1. Introdução
Em uma roda de Capoeira, existem alguns fundamentos e algumas
tradições que devem ser respeitadas por todos os capoeiristas que se prezem.
Em geral nos grupos de Capoeira, a roda se desenvolve da seguinte maneira:
chamada dos participantes, canto da ladainha,
neste momento dois jogadores abaixam-se ao pé do berimbau
ouvem atentamente a ladainha e ao sinal do cantador: - “Ieh à volta ao
mundo” saem para o jogo. Após os jogadores, dois a dois abaixam-se ao pé do
berimbau e saem para o jogo de angola, que é um jogo rasteiro, malicioso,
onde cada jogador observa atentamente os movimentos do outro como num
diálogo de perguntas e respostas.
Em seguida, sobe-se o ritmo,
são cantados cânticos denominados corridos. O jogo muda de forma sendo agora
mais rápido, mais ligeiro, onde cada jogador pode comprar
o jogo quando assim desejar, ou com o capoeirista que queira jogar. Após
vários jogos, é oportunizado aos formados
da roda, jogar no toque de Iuna
e para terminar um samba de roda para todos, inclusive para quem estiver
assistindo a roda como um momento de descontração, de integração e
sociabilidade.
Seguindo esta mesma linhagem de desenvolvimento, nossa
pesquisa começa como no jogo de angola, ouvindo atentamente a ladainha, que
se faz presente neste trabalho através das orientações de nosso orientador e
as revisões de literatura, que serviram de alicerce a nossa obra. Iniciando
o jogo com movimentos rasteiros estudando o camarada Capoeira, procuramos
analisar as relações construídas através da história entre a Capoeira e a
Educação Física brasileira e sua inserção na Universidade.
Dando seguimento ao jogo, procuramos analisar um novo
conceito metodológico para o trato com a Capoeira no ensino superior: a
práxis capoeirana, identificando propostas metodológicas fundamentais para a
construção do conhecimento em profissionais de Educação Física.
A metodologia de pesquisa utilizada foi do tipo qualitativa
descritiva, sendo o recolhimento das informações feitos através da revisão
de literatura. O pólo teórico foi ancorado em autores que discutem
elementos críticos acerca da Capoeira vinculados a área de Educação,
Educação Física e Ciências Sociais.
Enfim, o artigo teve como finalidade analisar os elementos
metodológicos formadores da Práxis Capoeirana para a construção do
conhecimento em profissionais de Educação Física, além de identificar na
Práxis Capoeirana uma nova metodologia no trato com a capoeira na formação
docente.
Capoeira e Educação Física: Construindo relações
As relações Capoeira e Educação Física, segundo Silva (2002)
começaram a ser construídas a partir do final do séc. XIX e inicio do séc.
XX. A Educação Física brasileira estava vinculada ao militarismo e as
propostas de higienização e eugenização da raça. A Educação Física
desempenhou um papel de controlador das classes subalternas, uma vez que a
ela coube a responsabilidade de disciplinarização dos corpos desejados pelo
sistema vigente (SILVA, 2002, p70).
Porém como nos relata Silva (2002) a população brasileira em
sua maioria, era formada por negros e índios. Começou então a ganhar força o
discurso nacionalista e da miscigenação, até com incentivos de imigrações
européias com o intuito de embranquecimento da raça brasileira como
qualidade da formação do povo brasileiro.
Essa política de embranquecimento da raça foi um
mecanismo lançado pelo governo que buscava equilibrar e fazer prevalecer na
população brasileira os descendentes de origem branca em detrimento daqueles
de origem negra (ex-escravos) [...] tinham como finalidade reforçar a
identidade brasileira com a classe dominante (SILVA, 2002, p.71).
Dentro desta concepção buscava-se também uma forma de
valorização da cultura nacional, de modo que esta pudesse se opor aos
métodos ginásticos europeus que predominavam na época, como o método
francês, sueco e alemão. Sendo assim a Capoeira passa a ser cogitada como
método ginástico nacional, mas não poderia ser aquela que era praticada
pelos estratos mais baixos da sociedade, com citação até no código penal.
Art. 402, dos vadios e Capoeiras instituía: Fazer nas ruas e
praças públicos exercícios de agilidade e destreza corporal, conhecido pela
denominação de Capoeiragem; andar em correrias, com armas, andar com
instrumentos capazes de produzir uma lesão corporal, provocando tumulto ou
desordens, ameaçando pessoas certas ou incertas, ou incutindo temor ou algum
mal. Pena: Prisão celular de dois a seis meses [...] (VIEIRA, 1998, p.93).
