Oportunidades
da Cadeia Agroindustrial do Coco Verde
Do
coco verde nada se perde, tudo se desfruta
Elói
Martins Senhoras
Resumo
Nos
últimos anos, especial atenção vem sendo dada para minimização
ou reaproveitamento de resíduos sólidos gerados nos diferentes
processos industriais. Os resíduos provenientes da indústria e
comércio de alimentos envolvem quantidades apreciáveis de casca,
caroço e outros elementos. Esses materiais, além de fonte de matéria
orgânica, servem como fonte de proteínas, enzimas e óleos
essenciais, passíveis de recuperação e aproveitamento.
O
aumento crescente no consumo do coco verde e a vocação natural
para a industrialização de sua água vem aumentando a geração
do rejeito, que corresponde a cerca de 85% do peso do fruto.
Dessa
forma, o presente trabalho valida a hipótese do aproveitamento do
resíduo do coco verde através de uma cadeia agroindustrial para
a geração de novos produtos, de maneira a criar mecanismos de
reciclagem e uma alternativa a mais de lucro para os sítios de
produção.
Com
essa discussão proposta são fornecidos os subsídios para a
utilização de toda a potencialidade de geração e uso dos
subprodutos do coco verde, que se revela como uma genuína política
pública eco-eficiente e sócio-ambientalmente responsável do
setor privado, potencial de geração de oportunidades de trabalho
e renda e por conseguinte contribuindo com soluções para o
desenvolvimento econômico da empresa rural.
Palavras
Chaves:
aproveitamento de resíduos,
cadeia agroindustrial do coco,
coco verde, reciclagem.
Abstract
In
the past years, special attention has been focused to the
minimization and to the recycling of solid residues generated in
different industrial places. The residues originated from the
industry and from the food commerce involve appreciable quantities
of shell, lump and others elements. These materials subjected to
recuperation and reutilization are sources of organic matter,
proteins, enzymes and essential oils.
The
higher increase in the consumption of the green coconut and the
natural vocation for the industrialization of its water has
increased the generation of trash, that corresponds to around 85%
of the weight of the fruit.
Taking
these considerations as granted, this paper validates the
hypothesis of the utilization of the residues of the green coconut
through the generation of new products, and the implications to
create recycle mechanisms and a more profitable alternative to the
production sites.
Throughout
the proposed discussion subsidies are supplied to the use of all
the generation potential and the use of sub-products of the green
coconut, that are revealed as genuine echo-efficient public
policies and socio-environmental responsible actions of the
private sector, opening work and income opportunities and
consequently contributing with solutions to the economic
development of the rural enterprises.
Keywords:
utilization of residues, agro-industrial chain of green coconut,
green coconut, recycle. |
O
aprofundamento na utilização dos recursos produtivos, potencialmente
aproveitáveis, mas que no momento são tratados como resíduos numa nítida
indicação de desperdício, merece mais que uma simples reflexão
passageira, pois no setor agroindustrial não há o reconhecimento pela
sociedade como sendo um setor que polui o meio ambiente.
A partir
dessa problemática de oportunidades justifica-se cada vez mais a
necessidade de se falar de meio ambiente a partir de novas formas de
atuação no que se refere aos aspectos econômicos e empresariais por
meio de propostas do aproveitamento dos resíduos de coco verde que
resultem em inúmeros novos produtos.
O coco
apresenta inúmeras vantagens na sua utilização, que além de ser um
material ecológico e facilmente reciclável, pertencente à família
das fibras duras, tem como principais componentes a celulose e o lenho
que lhe conferem elevados índices de rigidez e dureza, encontrando-se
perfeitamente vocacionada para os mercados de isolamento térmico e acústico,
face às suas características, que a tornam num material versátil,
dada a sua resistência, durabilidade e resiliência.
Se o rejeito da indústria
convencional do coco maduro pode ser usado como combustível para
caldeiras, ou na manufatura de cordoalha, tapetes, estofamentos e
capachos, estudos mais recentes sugerem ainda a utilização do resíduo
da casca verde na agricultura intensiva, principalmente no cultivo de
plantas ornamentais e hortaliças; na indústria de papel; na engenharia
de alimentos para complementação alimentar humana e animal e na produção
de enzimas; na indústria de construção civil e em matrizes polimétricas,
o aproveitamento da casca do coco verde, gerado tanto como resíduo
industrial quanto como lixo urbano, significaria mais uma alternativa de
lucro para os sítios de produção.
