União
Européia: Desafios para o Século XXI
Resumo:
Abordaremos
o estágio atual da UE, após o seu alargamento em 2004, que
integrou 10 países, o que alterou tanto as relações endógenas
como as exógenas do bloco. Os novos membros além do predomínio
da economia agrícola, politicamente se distanciam das democracias
avançadas da Europa. Ademais, interessa-nos discutir os efeitos
desse ingresso sobre as relações comerciais entre Mercosul e União
Européia.
Assim,
neste século que se inicia, inúmeros são os desafios que
apontaríamos para a consolidação do bloco: a gigantesca
disparidade econômica entre os antigos membros e os recém-chegados;
a imigração dos europeus do leste para os países mais
desenvolvidos; a questão dos subsídios; as dificuldades quanto
à política externa comum;. Problemas que poderão ser superados
com investimentos diretos no Leste, onde existe mão-de-obra
qualificada e a custos bem mais reduzidos. Quanto às relações
entre UE e Mercosul, as exportações do Mercosul para UE devem
ser afetadas pela integração ao bloco de países eminentemente
agrícolas.
Palavras-chave:
Integração Regional; União Européia; Países do Leste Europeu.
Abstract
In
this article, we are going to talk about the enlargement in the
European Union in 2004 which changed the relationship into and out
of the block. The new members have agriculturists economys and
diferent way to do politics. After more, we will discuss about the
relationship between European Union and Mercosul.
In
this century the European Union has lot of challenges to construct
a consolidated union: the gigantic
economic disparity between the old members and the just-fond ones;
the question of the subsidies; the difficulties about the common
external politics. Problems that could be surpassed with
investments in the East, where qualified man power exists well
more and the reduced costs. About the relations between European
Union and Mercosul, the exportations of the Mercosul for UE must
eminently be affected by the integration to the block of countries
agriculturists.
Key-Words:
Regional Integration; European Union; Eastern European Countries |
Introdução
Este
estudo visa contribuir para as discussões acerca do fenômeno das integrações
regionais. Para tanto, abordaremos o estágio atual da União Européia,
após o seu alargamento em 2004 que integrou 10 países (Polônia, Estônia,
Letônia, Lituânia, Republica Tcheca, Eslováquia, Hungria, Eslovênia,
Malta e Chipre) aos 15 participantes anteriores em 1o de Maio
de 2004.
É
importante ressaltar que o recorte de nosso objeto, no caso a União Européia,
partiu da premissa que este bloco regional é o mais consolidado, visto
ser o único até o presente momento em que a adoção de uma moeda comum,
o Euro, tornou-se realidade. Além do mais, o início das discussões
sobre uma possível constituição de caráter continental nos demonstra o
avanço deste bloco em relação aos demais.
Quando,
em meados da década de 1950, alguns países do continente se encontraram
para estabelecer a Comunidade Européia do Carvão e do Aço (CECA),
talvez fosse difícil prever os resultados posteriores desta união
embrionária.
Naquele
momento histórico, após o término da II Guerra Mundial, a Europa
encontrava-se destruída pelos flagelos do embate ocorrido basicamente em
seu território. Com efeito, era necessário que as economias do
continente juntassem esforços para a reconstrução e manutenção da paz
após os bárbaros acontecimentos da década de 1940. E isto, de certa
forma, concretizou-se um pouco mais com o Tratado de Roma de 1957 que
estabeleceu a Comunidade Econômica Européia.
Há
autores que mencionam o fato de o mundo estar dividido em 2 superpotências,
EUA e URSS, ser o grande impulso para uma união entre nações
historicamente rivais, tais como França e Alemanha, visto que a Europa
perdeu a hegemonia mundial que detinha até a II Guerra Mundial, passando
assim a um papel de coadjuvante nas relações internacionais.
A
partir de então, o que se notou foi um aprofundamento das relações
entre nações européias, além é claro da incorporação de novos países
aos já participantes. Parecia, então, que o sonho inicial do Abeé de
Saint-Pierre em seu Projeto para
tornar perpétua a paz na Europa obteria êxito.