Aproximadamente em 1907, foi elaborado um trabalho cujo autor
assinava O.D.C (Ofereço, Dedico e Consagro a distinta
mocidade), com o título de Guia do Capoeira ou Gymnastica brazileira que
tinha por objetivos:
[...] levantar a gymnastica brazileira do abatimento que
jaez(ia), nivelando-a como singularidade pátria, ao socco inglez, a savatta
francesa, a lucta alemâ, às corridas e jogos tão decantados em outros paizes.
Nossa briosa mocidade hoje desconhece pela mor parte, os trabalhos e termos
da arte antiga, e por isso nós resolvemos publicar o presente guia(ODC apud
SILVA, 2002, p.70 )
Em 1928, Annibal Bulamarqui publica opúsculo Ginástica
Nacional (Capoeiragem) Methodizada e Regrada. Propôs a metodização da
Capoeira admitindo sua origem escrava, mas remeteu ao seu valor moral
utilizando o discurso nacionalista para justificá-lo com intuito de retirar
a Capoeira do rol das atividades clandestinas.
Aníbal Bulamarqui adotou o apelido de ZUMA porque segundo
Silva (2002) era a quarta parte de seu segundo nome e também para que se
diferenciasse seu método dos esportes comuns. No mesmo ano o escritor Coelho
Neto (1928) publicou o artigo “Nosso Jogo”, no qual apresenta uma proposta
de inclusão da capoeira nas escolas civis e militares, chamando a atenção
para a excelência desta como ginástica e estratégia de defesa individual.
E como era necessário dar a Capoeira uma nova roupagem, uma
nova imagem, nos remete uma reflexão sobre a criação da Capoeira regional
baiana pelo então Manoel dos Reis Machado. Antes da criação da luta
regional baiana havia apenas uma Capoeira, com o advento da regional
passou-se a adotar as seguintes nomenclaturas: Capoeira angola (a primeira e
tida por muitos capoeiristas como a Capoeira mãe) e Capoeira regional, a
recém criada.
Mestre Bimba, como era conhecido, metodizou e regrou a
prática da Capoeira regional, instituiu formaturas com diplomas, paraninfos,
patronos e madrinhas, abdicou o uso do atabaque, criou seqüências de ensino
e cursos de especialização. Atuou decisivamente na liberação da Capoeira em
1937 pelo então presidente Getulio Vargas. Agora, a Capoeira antes
marginalizada, era praticada em recintos fechados com métodos de
ensino/aprendizagem.
Criando uma sistematização ampla que inclui seqüências de
ensino, sistema hierárquico, regulamento para competições, normas de
comportamento do capoeirista dentro e fora da roda, Bimba operou o inicio do
contato da Capoeira com outras esferas sociais, além da periferia das
grandes cidades, recodificando os rituais nos moldes do ambiente político e
cultural da década de trinta. (VIEIRA, 1998, P 130)
Também foi considerado pela Secretaria de Educação,
Assistência e Saúde da Bahia Professor de Educação Física (VIEIRA, 1998
p,138). Aceitava em sua academia somente alunos que passavam por um teste de
aptidão física, o que ele mesmo chamou de teste de admissão. Seus
alunos eram estudantes universitários e trabalhadores “Mestre Bimba só
aceitava alunos que estudassem ou trabalhassem, devendo comprovar uma dessas
duas condições através da apresentação do respectivo documento, carteira de
trabalho ou estudante”. (VIEIRA, 1998, p145)
Em 1945 o Prof. Innezil Penna Marinho publica sua obra
intitulada “Subsídios para o estudo da metodologia do treinamento da
Capoeiragem”. Nesta época a Educação Física brasileira ainda trazia traços
do modelo militarista, embora o Brasil estivesse saindo de um regime
ditatorial e entrando em um regime democrático. A obras do Professor Marinho
propunha a prática da Capoeira a serviço da Educação Física, com idéia de
inserir a Capoeira como método de defesa pessoal, como já havia sido
cogitado por outros autores. (SILVA, 2002, p130)
A Capoeira foi reconhecida como esporte pela Confederação
Brasileira de Pugilismo (CBP), em 1972. Segundo Silva(2002) este
reconhecimento teve caráter de controle, pois passaria a seguir critérios
designados por aquele órgão. Mestre Falcão (2004) nos relata que o
regulamento da Capoeira editado em 1972 passou a vigorar em janeiro de 1973
e deixava evidente “... a pretensão dos seus executores, investidos de
autoridade delegada pelo Estado, de querer organizar e padronizar, através
de normas e regras e segundo critérios próprios, toda a prática da Capoeira
no território nacional”
Com isso a Capoeira agora esportivizada, se aproximou de
outras artes marciais, com uso de cordões (como usam faixas no Judô e no
Karatê) nas cores da bandeira brasileira. Com a vinculação de regras de um
esporte institucionalizado, a Capoeira teve participação nos Jogos
Estudantis Brasileiros (Jeb´s) a partir de 1985 (FALCÃO 2004, p.102) devido
à sugestão do diretor de Educação Física e Desportos Estudantis da Fundação
Educacional do Distrito Federal que se empolgara com a evidência dos
trabalhos realizados com programas de Capoeira daquela órgão. Nestes jogos a
Capoeira esteve presente de 1985 a 1991, retornou em 1994 e em 1996 deixou
de integrar os referidos jogos. (FALCÃO, 2002, p103).
