Meio
ambiente, agroindústria e ocupação dos cerrados: o caso do município
do Rio Verde no sudoeste de Goiás
Ízula
Luiza Pires Bacci Pedroso
Resumo
O
processo de modernização agrícola e a ocupação das terras de
cerrado provocaram profundas transformações no espaço agrário
da região Centro-Oeste. Através dos chamados pacotes tecnológicos
da Revolução Verde,
financiados pelas políticas desenvolvimentistas do Estado, a região
Centro-Oeste se inseriu no modelo econômico do país sem levar em
conta os aspectos ambientais e sociais das áreas ocupadas. O
Estado proporcionou a industrialização do campo e a capitalização
da agricultura na região contextualizada.
Palavras-chave:
modernização da agricultura, cerrado, agroindústria e Rio Verde
(GO).
Abstract
The
process of agricultural modernization and the occupation of open
pasture lands had provoked deep transformations in the agrarian
space of the region Center-West.
Through the calls technological packages of the Green
Revolution, financed for the developments politics of the State,
the region Center-West if inserted in the economic model of the
country without taking in account the ambient and social aspects
of the busy areas. The
State provided to the industrialization of the field and the
capitalization of agriculture in the cited region.
Keywords:
modernization of agriculture, open pasture, agroindustries and
Rio Verde (GO)
|
Introdução
Para
analisar os impactos das agroindústrias nos processos de desenvolvimento
regional sustentável, primeiro é preciso saber que crescimento econômico
não é sinônimo de desenvolvimento (PERROUX,
1967). Ou seja, a implantação de novas atividades econômicas em
uma determinada região pode elevar os níveis de produção, de renda e
de emprego, sem que com isso ocorra necessariamente um processo de
desenvolvimento sustentável. O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB)
e da renda regional podem ser evidências de que uma região está vivendo
uma etapa favorável de crescimento econômico e que, em média, está
havendo um aumento na quantidade de bens e de serviços à disposição da
sua população. Só esses fatores, no entanto, não evidenciam um
processo de desenvolvimento sustentável.
O
crescimento econômico irá depender principalmente do potencial de atração
de recursos e investimentos, dos impactos que as políticas macroeconômicas
e setoriais irão ter sobre a economia regional e das políticas estaduais
e municipais de atração de investimentos. O processo de desenvolvimento,
no entanto, dependerá fundamentalmente da capacidade de organização
social associada ao aumento da autonomia regional para tomada de decisões; a capacidade de
investimento do excedente econômico gerado pelo processo de crescimento
local; ao crescente processo de inclusão social, e a um processo
permanente de conservação e preservação do ecossistema regional. Essa
capacidade de organização social
da região é um fator endógeno por excelência para transformar o
crescimento em desenvolvimento, através de uma complexa malha de instituições
e de agentes de desenvolvimento, articulados por uma cultura
regional e por um projeto político regional.
Estas são diferenciações fundamentais que devem ser entendidas
pelos formuladores de políticas de desenvolvimento (PERROUX, 1967).
Os
impactos que as agroindústrias podem causar nas regiões onde se instalam
são inúmeros, tanto ambientais quanto sociais, sendo que esses impactos
refletem diretamente na qualidade de vida das pessoas. Assim, é preciso
entender que o motivo da vinda dessas empresas para o estado de Goiás está
diretamente ligado às estratégias produtivas da região, à articulação
e envolvimento dos agentes locais e políticas de incentivo fiscais.
Sendo que, na grande maioria das vezes, essas políticas
desenvolvimentistas não levam em conta os aspectos ambientais e sociais
das áreas que se “beneficiam” desses programas, como foi o caso da
região Centro-Oeste que, no início da década de 1970, sofreu uma forte
e desenfreada ocupação em função da expansão da fronteira agrícola.
O
trabalho está estruturado, além da introdução e considerações
finais, em dois itens. No primeiro, são abordados os programas
governamentais para a ocupação do cerrado nos domínios da região
Centro-Oeste. No segundo, tecemos algumas considerações sobre o processo
de agroindustrialização do município de Rio Verde, abordando em
especial, o caso do complexo agroindustrial da Perdigão, bem como os
benefícios e malefícios sociais e ambientais que esse processo de
crescimento e/ou desenvolvimento está gerando no município.