Perante
estes fatos, este paper tem
por objeto oferecer a esse mercado uma alternativa para o aproveitamento
de resíduos do coco verde, transformando-os em novos produtos. Uma das metas principais deste projeto, portanto, é
propor um uso adequado do coco verde, para terminar com as restrições
de reaproveitamento, seja por apresentar muita umidade ou por não ter
características tão atraentes quanto ao coco maduro.
Acrescente-se
a isso, nada mais consistente que percorrer esse processo com base na
metamorfose de conceitos, fazendo com que os denominados resíduos do
coco verde, atualmente considerados lixo, desperdício e ameaça
ambiental, sejam transformados em matérias-primas de processos
produtivos de mercadorias sofisticadas, ou seja, em oportunidades de
geração de riqueza e de postos de trabalho ao longo de uma cadeia
agroindustrial composta por: i) Produtor; ii) Indústria de
Processamento; iii) Indústria de Resíduo; e finalmente, iv)
Consumidor.
2 - Empresa
rural, meio ambiente e aproveitamento de resíduos
Com o desenvolvimento das tecnologias limpas, o
adequado respeito ao meio ambiente deixou de ser associado ao risco
empresarial e o custo econômico extra passou a ser interpretado como
oportunidade de mercado e lucro. Os “eco-produtos” são um mercado
promissor para as empresas rurais, pois a modificação do conceito de
qualidade de vida e do produto, que agora deve ser ecologicamente viável,
tem influenciado as novas preferências dos consumidores por “produtos
verdes”.
Diante
disso, o aprofundamento das mudanças estruturais pelo desenvolvimento
da cadeia agroindustrial do coco verde passa pela intensificação da
utilização dos recursos produtivos, de modo que a fronteira disponível
para esse incremento situa-se dentro da própria estrutura produtiva já
implementada, aprimorando processos e, principalmente, transformando em
oportunidades as ameaças, como é o caso representado pelos resíduos
agroindustriais.
Esses resíduos,
enquanto matérias-prima não utilizadas, apresentam custos de desova
importantes para a sociedade. Aproveitá-los é condição inexorável
do avanço da cadeia agroindustrial do coco verde, gerando oportunidades
de trabalho e de renda, ou seja, ampliam-se com isso as bases sociais da
produção e riqueza.
Há
que se destacar o sentido de complementaridade do aprofundamento do
desenvolvimento da cadeia agroindustrial do coco verde representado pela
utilização econômica dos resíduos, reciclando-os para o uso
produtivo.
Box
I
- Empresas rurais
bem-sucedidas no aproveitamento de resíduos
O
próprio sentido da 1a Revolução Industrial, uma
verdadeira revolução agroindustrial, mostra bem esse aspecto
pela revelação dos impactos sobre a vida humana do uso
generalizado dos têxteis com tecidos de algodão barato e lavável,
associado a um subproduto importante representado pela disseminação
do sabão feito de óleos vegetais. O desenvolvimento ao limite
das potencialidades de transformação para uso produtivo dos vários
produtos derivados do algodão em caroço, representados pela
pluma que seria fiada para se fabricar tecidos, pelo línter
usado em fios especiais, pelo caroço que passou a ser esmagado
para produção de farelo para arraçoamento animal e óleo
vegetal para uso culinário ou fabricação de produtos de
higiene, transformou o algodão em caroço numa matéria-prima
bruta capaz de mover uma imensa gama de fábricas, a partir de
seus vários subprodutos. Denominar os demais subprodutos de resíduos
da produção de fibra significa ignorar as importâncias específicas
e seus impactos sobre a vida humana.
Ao
aprofundar o processo de uso do coco verde, ao mesmo tempo em
que se reduzem os impactos perversos sobre o meio ambiente e as
pressões sobre outros recursos naturais, amplia-se a
sustentabilidade agro-sócio-econômica, gerando oportunidades
de trabalho, de incremento da renda e de alargamento da base de
consumo.