A Capoeira desvinculou-se da CBP em 1992 com a criação da
Confederação Brasileira de Capoeira –CBC que se instituiu: Única Entidade
Nacional de Administração do Desporto da Capoeira em todo território
brasileiro. De acordo com Silva (2002) há uma nova aproximação entre a
Educação Física e a Capoeira, pois segundo a autora a CBC representa uma ala
conservadora da Capoeira que se aliou ao setor também conservador da
Educação Física.
No final da década de 90, através da lei 9696/98, foi
regulamentada a profissão de Educação Física e criava também os respectivos
conselhos: federal e regionais da classe: o sistema CONFEF/CREF’s. No
artigo 1º da resolução 046/02, especifica como uma das atribuições do
profissional de Educação Física a especialidade em “atividades físicas nas
diversas manifestações... inclusive a Capoeira”.
Esta ação causou uma enorme repercussão no meio capoeirístico,
pois muitos Mestres e Professores viram-se ameaçados e impedidos de
continuarem seus ofícios. Para amenizar a situação, o sistema CONFEF/CREF’s
instituiu um curso para os profissionais que já trabalhavam com
manifestações da cultura corporal antes da promulgação da lei 9696/98. Porém
para participação era necessário que o profissional atendesse algumas
exigências como reza os art 1º e 2º da resolução 045/02
Art.1º - O requerimento de
inscrição dos não graduados em curso superior de Educação Física, perante os
Conselhos Regionais de Educação Física - CREFs, em categoria PROVISIONADO,
far-se-á mediante o cumprimento integral e observância dos requisitos
solicitados.
Art. 2º - Deverá o requerente
apresentar comprovação oficial da atividade exercida, até a data do início
da vigência da Lei nº 9696/98, ocorrida com a publicação no Diário Oficial
da União (DOU), em 02 de Setembro de 1998, por prazo não inferior a 03
(três) anos, sendo que, a comprovação do exercício, se fará por:
I-carteira de trabalho, devidamente assinada; ou,
II - contrato de trabalho, devidamente
registrado em cartório; ou,
III - documento público oficial do exercício profissional;
ou,
IV - outros que venham a ser estabelecidos pelo CONFEF.
Após o curso estes profissionais receberiam a denominação de
provisionados e estariam habilitados a trabalharem nas suas respectivas
modalidades.
Da senzala á Universidade: a Capoeira no ensino superior.
O contato da Capoeira com o meio acadêmico se dá inicialmente
com Mestre Bimba e sua Capoeira regional. Como já dissemos anteriormente,
Mestre Bimba criou formaturas, cursos de especialização, seqüências de
ensino, ou seja, tudo aquilo que encontramos no ambiente universitário. Isto
foi facilitado devido ao contato que o mestre mantinha com os universitários
que freqüentavam suas aulas.
De acordo com Falcão (2004) a inserção da Capoeira no
currículo universitário aconteceu em 1971, através do programa de melhoria
do ensino nacional (PREMEM) da Faculdade de Educação da Universidade de
Federal da Bahia. Depois foi ofertada pela Universidade Estadual da
Guanabara (atual UERJ) como disciplina de práticas esportivas.
