Ano I - Nº 01 - Maio de 2001 - Bimensal - Maringá - PR - Brasil - ISSN 1519.6178
Os
perigos da automedicação
Giancarlo
Lourenço Matias (*)
Uma
prática muito comum adotada pela grande maioria da população é a automedicação.
As causas para sua existência são inúmeras, dentre tantas podemos facilmente
citar algumas como a grande impossibilidade de uma boa parte das pessoas terem
um acesso ao atendimento médico ou odontológico, seja por questões financeiras
ou por próprio hábito de tentar solucionar os problemas de saúde corriqueiros
tomando por base a opinião de algum conhecido mais próximo. Além disso a alta
freqüência de propagandas através da mídia eletrônica é muitas vezes um fator
contribuinte para a automedicação de pessoas leigas no assunto. Por trás deste
ato aparentemente tolo e sem conseqüências está um problema em potencial para
sua saúde. Paracelso, que viveu de 1493 a 1541, já afirmara que “a dose correta
é que diferencia um veneno de um remédio” . Por isso uma dose acima da indicada
, administrada por via inadequada (via oral, intramuscular, retal...) ou sem
uso para fins não indicados, podem transformar um inofensivo remédio em um
tóxico perigoso. Embora a existência de
efeitos adversos seja tão antiga quanto a própria utilização de determinada
substância , somente a partir da segunda
metade do século, com a tragédia da talidomida, na década de 60, é que a preocupação
com os efeitos adversos dos medicamentos tornou-se um alvo freqüente das pesquisas
dos laboratórios governamentais e das indústrias farmacêuticas. Atualmente,
os conhecimentos nesse sentido são inúmeros e seu avanço é cada vez maior
e isso fornece aos médicos importantes substratos a serem analisados no momento
de prescrever um determinado medicamento.
Outro
problema relacionado à automedicação é a famosa interação medicamentosa. Mas
afinal, o que é isto e do que se trata? Simples, quando medicamentos são administrados
concomitantemente, eles podem se interagir de três formas básicas,
a saber: um pode potencializar a ação de outro , pode ocorrer também a perda
de efeitos por ações opostas ou ainda a ação de um medicamento alterando a
absorção, transformação no organismo ou a excreção de outro fármaco.
Além
disso, o fato de determinadas substâncias usadas indiscriminadamente alterar
as condições fisiológicas do organismo de um paciente é muitas vezes ignorado
e isso certamente deve ser considerado. Exemplificando, o uso indiscriminado
de medicamentos à base de um analgésio-antitérmico como a dipirona pode abaixar
os níveis de células de defesa encontrados no sangue.
Um
outro conceito a ser tratado, e tido por muitos (devido a falta de informação,
provavelmente) como inofensivo, é o uso indiscriminado de medicamentos fitoterápicos,
aqueles remédios naturais que segundo vendedores mais interessados
em rechear seu bolso do que
com a saúde pública , insistem em afirmar que não existem
efeitos colaterais. É um conceito equivocado achar que um extrato de
um vegetal, só porque não foi industrializado e está livre de qualquer insumo
químico, é tido como sem nenhuma contra-indicação. Um medicamento fitoterápico,
ou do tipo homeopático (é bom diferenciá-los: o processo de fabricação de
um medicamento homeopático é totalmente diferente de um fitoterápico, bem
como sua concentração final, seu modo de ação e o tempo de tratamento) usado
sem uma orientação especializada é um risco de reações indesejadas, e que
pode ser evitada com uma simples conversa
com um profissional da área da saúde. Muitas vezes, o profissional
qualificado mais acessível para muitos é o farmacêutico (não confundir com
o balconista) que é um profissional qualificado para dispensar as especialidades
farmacêuticas. Mas não se esqueça, médicos é que são responsáveis pelo receituário,
e a troca da receita médica pela indicação do balconista
da farmácia é certamente um mau negócio, bem como aquela iniciativa de automedicar-se.
Portanto, pense duas vezes antes de tomar aquele remédio, que possa lhe parecer
inofensivo, ou que um amigo ou vizinho tenha o receitado. Às vezes , sintoma
algum aparece, mas complicações podem ocorrer e quando isso ocorre é das formas
mais inesperadas possíveis.
*
Acadêmico do curso de Medicina da UEM.