CLEBER BONGIORNO

Graduando em Administração na Universidade Estadual de Maringá (UEM) 

RESENHA:

LAFARGUE, Paul. O Capital. Extratos por Paul Lafargue. Tradução de Abguar Bastos. São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2004, 157p.

 

O Capital: Extratos por Paul Lafargue

Cleber Bongiorno

 

Paul LafarguePaul Lafargue nasceu em Santiago de Cuba, mudou-se para Paris onde se formou em Medicina. Foi uma das principais figuras do movimento revolucionário internacional. Participou do Conselho Geral da I Internacional, organizando ativamente as seções francesa e espanhola. Após a derrota da Comuna de Paris (1871), da qual também fez parte, refugiou-se na Espanha e organizou um núcleo socialista. Logo aderiu ao marxismo, após incorporar a elaboração teórica de Karl Marx. Sua obra mais famosa é O Direito à Preguiça, um grito de revolta contra a superexploração da classe trabalhadora, que se tornou um dos marcos da luta pela jornada de oito horas de trabalho.

Com esta obra, Paul Lafargue, traz um resumo das principais partes do primeiro tomo de O Capital, com o objetivo de popularizar as idéias de Karl Marx, assim como o intuito de trazer a compreensão da história humana e do funcionamento do sistema social e capitalista, fazendo assim desta obra uma ferramenta de análise crítica, teórica e prática do capitalismo.

O Capital, extratos de Paul Lafargue está dividido em duas partes. A primeira parte intitulada “Mercadoria e Moeda” está dividida em três capítulos. No primeiro capítulo, Lafargue trata da Mercadoria como um objeto produzido pelo trabalho humano, que é trocado por seu produtor em vez de ser por ele consumido e que, por suas propriedades, tende a satisfazer às necessidades humanas de qualquer natureza, e que para isto acontecer ela precisa ter alguma utilidade de uso, o que dá a ela seu valor de uso e conseqüentemente um valor de troca. Contudo, esses valores são medidos através da força de trabalho dispendida para criar aquela mercadoria, ou seja seu valor é medido pelo quantum de trabalho dispendido durante sua produção.

No capítulo II, Lafargue discute a troca como uma medida equivalente geral, ligada exclusivamente, a uma espécie particular de mercadoria ou na forma de dinheiro. Segundo ele, é a troca que dá valor as mercadorias representando cada vez mais o trabalho humano em geral, ou seja a forma dinheiro se fixa as mercadorias cuja natureza as torna aptas a desempenhar a função social de equivalente geral.

A Circulação das Mercadorias, é retratada no capítulo III, onde ele cita que a toda mercadoria precisa circular, e que esta circulação se dá através das trocas, dando forma de não-valor às mãos nas quais elas servem de valor de uso. As trocas se realizam por meio de duas metamorfoses opostas que se completam mutuamente – a transformação da mercadoria em dinheiro e sua retransformação, de dinheiro em mercadoria. Essas duas metamorfoses da mercadoria representam, ao mesmo tempo, do ponto de vista do possuidor, dois atos: venda, troca da mercadoria pelo dinheiro; - compra, troca de dinheiro pela mercadoria, sendo a unidade desses dois atos: vender e comprar. Assim, o dinheiro funciona como meio de circulação, pois ele é a forma de valor das mercadorias, ou seja o movimento impresso do dinheiro pela circulação das mercadorias o afasta, do seu ponto de partida, para fazê-lo passar sem cessar de uma mão a outra, é o fenômeno denominado curso do dinheiro

Na segunda parte “A transformação do dinheiro em capital”, Lafargue dividiu em seis capítulos, do IV ao IX. No capítulo IV é discutido sobre a forma geral do capital. Aqui todo capital novo entra em cena, isto é, no Mercado – mercado dos produtos, mercado do trabalho, mercado do dinheiro -, sob a forma de dinheiro, dinheiro que deve transformar-se em capital por meio de processos especiais e que a forma imediata da circulação das mercadorias é M-D-M, transformação da mercadoria em dinheiro e retransformação do dinheiro em mercadoria, vender para comprar. Ao lado dessa forma, encontra-se outra inteiramente distinta, isto é, a forma: D-M-D, transformação de dinheiro em mercadoria e transformação da mercadoria em dinheiro, comprar para vender.