Em 1982 a Universidade Católica de Salvador introduziu a
Capoeira como disciplina obrigatória no curso de Educação Física. Atualmente
quinze instituições de nível superior oferecem a disciplina de forma
obrigatória e dez apresentam na forma optativa. Com exceção da UNICAMP, que
apresenta a disciplina Capoeira no curso de graduação em Dança, todas as
outras a oferecem em cursos de graduação em Educação Física (FALCÃO, 2004,
p. 193).
Em 1998, na Universidade Gama Filho surgiu o primeiro curso
superior de Capoeira com duração de dois anos. Segundo Falcão apenas duas
turmas concluíram o curso. Já em nível de especialização, a Universidade
Nacional de Brasília (UNB) realizou o primeiro curso de especialização em
“bases metodológicas e fisiológicas aplicados a Capoeira”. Outra iniciativa
de curso de especialização aconteceu em 2005 na Uniabreu sob
responsabilidade do Prof. Leonardo Mataruna e do Professor Ms. João Marcus
Perelli. Porém não temos maiores informações quanto à continuidade do curso
e/ou sua conclusão.
Como projeto de Extensão, Falcão (2004) nos relata que doze
Universidades Públicas e vinte e nove Universidades Privadas ofertam a
Capoeira neste molde. Segundo o Mestre, esta inserção da Capoeira em
projetos de extensão se dá através de grupos consolidados na comunidade
capoeirana que utilizam a Universidade para a ampliação de seus horizontes e
seus campos de trabalho. Muitos acabam deixando suas marcas, suas ideologias
e as ideologias de seus grupos, contribuindo para uma Capoeira na
Universidade e não para uma Capoeira da Universidade. Não é negar a inserção
dos grupos, trata-se de refletir o papel da Capoeira na construção do
conhecimento observando:
[...] princípios que regem uma instituição universitária que,
em geral, se pautam pela universalização e democratização de idéias, valores
e referências. A Universidade deve incorporar as demandas gestadas na
sociedade, atenta aos critérios de universalização e democratização, de modo
a evitar a construção de “igrejinhas” doutrinárias, de nichos, de guetos,
que não se questionam e nem permitem ser questionados (FALCAO, 2004, p 195)
Apesar da Capoeira está em
algumas Universidades públicas e privadas, seja como disciplina obrigatória
ou optativa e até mesmo como projetos de extensão, muitas Universidades
brasileiras ainda não contemplam a Capoeira em seus Currículos. Mesmo os
Parâmetros Curriculares Nacionais evidenciarem as lutas inclusive a capoeira
como um possível conteúdo para as aulas de educação física escolar. (PCN –EF,
1998, p 70).
Um novo conceito no trato com a Capoeira
Nenhum investimento econômico e social será mais
significativo do que o utilizado na formação do educador
Eli Bennincá
A Capoeira provoca em seus participantes uma série de
produções cognitivas, emocionais, afetivas e principalmente motoras. a)
Cognitivas, ao fazer com que o capoeira tenha um pensamento rápido para cada
situação do jogo. b) Emocional à medida que cada volta
é diferente da outra, assim como um jogador é diferente do outro. As
energias trocadas não são as mesmas. c) Afetivas, a partir do despertar que
todos na roda são iguais. Todos necessitam cooperar para o axé
da roda. Não há roda sem ritmo, sem coro e sem jogadores. d)Motoras através
da percepção de seus movimentos tão naturais e ao mesmo tempo tão
complexos.(CORDEIRO, 2003)
Falcão (2004) em sua tese de doutorado em educação pela
Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia- UFBA, propõe trazer
para a comunidade Capoeirana o sentido de práxis. Apesar de o termo práxis
possuir uma etimologia grega, servindo para designar ações que se realizava
no âmbito das relações entre as pessoas, para Marx, o termo práxis refere-se
“a atividade livre, universal, criativa e autocriativa, por meio do qual o
homem e a mulher fazem, produzem e transformam seu mundo humano, histórico e
si mesmo” (FALCÃO, 2004 p. 8.)
Foi a partir das formulações de Marx que Falcão (2004) buscou
fundamentos para o entendimento da práxis capoeirana. Partindo desta
premissa conceituou Práxis capoeirana como uma atividade de Capoeira, livre
e criativa por meio da qual os sujeitos produzem e transformam seu mundo,
humano e histórico, e a si mesmos. Portanto, a práxis capoeirana está
referenciada por um projeto histórico superador do capitalismo.
O trato com o conhecimento da capoeira no currículo de
formação docente deve ser capaz de explicitar os avanços e os retrocessos
de uma prática cultural complexa. E que esse trato seja operado como
produção e divulgação dos saberes construídos a partir de diferentes
experiências (FALCAO b, 2004, p. 163).