1
Programas desenvolvimentistas para a ocupação
do cerrado na região Centro-Oeste
A
região Centro-Oeste compreende 18,8% do território nacional e abriga
cerca de 11,6 milhões de habitantes (IBGE, 2000). Essa região passou por
duas grandes fases de ocupação. A primeira, ainda no período colonial,
no fim do século XVII, durante o ciclo de exploração do ouro, quando se
iniciou o povoamento do interior. A segunda, nas décadas de 1950 a
1970, quando a expansão industrial e o avanço do processo de urbanização
fizeram com que a região assumisse um papel diferenciado na organização
espacial brasileira.
De
acordo com Bezerra e Cleps Júnior (2004, p. 30), o desenvolvimento agrícola
da região Centro-Oeste é intensificado a partir da década de 1930, com
o objetivo de atender ao mercado consumidor de produtos agrícolas da região
Sudeste. Assim, o desenvolvimento agrícola do Centro-Oeste esteve
diretamente ligado ao desenvolvimento industrial do país, que se inicia
na região Sudeste nesse período.
É
no período que compreende as décadas de 1940 e de 1960 que esse processo
de ocupação começa a se consolidar economicamente. São vários os
fatores que contribuíram para que isso ocorresse, entre eles: a “Marcha
para o Oeste” de Getúlio Vargas, que tinha como objetivo a integração
regional, ampliando o mercado interno e incentivando a migração para a
região; a criação da nova capital do país, Brasília, e a construção
de grandes eixos rodoviários, como a BR-153 (Belém-Brasília) e a BR-364
(Cuiabá - Porto Velho). Esse período foi caracterizado pela ótica do
desenvolvimentismo e trouxe para a região um grande impulso econômico.
Segundo
Pedroso et. al. (2004, p. 3) até a década de 1960 a falta de programas
específicos e de incentivos governamentais bloqueava, de certa forma, o
desenvolvimento agrícola da região. Até o fim desse período, o
envolvimento do Estado na evolução da fronteira agrícola manteve-se
reduzido. A expansão das frentes de atividades produtivas foi basicamente
espontânea, “a participação governamental, freqüentemente tardia,
ocorria apenas quando deficiências de infra-estrutura ameaçavam a
viabilidade das frentes de agricultura comercial” (MULLER, 1990, p.50).
Para
Pedroso et. al. (2004, p. 3), além da ausência específica de programas
destinados à expansão da fronteira agrícola, os problemas criados pela
falta de técnicas de cultivo apropriadas ao cerrado foram um fator
limitante ao desenvolvimento agrícola da região Centro-Oeste.
No
início da década de 1970, as políticas governamentais passaram a
estimular a ocupação da Amazônia na esperança de que, em pouco tempo,
pudesse se tornar importante região agrícola. Como isso não aconteceu,
a princípio, o interesse governamental voltou-se novamente aos cerrados,
mais bem situados em relação aos crescentes mercados do Centro-Sul,
marcando, assim, o início do desenvolvimento agrícola na região
Centro-Oeste, apoiado por programas governamentais.
Foram
criados programas especiais de estímulo à agricultura nos Cerrados, de
apreciável impacto na evolução das frentes comerciais. Além do mais,
foram implantados, sob estímulo oficial, projetos privados de colonização,
especialmente no Mato Grosso. Nesse processo, as frentes comerciais
acabaram atingindo partes do norte da região (MULLER, 1990).
Sendo
assim, a partir de meados da década de 1970, o ritmo de ocupação do
Centro-Oeste acelerou, com base em intensa política de expansão da
fronteira agrícola, ocorrida com o aproveitamento dos cerrados (até então
tidos como inaproveitáveis) e a abertura de novas terras para exploração
agrícola e pecuária. Esse processo de ocupação trouxe à região um
enorme fluxo de migração, desordenado e desagregador. A região passava
a ser o novo pólo de atração populacional. Entre 1960 e 1970 apresentou
o maior crescimento demográfico do país; de 1970 a 2000 só não superou
a região Norte.