Vale
advertir que nosso estudo não abordará profundamente as questões históricas
da formação da União Européia, mas sim as conseqüências e
oportunidades a partir da entrada dos 10 novos países, o que, de fato,
alterou tanto as relações endógenas como exógenas do bloco, tornando-o
maior – a população passou de 380 milhões para aproximadamente 500
milhões de habitantes, além de análises de agências especializadas,
que mencionam que o Produto Interno Bruto (PIB) dos membros reunidos em
uma única estatística ultrapassará o PIB dos EUA, a maior economia
global – e mais complexo - posto que as estruturas econômicas e política
tornaram-se mais heterogêneas. Os novos membros além do predomínio de
economias baseadas no setor primário, isto é, em produtos agrícolas,
politicamente se distanciam das democracias avançadas da Europa em muitos
aspectos, tais como o sistema partidário ainda não consolidado nestes
novos membros, governos nacionais engessados pela relação entre a dívida
pública interna e externa com o PIB, baixa inclusão social, etc.
Ademais,
interessa-nos discutir os efeitos da entrada de 10 novos países sobre as
relações comerciais externas, especialmente Mercosul e União Européia,
pois consideramos de grande importância as relações bilaterais entre o
bloco do qual o Brasil é membro com o bloco europeu, principalmente no
que tange a possível relação estabelecida sobre produtos agrícolas
nesta nova fase da União Européia.
Posto
isto, passaremos para o desenvolvimento do tema através dos resultados
obtidos e/ou esperados.
Os
procedimentos metodológicos envolveram, fundamentalmente, a pesquisa
bibliográfica sobre a formação, estágio atual e perspectivas futuras
da União Européia. Na pesquisa das fontes primárias – documentos,
jornais, revistas – o recurso à internet foi deveras utilizado.
Entrevistas com professores da área de Relações Internacionais também
foram realizadas para nos auxiliar no entendimento de questões
fundamentais para este estudo.
Para
entendermos o que altera com a entrada dos 10 novos países na União
Européia, devemos ressaltar que 8 deles tiveram o socialismo como sistema
político-econômico a partir da segunda metade do século XX. Excluindo
Malta e Chipre, todos os outros novos participantes do bloco europeu foram
socialistas, tornando-se assim países satélites da então superpotência
URSS, ou, nas palavras do estadista inglês Winston Churchill, membros da
Cortina de Ferro que, de certa forma, “protegiam” territorialmente a
potência maior do sistema que se formou a partir da Revolução
Bolchevique de 1917.
Deste
modo, devido aos caprichos originários da disputa ideológico-político-econômica
bipolar, a Europa se viu repartida em dois “blocos” distintos: o
ocidental, liderado por países como França e Inglaterra no âmbito
europeu e pelos EUA em uma esfera mundial; e o oriental, este, como já
dito no parágrafo anterior, capitaneado pela URSS.
Como
é sabido, o bloco soviético começou a ruir em meados de 1970, sendo que
o ponto final deste declínio ocorreu em 1989, com a Queda do Muro de
Berlim, o símbolo maior da Guerra Fria. Com efeito, o que se notou foi
uma Europa Ocidental desenvolvida e coesa em torno de um bloco econômico,
a CEE, embrião, como já mencionado, da atual União Européia, e uma
Europa Oriental em situação oposta, com diversos problemas estruturais e
conjunturais. Assim, ao adentrar no bloco europeu, as nações orientais
da Europa se uniram novamente aos países ocidentais, porém com muitas
desigualdades entre ambos.
A
maior dificuldade à integração do bloco (no sentido da sua maior
homogeneização) consiste, sobretudo, no “atraso estrutural” dos países
recém integrados; de passado socialista, os novos membros são
“estranhos” ao “clube” dos países ditos desenvolvidos. Devemos
entender que os novos membros não possuem, de modo algum, o dinamismo
encontrado, por exemplo, na economia alemã. Apenas a título de
curiosidade, para que, por exemplo, a Polônia atinja o PIB per capita
médio da União Européia, que ronda US$ 25 mil dólares, será necessário,
segundo estimativas, aproximadamente 60 anos, o que de certa forma pode
engessar os planos de grandeza do bloco num curto prazo de tempo, pois os
novos membros irão necessitar de grandes investimentos para atingir o
patamar de renda encontrado nos países que já participavam da União
Européia. Vale ressaltar neste ponto que o bloco europeu já teve uma
experiência de integração que exigiu grandes inversões.
Entre
os anos de 1981 e 1986 aconteceu o alargamento ao Sul, isto é, países
geograficamente situados no Mediterrâneo europeu aderiram à CEE, sendo
eles: Grécia, Espanha e Portugal, que após um longo período sob regimes
autoritários passaram a adotar o sistema “democrático liberal”. No
entanto, com esta adesão apareceram os entraves basicamente de natureza
econômica, já que não se encontrava nestas economias o dinamismo dos
antigos membros. É claro que o impacto gerado por estas adesões não foi
tão grande, sendo estes países absorvidos paulatinamente pelo sistema.