Um
exemplo nacional importante pode ser dado citando-se a cadeia de
produção sucroalcooleira paulista. Com a expansão canavieira
para dar conta da produção de álcool combustível com a
implementação do Programa Nacional do Álcool (Proalcool) da
metade dos anos 70 em diante, a grande incógnita era o destino
do vinhoto e do bagaço de cana. O vinhoto transformou-se em
fertilizante que permite o retorno à terra de nutrientes
fundamentais, enquanto que o bagaço se converteu num subproduto
de várias destinações como volumoso para ração animal ou
como combustível na geração de energia. A levedura de fundo
de dorna e a ponta de cana são elementos complementares na
alimentação de bovídeos em confinamento. Dessa maneira,
desenvolveu-se uma série de alternativas que conferem grande
valor econômico a esses sub-produtos.
Em
outro agronegócio paulista, o de sucos cítricos, os números
da exportação de 1998 mostram o suco de laranja concentrado
congelado gerando US$ 1,3 bilhão e os pellets
de bagaço US$ 104 milhões, ou seja, o segundo produto da
fruticultura brasileira na geração de divisas, superior a todo
complexo nordestino de frutas secas.Portanto, esses dois casos
de sucesso elucidam a importância do aproveitamento de resíduos,
e ilustram quais as possibilidades quanto a reciclagem do coco
verde, na transformação em novos produtos.
Fonte: Elaboração própria. |
2.1 - Incentivos para o aproveitamento de resíduos
do coco verde
O elemento
de universalidade do processo de desenvolvimento econômico da cadeia
agroindustrial do coco está nas distintas capacidades de transformar as
oportunidades de aproveitamento dos resíduos em diversos complexos
produtivos, criando e consolidando segmentos de emancipação de tarefas
antes restritas.
Nesse
processo de reconceituação dos resíduos como o status de subprodutos estratégicos de novas “indústrias”,
transformando constantemente ameaças ambientais em oportunidades,
existem certos incentivos econômicos que se fazem mister; aí o tem o
Estado sua importância.
Não
obstante, na cadeia agroindustrial do coco verde, existem alguns
incentivos tradicionais trazidos pelo Estado brasileiro para a exploração
das fibras, que são garantidos pela Lei cinqüentenária no
594, de 24 de Dezembro de 1948, ainda em vigor.
Não
se pode renegar que é preciso traduzir essas oportunidades em propostas
concretas em nível microeconômico e para tal, faz-se necessário
refletir sobre as políticas públicas necessárias a incentivar o
crescimento responsável ambientalmente e socialmente, em especial com a
criação de pequenas empresas especializadas em identificar nichos e
oportunidades potenciais dos resíduos de coco verde.
Ademais,
em um mundo globalizado, as parcerias comerciais se fazem cada vez mais
necessárias, de forma que a fibra de coco, tratando-se de uma commodity
internacional e a base de diversos novos eco-produtos pode unir o país
com diversos outros países para se realizar bons negócios de comércio
e transferência tecnológica.
Como
os gargalos tecnológicos são pontos de estrangulamento de natureza técnica
na cadeia agroindustrial do coco verde, o que impede o seu
desenvolvimento através da utilização de resíduos, a criação de um
ambiente de comunicação entre os agentes envolvidos, para o
conhecimento e a identificação de problemas tecnológicos específicos
e a motivação desses atores para resolver esses problemas e aproveitar
as oportunidades identificadas é função essencial do Estado, através
da utilização de uma política agroindustrial para esse segmento, com
a integração da iniciativa privada, agências de pesquisas,
universidades e até mesmo, parcerias internacionais como no caso
indiano.
Box
II – Exemplo de uma cadeia agroindustrial bem-sucedida no aproveitamento do
coco
Uma
das iniciativas bem sucedidas de articulação dos elos da
cadeia produtiva do coco maduro e verde para a utilização de
resíduos é o Programa POEMA
- Pobreza e Meio Ambiente na Amazônia, da Universidade Federal
do Pará. A cadeia produtiva do coco envolve, na produção,
cerca de 5.000 pessoas de 17 comunidades rurais. A extração da
fibra se dá em 7 agroindústrias comunitárias no interior do
Estado do Pará, que comercializam o produto diretamente no
mercado local, para a indústria POEMATEC. A comercialização
da linha de jardinagem beneficia as comunidades rurais e é,
hoje, um incentivo para o uso de materiais recicláveis. A
utilização do látex vem dando um novo impulso para a produção
de borracha, servindo como insumo importante para as peças
produzidas.