Esse
rápido desenvolvimento realizou-se de forma peculiar, sendo que a
incorporação espacial foi associada à rápida modernização da
agricultura, e esteve baseada em um modelo caracterizado pela prioridade
dos cultivos comerciais, com grande aplicação de insumos modernos e
mecanização, sem que tenha sido incorporada a esse processo a devida
consideração dos aspectos sociais e ambientais.
O
que impulsionou a inserção dos cerrados nas áreas produtivas, e conseqüentemente
o desenvolvimento agrícola da região Centro-Oeste, foram alguns
programas específicos implementados nessa região. Dentre os principais,
pode-se destacar o POLOCENTRO (Programa de Desenvolvimento dos Cerrados) e
o PRODECER (Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para Desenvolvimento
dos Cerrados). O POLOCENTRO foi criado em 1975 e teve como objetivo o
desenvolvimento e a modernização das atividades agropecuárias da região
Centro-Oeste e do oeste do estado de Minas Gerais, mediante a ocupação
racional de áreas com características dos cerrados e seu aproveitamento
em escala empresarial. O programa selecionou áreas específicas para atuação
e, posteriormente, forneceu crédito altamente subsidiado a todos os
produtores que desejassem investir em exploração agropecuária
empresarial (GOBBI, 2004).
Apesar
do POLOCENTRO ter sido um programa voltado para abertura de fronteira agrícola,
as políticas favoreceram os grandes e médios produtores em detrimento
dos pequenos. Na realidade, foi um programa para o estímulo da média e
da grande agricultura empresarial, mediante o fornecimento de crédito
subsidiado, de assistência técnica e da remoção do obstáculo ao seu
funcionamento. A pequena agricultura das áreas atingidas quase não foi
beneficiada. Os objetivos do POLOCENTRO, “enunciados nos seus documentos
básicos, foram desvirtuados pela ação de setores influentes, que
conseguiram voltar a administração do programa a seu favor” (MULLER,
1990, p.55).
O
maior impacto do POLOCENTRO na região Centro-Oeste ocorreu no estado de
Goiás, especificamente em Rio Verde, onde segundo Muller (1990), 42% da
área dos cerrados foram incapacitadas ao processo produtivo, com destaque
para a soja.
Nesse
contexto, o recente desenvolvimento do estado de Goiás, deve ser
compreendido dentro do próprio processo de crescimento da região
Centro-Oeste, que é um território do qual se pode afirmar que o auge da
sua ocupação econômica é bastante recente, o que significa que seus
potenciais de desenvolvimento ainda estão sendo definidos. A região
Centro-Oeste vem se consolidando nos últimos trinta anos, com uma
economia baseada na pecuária de corte e de leite extensiva, na produção
intensiva de grãos, especialmente milho e soja, e, ultimamente, na
agroindústria que se utiliza dessa matéria-prima - carne e grãos.
A
produção de grãos se destaca, na microrregião do sudoeste goiano, que
desde a década de 1960 sofreu uma forte e acelerada mudança em sua base
produtiva, com o importante apoio do Estado, como provedor das políticas
públicas e dos fundos necessários para essa execução.
No
entanto, essa modernização agrícola, ao mesmo tempo em que inseriu a
região Centro-Oeste na nova dinâmica econômica do trouxe drásticas
conseqüências para deterioração do meio ambiente e social.
Alguns
exemplos desta realidade são: a perda da biodiversidade, a erosão e
compactação dos solos, o êxodo rural, a concentração de renda e
muitos outros problemas relacionados ao desenvolvimento urbano.
As
regiões e/ou municípios que se beneficiam são aquelas que possuem certa
infra-estrutura, e produzem matéria-prima relacionada com o que a
empresa deseja transformar, ou seja, que atendam o modelo econômico
vigente, e os municípios que realmente precisam se desenvolver se tornam
vulneráveis ao modelo capitalista.
As
políticas públicas, quando executadas corretamente, são de extrema
importância para o desenvolvimento regional, uma vez que muitas regiões
não se desenvolvem por falta de infra-estrutura básica.