Como disciplina, a práxis capoeirana deve ser concebida como
um complexo temático interdisciplinar onde se entrecruzam pressupostos de
várias áreas do conhecimento, como História, Antropologia, Sociologia,
Psicologia, Filosofia, Educação Física dentre outras. Ela deve conter uma
totalidade, uma particularidade e uma operacionalidade em nível
qualitativo, com sua teoria articulando-se com experiências práticas e
concretas dos próprios capoeiristas e a realidade social impregnada de
responsabilidade social vinculada à solução de problemas concretos.
[...] o complexo temático
Capoeirana trata o conhecimento em sua estreita vinculação com a prática
social. Este conhecimento se torna útil à medida que, com base nele, o homem
pode transformar a realidade. Ele é útil porque é verdadeiro e não
inversamente, verdadeiro porque é útil, como defende o pragmatismo (FALCÃO,
2004, p. 329)
Por meio dessa práxis, qualificada pela noção de complexo
temático, os sujeitos na formação docente em educação física serão levados
a: experimentar, problematizar, teorizar e reconstruir coletivamente essa
mesma realidade de modo que possam
atuar com adequada
fundamentação teórica que lhes permitam ações coerentes
diagnosticando os interesses, expectativas e necessidades das
pessoas, possibilitando a integração/interação nos grupos, a construção e
reconstrução de conhecimentos e desenvolvimento do senso crítico e
reflexivo. Cada participante contribui de forma singular e também de
forma coletiva para o enriquecimento deste diálogo
A práxis capoeirana na formação docente em educação física
contribuirá para o desenvolvimento da
prática pedagógica numa perspectiva autodeterminada, autônoma, solidária,
reflexiva e crítica. A formação docente por meio da práxis requer um
processo de reflexão, avaliação, observação e crítica de sua ação pedagógica
que se transforma e modifica seu jeito de ser professor.
À medida que o educador educa, ele se educa a si mesmo; e,
por ser o sujeito de sua formação, passa a ter condições de desenvolver uma
práxis pedagógica. Pode-se afirmar, com toda a segurança, que, no processo
da práxis pedagógica, o aluno privilegiado do professor é o próprio
professor (BENNICÁ, 2002, P.187)
Falcão (2004) considera que a roda de Capoeira por si só, não
garante esclarecimentos e superações de condições alienadoras, se faz
necessário uma relação dialética com a totalidade,
daí a necessidade de se desenvolver a consciência histórica e a reflexão
filosófica para percebermos as necessidades da realidade.
Para finalizar, nos atenta para o fato que mesmo o conceito
de práxis Capoeirana sugira um campo infinito de possibilidades, a Capoeira
concebida como tal e tratada como complexo temático, não deve ser confundida
com um ecletismo cômodo ou um hibridismo conciliador. Ela deve jogar com
conceitos mais elásticos, sem perder-se em generalizações vagas e apressadas
que apenas servem para legitimar doutrinas hegemônicas. (FALCÃO, 2004, p.
334)
Considerações finais
Como podemos verificar as
relações Capoeira e Educação Física datam desde o séc. XIX, apesar de sua
inserção nos currículos dos cursos universitários ter ocorrido somente no
fim do séc. XX. A Capoeira sempre foi cooptada pela Educação Física de
alguma forma, seja ela para atender a interesses: nacionalistas,
esportivistas, pedagógicos e até mesmo como meio de especialidade de uma
profissão.
O trato com a capoeira na
formação superior requer uma abordagem ampla, temática, política e
pedagogicamente correta devendo proporcionar um enriquecimento cultural e
cientifico. É nesse sentido que surge a questão da possibilidade de
construção da ciência pedagógica. Simplesmente não é reproduzir na formação
docente o dia a dia das academias de Capoeira, com assimilação dos golpes,
aulas de ritmos, rodas de capoeiras dentre outras coisas.
O conceito de Práxis
Capoeirana vem romper estes paradigmas e estabelecer uma nova metodologia.
Propõe para o trato com a capoeira na formação docente um trato de complexo
temático interdisciplinar envolvendo as diversas áreas das ciências, de
modo que possibilite uma transformação social, histórica e humana de seus
participantes. Portanto, há uma ressignificação dos sentidos e valores
atribuídos à capoeira transformando os valores e sentidos culturais próprios
de uma comunidade ou de um indivíduo.