Além
de todos os atores envolvidos diretamente no projeto, ele
somente pode ser explicado com um caso bem sucedido, devido aos
incentivos fiscais ao longo de toda a cadeia do coco assegurados
pelo Governo do Pará, concedendo diferimento e redução fiscal
nas operações com o produto final e isenção para máquinas e
equipamentos. Ao conceder os benefícios, a meta foi incentivar
a diversificação da produção e melhorar o padrão de
qualidade dos produtos, além de ter garantido mais emprego e
renda para a população pobre local.
Fonte: Elaboração Própria.
Baseada em Poema (2002). |
3 - Aproveitamento do coco
verde: Transformando a ameaça dos resíduos em alternativas eco-eficientes
No
Brasil, aproximadamente 85% da produção nacional de cocos são
comercializados como seco: a metade é para uso culinário e o restante
é industrializado, obtendo-se uma série de produtos como leite, sabão,
óleo etc. Cerca de 15% da produção é consumida ainda verde para
extração de água que também é industrializada.
Entretanto,
nos últimos anos, principalmente a partir da década de 90, com a
conscientização da população para os benefícios dos alimentos
naturais, verificou-se um grande crescimento da exploração do coqueiro
anão, visando a produção do fruto verde, para o consumo de água, que
é um produto natural de excelentes qualidades nutritivas.
O
mercado de água de coco verde tem crescido mundialmente nos últimos
anos devido a valorização de alimentos saudáveis e naturais. Segundo
o Sindicato dos Produtores de Coco Verde, em 1998, cerca de 1,4% do
mercado de refrigerantes e bebidas era relativo ao consumo de água de
coco verde.
Portanto,
os rejeitos do coco verde geram volumes significativos e crescentes de
material, que atualmente é enterrado em lixões, causando problemas,
especialmente em grandes centros urbanos (Rosa,
1998).
Porém,
nos dias atuais, toda a experiência histórica internacional da utilização
da fibra de coco, pode ainda nos dar bons exemplos de mercadorias
eco-eficientes para a produção segundo as tecnologias hodiernamente
existentes, haja vista que a geração de conhecimentos para
aprimorar-se o aproveitamento dos resíduos do coco verde representa
outra diretriz básica para o sucesso da empreitada de obter-se o máximo
benefício dessa dada matéria-prima bruta. Nos próximos itens serão
discutidas as possibilidades de aproveitamento do coco verde em sua
cadeia agroindustrial através de diversos tipos de tecnologias já
disponíveis.
3.1 - Utilização do
coco verde na produção de mantas e telas para proteção do solo
A
fibra do coco verde ou maduro pode ser empregada na área agrícola como
matéria-prima para a proteção de solos, no controle da erosão e na
recuperação de áreas degradadas.
A
fibra, tecida em forma de manta é um excelente material para ser usado
em superfícies sujeitas à erosão provocada pela ação de chuvas ou
ventos, como em taludes nas margens de rodovias e ferrovias, em áreas
de reflorestamento, em parques urbanos e em qualquer área de declive
acentuado ou de ressecamento rápido (Aragão,
2002).
As
mantas e telas utilizadas na bem sucedida recuperação de áreas
degradadas têm lenta decomposição, protegem o solo diminuindo a
evaporação aumentando a retenção de umidade, protegendo e aumentando
a atividade microbiana do solo e, conseqüentemente, criando as condições
favoráveis ao desenvolvimento vegetal.
O sistema
de telas e mantas biodegradáveis tem a vantagem de proporcionar a rápida
recuperação do solo e a um baixo custo, se comparado com outros
sistemas. Tem ainda a vantagem de ser incorporado ao terreno com o
passar do tempo, diminuindo o impacto gerado sobre o meio ambiente.