Para
Sawyer (2002, p. 292), a construção de uma visão integrada que
estabelece sinergismos positivos entre população, meio ambiente e
desenvolvimento, evitando a degradação do ambiente e dos seres humanos,
implica, necessariamente, mudar as políticas públicas. Lista-se a
seguir, alguns processos significativos atualmente em curso quanto a políticas
públicas relevantes para o desenvolvimento sustentável no Cerrado.
Quadro
1- Políticas Públicas para o desenvolvimento sustentável no Cerrado
Fonte:
SAWYER/2002, pg. 292- 294
Org.; PEDROSO, I. L. P. B/2004.
Diversas
outras iniciativas de políticas públicas relevantes estão detalhadas em
relatório do Projeto BBC (Kinzo; Gontijo, 1999 apud. Sawyer, 2002, p.
293) e no documento produzido como resultado do Workshop sobre um Plano de
Ação para os Ecossistemas do Cerrado, que foi realizado em dezembro de
1998 por iniciativa do MMA (SAWYER, 2002, p. 293).
2
O processo de agroindustrialização e o meio ambiente em Rio Verde (GO)
A
vegetação natural da microrregião do sudoeste goiano é o cerrado. No
entanto, fazem parte da paisagem grandes lavouras de soja, milho e
pastagem, além de granjas e galpões de silagem. O município-sede dessa
região é Rio Verde, que foi um dos doze pólos de atuação do
POLOCENTRO.
O
sudoeste goiano teve um desenvolvimento diferenciado das demais regiões
do estado por ser uma área agropecuária de ocupação bastante antiga,
próxima ao Triângulo Mineiro e São Paulo (CARMO et. al., 2002, p. 304).
Inicialmente, a principal atividade econômica na região era a
criação de gado. A partir da década de 1960, a região passa a
vivenciar uma nova fase de desenvolvimento agrícola conhecida como a
modernização da agricultura, incentivada pelo chamado “pacote tecnológico”
da Revolução Verde e, principalmente, pela intervenção do Estado por
meio das políticas desenvolvimentistas.
O
desenvolvimento regional apoiado pelo Estado tinha como objetivo diminuir
as desigualdades regionais. Desta forma, foram implementadas diversas políticas
públicas de desenvolvimento regional, onde pode se destacar o incentivo
à expansão da fronteira agrícola.
Com
a incorporação das áreas de cerrado na expansão da fronteira agrícola,
e com o novo padrão tecnológico da Revolução Verde, culturas que até
então não eram comuns nesta região, como é o caso da soja, foram
introduzidas substituindo o antigo padrão praticado nas áreas de
cerrado: pecuária extensiva e produção de alimentos básicos.
Segundo
Ferreira e Fernandes Filho (2003, p. 106), a opção pela agricultura
comercial na microrregião do sudoeste goiano vai se dar na década de
1960 e se consolidar da década de 1970 em diante, a partir de uma
infra-estrutura mais adequada, incluindo, além de estrada e meios de
transportes, o crédito agrícola subsidiado, o suporte armazenador e a
organização política e econômica do produtor rural. Diante de todos
esses fatores, o sudoeste goiano torna-se um expoente em produção de grãos
no estado.
Segundo
os dados do Censo Agropecuário IBGE (2000), a maior parte da produção
de grãos e as atividades pecuárias altamente modernizadas se concentram
em Goiás, que é o quarto produtor de grãos entre os estados
brasileiros, com uma produção de 9,2 milhões de toneladas, contribuindo
com 8,98% na produção nacional. O estado possui também o terceiro maior
rebanho de bovinos de corte do país.
A
microrregião de Rio Verde vem se firmando recentemente como pólo de
produção agropecuária, que reúne a comercialização e processamento
de insumos e bens de produção para a agricultura, através de
investimentos em tecnologia.
Ao
analisar a ocupação econômica de Rio Verde, Campos (1971) apud.
Ferreira e Fernandes Filho (2003), apresenta dois grandes períodos. O
primeiro vai de sua fundação até a década de 1920, cuja característica
principal é a produção bovina e o uso de extensões muito grandes de
terra. O segundo período pode ser considerado o da produção de grãos,
passando pelo arroz, milho e atualmente a soja. Este último tem ainda
duas características marcantes. Primeiramente, a produção é extensiva,
baseada, sobretudo, em relações de trabalho pouco formais, até a
intensificação da mecanização, do uso de insumos e equipamentos agrícolas,
que marca uma segunda fase ainda em curso. No início desta última fase já
se percebe a aceleração das atividades urbanas e de atividades econômicas
bem dinâmicas.
