inestimável.
Considerações finais
O capital social se estrutura sob a forma de redes e a discussão sobre
sua essência ganha argumentos através deste enfoque: diversas
controvérsias teóricas vão sendo resolvidas no campo empírico ao mesmo
tempo em que a construção e reelaboração permanente de conceitos
permitem uma busca consciente de ferramentas para as intervenções
práticas.
A possibilidade de implementação do desenvolvimento regional repousa na
criação de condições para uma institucionalidade baseada na cooperação e
na participação cívica, com base no desenvolvimento do capital social,
que estimule os processos de aprendizagem e de difusão da informação.
Dentro do contexto da Teoria da informação ficam comprovadas as
conclusões às quais as aplicações práticas da metodologia de redes têm
conduzido: elas permitem a identificação de tendências positivas a serem
reforçadas, elementos facilitadores, lacunas a serem preenchidas,
inovações possíveis, mudanças necessárias - e fornecem instrumentos
capazes de fornecer subsídios para nortear as políticas de forma
coerente.
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