Atualmente as economias destes países acima citados se desenvolvem de
maneira satisfatória, mostrando assim que, neste caso, a incorporação
foi válida tanto para os antigos membros como para os países que
entraram neste período.
Porém,
no referente à incorporação dos 10 novos membros em 2004, temos que, além
de um número muito mais expressivo de novos países integrados ao mesmo
tempo, estes possuem problemas não só econômicos, mas também político-sociais
de grande magnitude. Os novos membros possuem, em geral, uma
cultura política autoritária fruto dos anos de governos socialistas
repressivos, o que pode engessar as conversações sobre uma possível União
não só econômica, mas também política, isto é, com uma Constituição
em comum, quiçá também Forças Armadas reunindo oficiais militares de
todos os países-membros.
Porém,
mesmo com as diversas dificuldades que se apresentam à “solidificação”
do bloco, vale ressaltar que uma das qualidades herdadas do regime
socialista foi um sistema educacional, de certo modo, fortificado, o que
nos leva a interpretar que nos países do Leste existe certa mão-de-obra
qualificada e a custos bem mais reduzidos dos que os encontrados em países
desenvolvidos, como a França e a Alemanha, por exemplo. O que pode
determinar uma fuga de empresas com planta nos antigos membros com alto
custo de mão-de-obra e, assim, desenvolver os parques industriais dos
novos membros eminentemente agrícolas. Isso, no entanto, nos remete a
dois caminhos: há a possibilidade desta fuga ser vista como maléfica
pelos antigos membros, dependendo do grau e quantidade de empresas; ou então
como algo benéfico, visto que o desenvolvimento dos novos membros tanto
pode ampliar o mercado consumidor na Europa, como desestimular as imigrações
da população do Leste rumo aos países europeus mais desenvolvidos.
O
problema das imigrações é um dos pontos mais críticos da integração
dos novos membros à União Européia, por serem países menos
desenvolvidos, a busca de uma vida melhor nos antigos membros seria quase
que o caminho natural dos europeus do Leste, já que não há barreiras
formais que impeçam o trânsito de europeus de qualquer membro para
qualquer outro. Portanto, a fuga de empresas e/ou investimentos maciços
no Leste existem como formas de conter ondas imigratórias. Do contrário,
poderemos assistir, nos próximos anos, a uma desestabilização e
sobrecarga das estruturas funcionais do welfare
state, isto é, Estado do Bem-Estar Social das nações mais
desenvolvidas, o que pode denegrir o tão conhecido sistema europeu
“planejado”, cuja inspiração remete a obra de Jonh Maynard Keynes.
Por
último, vale notar que o acréscimo de 10 novos membros, com características
distintas ao dos antigos membros, aumenta as dificuldades para uma possível
formulação de política externa comum. Já percebemos tal dificuldade de
consenso na Guerra do Iraque, a qual foi defendida abertamente por Itália,
Espanha, e, principalmente, Inglaterra e preterida por França e Alemanha,
basicamente. Deste modo, a consecução de uma política externa comum que
agregue as diferentes tendências é algo extremamente complexo e pode
engessar os planos de unificação total na Europa.
Dentre
os vários desafios e oportunidades surgidas depois do alargamento está a
questão da agricultura. A disparidade entre as novas nações e os
antigos membros é mais pronunciada no âmbito rural por uma combinação
de baixa renda e alto desemprego. O desafio principal nesse campo é o
aumento da prosperidade da agricultura e da sociedade rural européia. A
agricultura também deve ser estudada porque será o campo que,
aparentemente, trará novos paradigmas relacionais para o Brasil e o
Mercosul na relação com a “fortaleza Europa”. Abordaremos, a seguir,
os dispositivos constantes da Política Agrícola Comum (PAC) e as
reformulações para a adequação ao alargamento que incorporou os 10
novos membros. Na conclusão do trabalho serão apresentados os
desdobramentos da entrada dos novos membros para o Brasil e o Mercosul.
Numericamente,
o impacto da entrada de 10 novos membros, com características internas
peculiares e distintas daqueles outros 15 paises que já formavam o bloco
antes de 1º de maio de 2004, trouxe impactos profundos à agricultura.
Novos 4 milhões de fazendeiros se juntaram aos 7 milhões já existentes.