Em
função dessa dinamização, nos últimos anos Rio Verde se caracteriza
como um dos principais agropólos de Goiás, pela estreita associação
entre os principais segmentos das cadeias produtivas agropecuárias e
agroindustriais e a ênfase na inovação tecnológica, que torna esta
relação muito competitiva e eficiente no aproveitamento das
potencialidades desenvolvidas ao longo dos anos. A formação do agropólo
decorre de condições naturais favoráveis para o desenvolvimento do
agronegócio regional, com a instalação ou deslocamento de unidades
agroindustriais para as áreas produtoras beneficiadas com obras de
infraestrutura e serviços tecnológicos.
Nesse
contexto, observa-se a constituição de alguns complexos agroindustriais
na região de Rio Verde, como é o caso dos complexos de carne de frango e
suíno, e da soja
(LUNAS; ORTEGA, 2003, p. 139).
Os
complexos agroindustriais têm encontrado condições adequadas para se
instalarem: disponibilidade de grãos, grande oferta de mão-de-obra,
proximidade do mercado consumidor, desenvolvimento tecnológico através
de parcerias (FESURV – Fundação de Ensino Superior de Rio Verde,
EMBRAPA, COMIGO – Cooperativa Mista dos Produtores Rurais do Sudoeste
Goiano Ltda) condições climáticas, infra-estrutura e incentivos
fiscais.
Esse
desenvolvimento tecnológico propicia aumentos de produtividade: nos últimos
anos, os produtores da região conseguiram ganhos expressivos de
produtividade, passando de 42 sacas de soja por hectare plantado para 50
sacas. Contudo, isso levou a um acentuado aumento no preço da terra: há
cinco anos, 1 hectare na região custava U$1.000, hoje paga se no mínimo
U$2.500 (CARMO et. al., p. 306).
No
entanto, no tocante a essa modernização, percebe-se o caráter
“conservador”
e excludente da mesma. O valor da terra aumentou mais de 100%, ocasionando
conseqüentemente a concentração fundiária e de renda, agravando ainda
a exclusão social.
Em
relação às questões ambientais, sabe-se que as atividades agropecuárias,
de modo geral, em busca de maior rentabilidade, provocam profundas mudanças
no meio natural: o desmatamento, a introdução de monocultura para uso
comercial, a retirada das águas dos mananciais e vários outros
procedimentos para obtenção de altos índices de produtividade.
De
acordo com a reportagem “Fronteira Agrícola”, do Jornal Nacional
(REDE GLOBO, 2004), os incentivos públicos fornecidos aos produtores
rurais e os investimentos em pesquisa e tecnologia, fazem hoje do cerrado
uma das terras mais produtivas do mundo. É possível cultivar de duas a
três culturas por ano. O investimento em insumos promove grandes índices
de produtividade e, conseqüentemente, altos lucros. Ao investir R$ 1,00
em fertilizante o produtor obtém R$6,00 de retorno.
No
entanto, a ocupação desenfreada no passado deixou profundas marcas
ambientais nos dias atuais. O desmatamento para a retirada da cobertura
vegetal dificulta a infiltração da água fluvial. Assim, o abastecimento
dos lençóis freáticos, diminui drasticamente. Mais de 300 pequenos rios
já secaram nos domínios do cerrado. Sem falar nas erosões e na compactação
do solo, em função da pesada mecanização.
Esses
problemas ambientais podem ser vistos em áreas de cerrado, onde as
atividades agropecuárias são expressivas, como é o caso da microrregião
do sudoeste goiano.
As
monoculturas, em especial as de grãos (que servem como matéria-prima das
agroindústrias locais), causam sérios impactos ao meio ambiente:
empobrecimento genético, erosão do solo, contaminação por agrotóxicos
das águas e dos alimentos, compactação dos solos, queimadas,
desmatamentos, etc. (MEDEIROS, 1998, p. 133). Esse tipo de monocultura é
muito comum na região, em especial a de soja, que atende as indústrias
que beneficiam e processam o óleo de soja, como é o caso da COMIGO, que
conta hoje com 4.221 cooperados.