Pode-se salientar também os ganhos estéticos para a paisagem logo após
a instalação dos mesmos.
As
mantas podem também trazer as sementes de gramíneas incorporadas às
fibras, as quais germinarão tão logo sejam fixadas no solo e regadas
regularmente. Existem ainda redes orgânicas tecidas com fibra de coco
verde, em cujas malhas é feito o plantio da espécie vegetal desejada.
3.2 – Utilização da fibra
de coco verde na biotecnologia e agricultura
O
resíduo da fibra de coco verde como substrato de cultivo tem sido
utilizado com êxito. As razões de sua utilização são suas
extraordinárias propriedades físicas,
sua facilidade de manejo e sua característica ecológica.
A
fibra de coco é uma matéria-prima para elaborar substratos que se
destaca por elevada estabilidade e capacidade de retenção de água,
assim como uma boa aeração.
Concretamente
para a técnica hidropônica é comprovado que a fibra de coco verde tem
necessidades nutritivas inferiores aos tecidos minerais que normalmente
se empregam para este tipo de cultivo.
A
fibra de coco utilizada como componente de substratos a base de turfa
proporciona uma alta capacidade de retenção de água, uma elevada aeração
do sistema radicular, assim como uma grande estabilidade dos valores de
pH e condutividade elétrica do meio.
A
utilização da fibra de coco verde como substrato para o crescimento de
plantas tem sido pesquisada e os resultados mostram que as plantas que
crescem em substratos contendo fibra de coco apresentam altas produções
e qualidade em relação a outros substratos como areia, ou xaxim,
portanto tratando-se de um produto ecológico.
A
transformação da casca do coco verde em pó é também uma alternativa
ecologicamente correta e adequada a um substrato agrícola. O pó do
coco usado pela agricultura no mercado internacional chega a custar US$
250 a tonelada.
3.3 – Utilização da fibra
de coco na produção de papel
O
consumo de papel derivado da indústria madereira é uma das causas de
deflorestamento no mundo, o que ilustra a preocupação de encontrar
alternativas não-madeireiras, tal qual o retorno de resíduos agrícolas
como fonte primária para a fabricação de papel.
Estima-se
que os países em desenvolvimento têm um papel fundamental neste
processo, pois neles se encontram disponíveis uma cifra de 2.500 milhões
de toneladas de resíduos da produção agrícola e agroindustrial.
Diante
dessa preocupação, a utilização da casca do coco verde pode
representar uma considerável porcentagem de matéria-prima para a indústria
de papel e celulose, haja vista que dentro dos padrões industriais, se
considera que um material vegetal é apto para a produção de papel
quando apresenta uma porcentagem de 33% de celulose, componente básico
na elaboração deste produto.
Conforme
pesquisa desenvolvida pelo engenheiro Fred Albán, do Departamento de
Materiais da Universidad del Valle,
da Colômbia e os estudantes Hector Caviedes e Walter Rojas do Curso de
Engenharia Química da mesma instituição, a celulose presente na casca
do coco verde é ao redor de 35% (Vidal,
s.d.).
A
fibra principal, da qual se extrai a polpa, chama-se comumente cuauá,
ou Ananas erectifolius e ela
é muito curta, o que impossibilita a sua utilização como matéria-prima
única para a produção de papel. Ela deve ser mesclada com outro tipo
de polpa que possua fibras cumpridas, que são as que dão a resistência
e flexibilidade do papel. Dessa maneira, associada com outros materiais,
obtém-se uma ampla gama de papéis, com diferentes cores, texturas,
espessuras e aparências.
Utilizando-se
como fonte de fibra celulósica a casca de coco verde, a mescla de polpa
permite a utilização de menor quantidade de polpas extraídas de
madeiras como pinheiros e eucaliptos, reduzindo assim o tempo de corte
das árvores e por conseguinte, ampliando a quantidade de papel
produzido ou diminuindo a área de plantio.
Não
obstante, existem limitações quanto ao planejamento e a gestão logística,
uma vez que devem ser trabalhados conforme as diferentes regiões a
serem adotados os projetos de integração entre a indústria de papel e
celulose e a cadeia agroindustrial do coco verde.