A entrada desses 10 novos membros acrescentou 38 milhões de hectares de
área utilizada na agricultura aos já existentes 130 milhões. Isso
representa um aumento de 30%. Porém, apesar de trazer um incremento em área
e agricultores, a produção agrícola da União Européia só cresceu 6%.
Isso demonstra que os novos membros possuem um incrível potencial agrícola
que ainda não é utilizado em sua máxima eficiência.
Inevitavelmente,
a competição será mais dura. No entanto, as oportunidades e desafios
desse novo mercado de aproximadamente 500 milhões de consumidores, livre
de restrições tarifárias, cotas de exportação ou barreiras ao comércio
criaram a possibilidade de maior estabilidade a mercados agrícolas antes
voláteis (os dos novos membros que não eram contemplados pelas políticas
do bloco). A integração deve levar uma maior prosperidade aos
fazendeiros europeus tanto dos antigos como dos novos membros.
Para
atingir os objetivos agrícolas europeus, a PAC (Política Agrícola
Comum) foi criada em 1958, ainda quando o projeto integracionista estava
em sua fase embrionária. A PAC começou subsidiando a produção de
produtos alimentares de base, com o objetivo de assegurar a auto-suficiência
agrícola para a Europa. No
entanto, com seu desenvolvimento, a PAC passou a incentivar os pagamentos
diretos em favor dos agricultores; estes pagamentos são considerados a
melhor forma de garantir os rendimentos agrícolas, a segurança e
qualidade dos alimentos, bem como a produção sustentável do ponto de
vista ambiental. Nos seus primórdios, à PAC era destinado cerca de 70 %
do orçamento da Comunidade. Nos dias de hoje, com a intensificação de
outras políticas comuns e a redução das despesas, representa menos de
metade - porém ainda com uma representação expressiva. Paralelamente, o
financiamento começou a abranger outras atividades agrícolas, incluindo
o desenvolvimento rural e o ambiente.
A
PAC sofreu reformulações sendo a mais recente em 2003 e conhecida como
Agenda 2000. Essas reformas permitiram à União Européia lidar com a
questão do alargamento estudado nesse trabalho. Sem o alargamento, os
fazendeiros dos novos membros não desfrutariam de inúmeros benefícios,
tais como: o livre acesso a esse enorme e vigoroso mercado e a
possibilidade de se beneficiar de políticas feitas para desenvolver sua
agricultura de uma maneira sustentável e lucrativa. O ingresso no bloco
deve causar uma modernização e reestruturação da agricultura e
processamento de alimentos nos novos membros. Isso resultará não só do
acesso a esse imenso mercado, mas também dos investimentos co-financiados
pelos fundos de desenvolvimento agrícola do bloco.
As
disparidades entre as situações econômicas dos proprietários agrícolas
dos novos e antigos membros são evidentes. Para se tornarem competitivos
internacionalmente, os fazendeiros dos novos 10 necessitam de modernização
e investimento, para isso lhes falta capital. Os dispositivos da PAC têm
como objetivo equacionar esse problema. A União Européia sustenta sua
agricultura, basicamente, via suporte direto à renda dos agricultores.
Esse suporte é dado através de medidas que estabilizam os preços de
mercado, por pagamentos diretos aos agricultores e por financiamento de
uma gama de atividades ligadas ao desenvolvimento rural.
Os
pagamentos diretos fornecem um mecanismo de garantia de renda. No entanto,
no longo prazo, esses pagamentos inibem o investimento. Por isso, a PAC
dispõe de instrumentos para encorajar o investimento e a reestruturação
agrária das áreas menos desenvolvidas.
Devido
às disparidades da agricultura nos novos e antigos membros, é sensata a
posição européia de direcionar vastos recursos para resolver os
problemas estruturais e de longo prazo, bem como manter as políticas de
auxílio direto à renda e suporte de mercado. Os novos membros necessitam
investir para alcançar novos padrões e expandir o market
share dessas economias ingressantes. As medidas delineadas na PAC têm
como um de seus objetivos tornar os fazendeiros do Leste mais competitivos
e orientados para o mercado, sem perder a estabilidade da renda. Com tudo
isso, os novos membros vão se beneficiar não só dos tradicionais
dispositivos da PAC, mas também de outras medidas específicas para os 10
novos membros.
Como
exemplos dessas medidas específicas estão: suporte à renda familiar de
fazendas de subsistência por um período de 5 anos durante a modernização
das velhas formas de cultivo agrícola; subsídios aos serviços acessórios
para que os fazendeiros possam receber suporte profissional para o cultivo
ambientalmente sustentável, para a diversificação das culturas ou para
melhorar sua infra-estrutura. Existem também fundos de investimento
direcionados especificamente aos novos membros.