Em
função da instalação da Perdigão e a parceria entre os produtores
integrados, foi estimulada a implantação de granjas de criação de aves
e suínos, o que significa um aumento significativo na quantidade de resíduos
gerados, que demandam cuidados especiais de destinação e tratamento
(CARMO et. al., 2002 p. 315).
Em
relação à área urbana, o município não conta com coleta seletiva (não
existe aterro sanitário, somente um lixão), nem tratamento de esgoto
(sendo que a SANEAGO, órgão responsável pela distribuição de água na
cidade, cobra já embutido na conta, 70% do valor da água para esse tipo
de tratamento). As ruas de grande parte dos bairros de periferia não
possuem asfalto, o mesmo também pode ser verificado em alguns bairros
mais nobres.
O
crescimento acelerado, pelo qual o município de Rio Verde vem passando
nos últimos cinco anos, só reforça o fato de que a cidade está longe
de se desenvolver com qualidade de vida. O município está, sim,
crescendo, tanto que já pode ser considerado um pólo de crescimento, mas
em relação ao desenvolvimento, de acordo com Perroux (1967), ainda deixa
muito a desejar. A instalação do complexo agroindustrial da Perdigão em
1999, trouxe alguma melhoras para o município, como a geração de
empregos diretos e indiretos, por outro lado, proporcionou o aumento
exagerado do custo de vida e marginalidade.
Sendo
assim, é preciso urgentemente que as políticas públicas de
desenvolvimento sustentável sejam realmente executadas. Principalmente
nos domínios do cerrado, pois, apesar de sua aparente pobreza biológica
- em paisagens que à primeira vista podem parecer monótonas - esse bioma
apresenta riqueza excepcional de ecossistemas, espécies e recursos genéticos,
sendo ainda considerado o “berço das águas” do país.
Considerações
Finais
O
intenso processo de ocupação da região dos cerrados, realizado mediante
programas e políticas governamentais orientadas por visões que
desconsideraram o meio ambiente e que, apesar de seu discurso
“racionalizador” e “integrador” da sociedade nacional, causa danos
ambientais, culturais e sociais enormes.
O
município de Rio Verde, localizado em área de cerrado, vem sentindo mais
especificamente esses danos causados por esse discurso “racionalizador”.
Apesar da modernização agrícola da região, do aumento da produtividade
para atender ao mercado externo e da geração de empregos (normalmente na
linha de produção das agroindústrias), o município tem apresentado inúmeros
problemas sociais e ambientais, decorrentes do rápido crescimento
populacional, uma vez que cidade não comporta a grande quantidade de
pessoas que chegam atraídas pela propaganda desenvolvimentista.
O
modelo agroindustrial trouxe uma nova característica a esse processo: a
necessidade de elevada capitalização para o investimento inicial, o que
exclui de certa maneira os pequenos produtores, e a expansão da
agricultura a nível empresarial com utilização intensiva de agrotóxicos
e forte mecanização o que provoca grande êxodo rural, isto é, aqueles
empregos tradicionalmente do campo deixam de existir, além da incorporação
das pequenas propriedade por parte dos grandes latifúndios.
Esse
processo agroindustrial tem seu lado positivo quando se trata da geração
de emprego para a população urbana, uma vez que junto com essas grandes
agroindústrias vem as “empresas ou indústrias satélites” como é o
caso da Videplast Ltda e do Grupo Orsa S/A, que se instalaram no município
de Rio Verde exclusivamente em função da Perdigão, ambas as empresas são
fornecedoras de embalagem, mas é preciso ressaltar que esse modelo
agroindustrial causa sérios danos ambientais e sociais.
Sendo
assim, é preciso reavaliar com urgência esse modelo de desenvolvimento
agrícola nos domínios do cerrado. É preciso elaborar diretrizes que
sejam cumpridas de forma séria e racional, levando em conta o meio
ambiente e as populações que nele vivem, a fim de que possamos realizar
o tão falado desenvolvimento sustentável.
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