Dessa maneira, fatores como a dispersão dos resíduos, coleta e
transporte causam impactos que devem ser minimizados ou racionalizados.
Indubitavelmente,
a prospecção tecnológica na indústria de papel e celulose pode
produzir excelentes resultados à curto e médio prazos, quando
utilizado o aproveitamento da casca do coco verde, que atualmente causa
graves problemas ambientais.
3.4 - Utilização da fibra de
coco verde na engenharia de alimentos & zootecnia
3.4.1
- Utilização da fibra de coco no enriquecimento de alimentos para a
alimentação humana
Como o desenvolvimento tecnológico
mundial avança cada vez mais no caminho dos processos biotecnológicos,
devido à irreversível tendência de prevalência das políticas
ambientais, a substituição de processos químicos convencionais por
processos enzimáticos torna o desenvolvimento e o aprimoramento desta
tecnologia de suma importância.
O
aumento das técnicas de imobilização de enzimas em substratos
permitiu que os processos obtidos por esta técnica alcançassem preços
mais competitivos.
Uma
das alternativas para a casca de coco verde poderia ser o seu
aproveitamento em processos fermentativos,
com a produção de enzimas. Como a maioria dos rejeitos
agroindustriais, estes materiais contêm grande quantidade de compostos
como celulose, hemicelulose, pectina e outros, não havendo necessidade
de grandes complementações nutricionais para o adequado
desenvolvimento microbiano. Estes compostos funcionam como indutores
para a produção de enzimas extracelulares, tais como celulases,
xilanases, pectinases e outras (Coelho
et alii., 2001).
No campo da
comercialização de enzimas, o Brasil é ainda, basicamente consumidor
de produtos importados, o que insere o potencial do coco verde, como uma
arma estratégica para o aproveitamento de suas fibras e como alavanca
para o desenvolvimento de uma indústria de enzimas nacional.
Portanto, investir no aproveitamento
da casca de coco verde para a produção de enzimas significa se inserir
em um mercado de tecnologia enzimática que movimenta, anualmente, cerca
de 2 bilhões de dólares. Tal montante justifica-se pelo interesse
gerado por processos que envolvem tecnologia de baixo custo energético,
com menor impacto ambiental e que utiliza matérias-primas renováveis,
adequando-se ao reaproveitamento de sub-produtos da agroindústria.
3.4.2
- Utilização da fibra de coco verde em complementação alimentar
animal
A América Latina produz mais de 500
milhões de toneladas de subprodutos e resíduos agroindustriais. O
Brasil produz mais desta metade. Embora esses materiais
volumosos sejam pobres em nutrientes, eles podem suprir em parte as
necessidades energéticas dos animais, se previamente tratados e
melhorados para este fim.
O Brasil como país tropical,
apresenta excelentes condições para a exploração de ruminantes em
pastagens, porém em determinados períodos do ano, a dificuldade de
adquirir alimentos volumosos em regiões áridas e semi áridas, em épocas
secas, torna-se uma árdua e difícil tarefa para muitos produtores
rurais. Neste contexto, aparecem os resíduos e os subprodutos agropecuários,
como as palhas, o bagaço de cana-de-açúcar e a fibra do coco verde.
que podem oferecer excelente opção como alimentação alternativa para
os ruminantes, já que sendo animais poligástricos, possuem um aparelho
digestivo especial, capaz de converter resíduos e subprodutos agropecuários
sem utilidade alguma na alimentação humana, em carne, leite, lã, etc.
Segundo
pesquisas, em nível mundial o coco é mais conhecido por suas
propriedades oleaginosas. Depois de extraído o óleo da polpa, ou copra,
o resíduo, também chamado de torta, é empregado na alimentação de
animais, por ser uma ração rica, com 20 por cento de proteína. (Simões,
2002).
Porém,
existe um alerta sobre a utilização dos cocos verdes, esses alimentos
podem apresentar uma baixa digestibilidade, possuem freqüentemente
pouca palatabilidade, razão pela qual sua ingestão voluntária é
limitada. Isto dificulta o atendimento das necessidades dos animais que
as consomem, quando administradas como fonte única de nutrientes.