Neste
século que se inicia, inúmeros são os desafios que apontaríamos para a
consolidação do bloco: a gigantesca disparidade econômica entre os
antigos membros e os recém-chegados; a imigração dos europeus do leste
para os países mais desenvolvidos, que pode desestabilizar e
sobrecarregar as estruturas de bem-estar social das nações mais ricas; a
questão dos subsídios, quase todos os países recentemente integrados à
UE são países agrícolas, dependentes das exportações e os membros
mais antigos dificilmente abrirão mão da proteção em prol dos novos
membros; as dificuldades quanto à política externa comum, evidenciadas
na guerra no Oriente Médio. Problemas que poderão ser enfrentados com
investimentos diretos no Leste, onde existe mão-de-obra qualificada e a
custos bem mais reduzidos.
As
discussões acerca da política agrícola, especialmente no que concerne
aos novos membros, iluminam para uma análise critica da posição
brasileira e do Mercosul nas questões do comércio mundial. É latente o
fato de que a incorporação dos 10 novos membros demandará medidas que
irão proteger essas nações, de situação financeiro-econômica-tecnológica
tão diferente dos 15 membros já participantes do bloco antes de 1º de
maio de 2004. A análise da PAC evidencia esse cunho protecionista.
Protecionismo
que vai contra os preceitos do comércio mundial atual, que pede cada vez
mais por liberalização. Os pagamentos diretos, os suportes à renda, as
garantias de preços de mercado são todas práticas condenadas no âmbito
da Organização Mundial do Comércio (OMC), e principalmente, no advento
da Rodada Doha de Negociações. Os interesses brasileiros e do Mercosul
estão exatamente na agenda da Agricultura. Nosso dinamismo, no âmbito
agrícola, nos permite concorrer de igual para igual no mercado
internacional. No entanto, medidas protecionistas como as adotadas na
Europa trazem profundas distorções para o comércio mundial e devem ser
combatidas por nossos esforços de política externa. O ministro de Relações
Exteriores do Brasil, Celso Amorim, já deixou claro que a agricultura é
o tema principal da agenda e nada será decidido caso não se chegue a um
acordo nesses temas tão sensíveis às transações comerciais.
A
União Européia argumenta que a PAC não tem por único objetivo garantir
aos agricultores um nível de vida adequado, fazendo com que seus produtos
se tornem competitivos no mercado internacional. A PAC tem uma preocupação
peculiar com os consumidores. Admitindo que um de seus objetivos deve ser
o fornecimento de alimentos seguros e de elevada qualidade. Desta forma, a
União Européia procura assegurar elevados padrões de bem estar animal e
higiene em toda a cadeia alimentar, da exploração ao consumidor final. O
curioso é que esses argumentos se tornam, por si só, barreiras não
tarifárias (barreiras fito sanitárias) aos produtos de outros paises
externos ao bloco, como os produtos brasileiros e das outras nações do
Mercosul. Mais uma vez o protecionismo é latente e, devido as já
iluminadas disparidades, deve continuar ou se aprofundar para a garantia
de prosperidade e desenvolvimento rural.
Além
dos argumentos do âmbito agrícola, a promessa de aumento de mercado para
os produtos agrícolas de outras nações se mostra falho. Como bem
demonstrou Geraldo Holanda Cavalcanti: “Assim, as progressivas ampliações
da Comunidade têm contribuído para diluir e não ampliar a participação
brasileira no comércio global” (CAVALCANTI, 1997, p.75). Isso é claro
pelo fato de que, apesar de ampliar numericamente o mercado, foram
internalizadas nações que agora, mesmo sem a mesma eficiência
brasileira, fornecem produtos, dos quais o Brasil era fornecedor. Além
disso, a diluição de taxas de importação só ocorreu nas transações
internas ao bloco. As proteções externas estão ainda presentes na
economia européia. “(...) as sucessivas ampliações na sua composição
e a continuada expansão do número de países beneficiados por acordos
preferenciais alteravam o peso da Comunidade no comércio internacional e
introduziam novas distorções nas correntes de comércio” (CAVALCANTI,
1997, p.76), deixando o Brasil e o Mercosul um pouco afastados do grande
mercado europeu. Mas a despeito de perspectivas pessimistas para o
Mercosul, a União Européia pode ser considerada um modelo de integração
bem sucedida que tem muito a nos ensinar sobre a edificação de instituições
e políticas comuns.