No capítulo V “Contradições da Fórmula Geral do Capital”, Lafargue cita que o que distingue a circulação do capital da circulação simples é a ordem de sucessão inversa das duas fases opostas, venda e compra. A transformação do dinheiro em capital deve ser explicada tomando por base as leis imanentes da circulação das mercadorias, de forma que a troca de equivalentes sirva de ponto de partida. A compra e venda da força de trabalho é tratada no capítulo VI, citando que o possuidor de dinheiro e o possuidor da força de trabalho se encontram no mercado e entram em relação um com o outro na mesma condição de possuidores de mercadorias, diferindo apenas no seguinte: um compra e o outro vende e, por isso mesmo, ambos são pessoas juridicamente iguais. Como valor, a força de trabalho representa o quantum de trabalho social realizado nela, assim como o tempo de trabalho necessário à produção da força de trabalho, resulta portanto, no tempo de trabalho necessário a produção dos meios de subsistência. Ou, ainda, a força de trabalho tem justamente o valor dos meios de subsistência necessários ao homem que a põe em ação. Como a força de trabalho equivale a uma soma determinada de meios de subsistência, o seu valor sendo, portanto, com o valor desses meios de subsistência, isto é, proporcionalmente ao tempo de trabalho necessário à sua produção.

No capítulo VII, “Produção de valores de uso e produção de mais-valia”, ele cita que o uso ou o emprego da força de trabalho é o trabalho. Para Lafargue, o caráter de produto, de matéria-prima ou de meio de trabalho, só se liga a um valor de uso, segundo uma determinada posição que esse valor ocupa no processo de trabalho: a mudança de sua posição leva a mudança de seu caráter e que se além de resultado, um produto é também condição para a existência do processo de trabalho, é somente pondo-o em contato com o trabalho vivo que esse resultado do trabalho passado pode ser realizado como valor de uso. Não é outra coisa que a produção de valor prolongada além de um certo ponto. Se o processo de trabalho dura apenas o tempo necessário para substituir o valor de força de trabalho pago pelo capital por um equivalente novo, há simplesmente a produção de valor. Quando esse tempo é ultrapassado, se inicia a produção de mais-valia.

No capítulo VIII, é retratado o capital constante e o capital variável. Aqui ele cita que no curso da produção, a parte do capital que se transforma em meios de produção, isto é, em matéria-prima, matéria auxiliares e instrumentos de trabalho, não modifica a magnitude de seu valor. E a razão pelo qual chamamos parte constante do capital ou, mais simplesmente, capital constante. Já a parte do capital transformada em força de trabalho, pelo contrário, muda de valor no curso da produção. Essa parte do capital transforma-se incessantemente de grandeza constante em grandeza variável. É a razão pelo qual a denominamos parte variável do capital ou, mais simplesmente, capital variável.

O capítulo IX denominado de Taxa de mais-valia, mostra que o capital constante consumido no ato da produção sob forma de dispêndio de máquinas, de matérias auxiliares e de matérias-primas, reaparecendo no produto sem lhe acrescentar novo valor, pode ser eliminado do cálculo da taxa de mais-valia. Assim, sendo o capital variável, consagrado à compra da força de trabalho, o criador da mais-valia, torna-se evidente que a relação da mais-valia para o capital variável determina a taxa dessa mais valia como: P/V, onde P = mais-valia e V = capital variável.

Lafargue termina com um adendo das Recordações Pessoais sobre Karl Marx, onde ele descreve toda a trajetória de sua vida ao lado de Marx, desde o primeiro encontro, até os momentos pessoais e íntimos da vida de Marx, sua relação com a família, esposa, e com seus ideais socialistas, acompanhando sua trajetória de homem de ciência e de lutador socialista.

De um modo geral, o autor, deixa claro que devemos adotar uma postura crítica, de procurar a verdade do conhecimento científico e valorizar a objetividade das coisas que o rodeiam. Ele enfatiza que a maioria dos problemas estudados pelos cientistas surgem a partir de um conjunto de teorias científicas que funciona como um conhecimento de base. E é este conhecimento de base que procura nos fornecer através destes extratos de O Capital, deixando claro que a formulação e resolução de problemas só podem ser feitas por quem tem um bom conhecimento. Coerente com essas preocupações, Lafargue ilustra que Marx sempre procurou, com a abordagem crítica das relações, buscar investigar o que ocorre nos grupos e instituições, relacionando as ações humanas com a cultura e as estruturas sociais e políticas, procurando entender de que forma as redes de poder são produzidas, mediadas e transformadas.

Através, desta obra o autor tenta nos mostrar de uma maneira resumida as idéias de Karl Marx sobre o capitalismo e de como ele influencia em nossa vida, com o intuito de enriquecer o leitor, seja em nível acadêmico ou fora dele, com um clássico da economia política que é O Capital.

 

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Última atualização: 03 dezembro, 2004.