Materiais lignocelulósicos, mesmo o coco sendo verde, quando são
administrados na alimentação animal, sem um prévio tratamento,
proporcionam insuficientes quantidades de minerais, energia e proteínas
para manter sequer o peso corporal dos animais.
Existem
algumas maneiras práticas de melhorar o aproveitamento da fibra do coco
verde na alimentação animal. O tratamento químico é uma delas. A técnica
é de fácil manuseio, relativamente barata e bastante acessível aos
produtores.
Ao longo desses anos, diversas
entidades governamentais e não governamentais, quer seja por iniciativa
própria, ou mesmo recomendados por organizações como a ONU buscam
incansavelmente soluções sistemáticas quanto ao aproveitamento desses
subprodutos e resíduos na alimentação animal. Na verdade, esses
materiais, quando adequadamente tratados e tecnicamente orientados na
alimentação animal podem representar um enorme benefício à população
mundial.
3.5 - Utilização da fibra de
coco na engenharia civil e de materiais
3.5.1
- Utilização da fibra de coco em
matrizes poliméricas
Compósitos
reforçados com fibras naturais podem ser uma alternativa viável em
relação aqueles que usam fibras sintéticas como as fibras de vidro.
As fibras naturais podem conferir propriedades interessantes em
materiais poliméricos, como boa rigidez dielétrica, melhor resistência
ao impacto e características de isolamento térmico e acústico.
Na indústria
de embalagens existem projetos para a utilização da fibra de coco como
carga para o PET, podendo gerar materiais plásticos com propriedades
adequadas para aplicações práticas e resultando em contribuição
para a resolução de problemas ambientais, ou seja, reduzindo o tempo
de decomposição do plástico.
A indústria
da borracha é receptora também de grande número de projetos
envolvendo produtos ecológicos diversos, desde a utilização da fibra
do coco maduro e verde na confecção de solados de calçados, até
encostos e bancos de carros,
estofamentos e colchões.
Dessa forma
é possível diminuir o preço do produto final, à medida que se
aumenta a quantidade de utilização do resíduo do coco verde.
A
fibra de coco verde tem sido muito estudada para a utilização na
composição de novos materiais (biocompostos) com polímeros tais como
polietileno, poliéster, polipropileno. Neste caso, a utilização da
fibra de coco para a obtenção de biocompostos é importante por ser um
processo barato, natural e renovável. A maioria destes biocompostos
apresenta um aumento de biodegradação. A fibra de coco verde age como
um componente reforçador da matriz dos polímeros. Assim, altera as
propriedades mecânicas destes compostos tais como resistência em relação
à tensão, tração e elongação na ruptura.
A
fibra de coco verde, em especial, necessita sofrer um processo de
modificação química superficial, de forma a proporcionar maior
compatibilidade com os polímeros empregados. Esses processos dependem
do tipo de polímero que vai compor o biopolímero e as características
finais desejadas do produto. Os exemplos de processos disponíveis para
o tratamento superficial da fibra de coco são: tratamento com base, ácidos,
acetilação, cianoetilação e inserções de vinil.
As
modificações superficiais da fibra de coco otimizam a adesão da fibra
à matriz de polímero. Os biopolímeros
compostos com fibras tratadas tanto por base quanto por ácido,
apresentam uma maior facilidade de biodegradação.
Portanto,
a produção de diversos artefatos derivados da fibra do coco verde para
a indústria é tecnicamente viável, uma vez os produtos obtidos com a
adição da fibra de coco maduro ou verde têm propriedades semelhantes
aos compostos originais, ou até mesmo melhores.
3.5.2
- Utilização da fibra de coco na construção civil
Com
o surgimento dos eco-materiais
para revestimentos, pinturas, e tubulações entre outros, o processo de
reciclagem aplicado à construção teve um progresso considerável.
A incorporação de fibras em
materiais pouco resistentes à tração – materiais frágeis – tem
sido usada há milênios. No antigo testamento existe a referência
sobre a impossibilidade de se fazer tijolos sem palha.
Ademais,
a crise energética mundial das últimas 2 décadas tem motivado o
desenvolvimento de pesquisas sobre o fibro-cimento ou fibro-concreto
devido ao fato de a fabricação de cimento exigir menor demanda de
energia comparada com a necessária à fabricação do aço ou dos plásticos.
Assim,
no Brasil, a utilização da fibra de coco verde na construção civil
pode criar possibilidades no avanço da questão habitacional, através
da redução do uso e do custo de materiais, envolvendo a definição de
matrizes que inter-relacionam aspectos políticos e sócio-econômicos.
A
fibra de coco verde tem um excelente potencial para uso na construção
civil através de pranchas pré-moldadas, por suas características de
resistência e durabilidade, ou na utilização do fibro-cimento.
No caso da
construção civil, a fibra de coco verde deve ser usada com cimento
especial, de baixo teor de alcalinidade. A alcalinidade do cimento
normal destrói as fibras, fazendo com que a parede apresente rachaduras
e fraca resistência.
Em
testes feitos pelo IPT, pranchas pré-moldadas de 2,6 metros de
comprimento por 40 centímetros de largura e peso de 100 quilos
apresentaram excelente resultado em termos de resistência ao impacto.
Para produzir as pranchas, é necessário recorrer a uma prensa.
É
possível utilizar a fibra de coco verde, depois de seca e desfiada em
um sistema parecido com o duratex,
no qual a fibra é misturada a uma resina e depois prensada.
Portanto, vários
fatores justificam o desenvolvimento de pesquisas
quanto a aplicação das fibras do coco verde no fibro-cimento e no
concreto-fibra, pois além de viabilizar soluções econômicas para
problemas de cobertura, equipamentos sanitários, placas e painéis,
introduzindo novas alternativas no mercado de construção, o
aproveitamento das fibras traria grande incentivo ao reaproveitamento do
resíduo da cadeia comercial e agroindustrial do coco verde.
4 - À Guisa de últimas
considerações
Neste
trabalho foram explicitadas as variadas formas de aplicação cada vez
mais amplas do resíduo do coco verde, que até recentemente iam para o
lixo; alertando para as suas características necessariamente
multidimensionais do pós-colheita.
Os resíduos são a expressão visível
e mais palpável dos riscos ambientais. Segundo uma definição proposta
pela Organização Mundial de Saúde, um resíduo é algo que seu
proprietário não mais deseja, em um dado momento e em determinado
local, e que não tem um valor de mercado (Valle,
1995).
Desperdícios ou subprodutos, antes
considerados desinteressantes para serem reaproveitados, são agora
tidos como fontes valiosas para reprocessamento e outras utilizações.
Como
a economia brasileira se caracteriza pelo elevado nível de desperdício
de recursos naturais e energéticos, a redução desses desperdícios
constitui verdadeira reserva de desenvolvimento e fonte de bons negócios
para empresas decididas a enfrentar essa oportunidade, dado o extraordinário
potencial de recursos subutilizados da produção do coco verde.
Segundo
Andrade (1998), no mundo
dos negócios, o lucro é o fim último de todo o empreendimento, e
depende de como é traçado o caminho que conduz a esse fim, que é o da
eco-eficiência.
Assim,
a eco-eficiência consiste num
instrumento de desenvolvimento sustentável, ou seja, uma política
duplo ganhadora (win-win):
ganha a cadeia agroindustrial do coco verde e a sociedade, onde se
procura produzir mais e melhor, associado à elevação contínua dos
predicados do produto, utilizando-se menos insumos, provocando menos
poluição, redução do desperdício e contabilizando-se os menores
custos possíveis.
Embora o objetivo seja econômico,
desdobra-se em variações, onde o sentido social surge com força de
expressão própria, em diversos planos de tempo, estendendo-se até um
horizonte, no prazo mais longo, em que estará contribuindo para a
melhoria da qualidade de vida da sociedade/comunidade, com redução
progressiva do uso de recursos, e redução proporcional dos impactos
ambientais.
Quando se fala em meio ambiente, no
entanto, o empresário imediatamente pensa em custo adicional. Dessa
maneira passam desapercebidas oportunidades de negócios ou redução de
custos. Sendo os resíduos do coco verde um potencial de recursos
ociosos ou mal aproveitados, sua inclusão no horizonte de negócios
rurais pode resultar em atividades que proporcionem lucro através da
criação de novos produtos com valor agregado.