Ano I - Nº 04 - Maio de 2002 - Quadrimestral - Maringá - PR - Brasil - ISSN 1519.6178

 

 

Adolescentes podem dar aula de educação ambiental para crianças?

Can teenagers educate children concerning environmental issues? [1]

Kátia Cilene Rodrigues Madruga* e Cynthia Fleming Batalha da Silveira**

 

Resumo

Existe uma pergunta comum entre educadores e pesquisadores: qual seria a melhor abordagem para tratar com as questões ambientais?De fato, é difícil encontrar a abordagem que possa gerar mudanças substanciais no comportamento e motive uma atitude mais positiva, resultando efetivamente em proteção ambiental.

Esse artigo apresenta as observações com relação ao processo de sensibilização para as questões ambientais, iniciado com aulas de biologia. O trabalho educacional estimulou um grupo de estudantes brasileiros a participar de um curso a distância e de uma convenção internacional (Global Environmental Youth Convention) sobre gestão ambiental preventiva. Tanto o curso quanto a convenção foram organizados pela Lund University na Suécia.

Durante o curso, os estudantes elaboraram e executaram um projeto. Eles decidiram organizar um curso para educar crianças de oito anos de idade. O projeto foi apresentado durante a convenção.

Entre os resultados desse processo educacional, foi observado que resultados bem significativos podem ser obtidos a partir de uma abordagem que buscou uma ligação mais afetiva com a natureza.

Palavras-chaves: educação ambiental; adolescentes; crianças; afetivo; efetivo.

 

Abstract

 

There are several questions coming from researches and educators referring to which could be the more efficient approaches for developing an environmental awareness. In fact, it is hard to discover which approach can lead to a behaviour change and a more positive attitude that can result in effective environmental protection.

This paper presents the observations concerning the sensitisation process for environmental issues, initiated with environmental education classes. The educational work has stimulated a group of Brazilian high school students to participate in an international distance learning course and convention (Global Environmental Youth Convention) about preventive environmental management. Both course and convention were organised by Lund University in Sweden.

During the course the high school students elaborated and executed the project work. They decided to organise course content and prepare teaching material on environmental issues for eight year old kids. The project was presented in the convention.

Among the results of this educational process it was observed that a very effective attitude can be obtained from an educational approach that seeked for a more affective link with the nature.

Keywords: environmental education; teenagers; children; affective; effective

Introdução

 

Na década de noventa, as questões ambientais foram incluídas entre os temas importantes da agenda internacional. Em fato, o fenômeno iniciado na década de setenta, está acontecendo, porque educadores, pesquisadores e empresários perceberam que e gestão eficiente dos recursos naturais pode trazer benefícios do ponto de vista quantitativo (econômico/financeiro) e qualitativo (proteção ambiental/qualidade de vida).

Para que a sociedade possa desfrutar desses benefícios é importante aumentar os esforços no sentido de educar trabalhadores e estudantes, de tal forma, que os recursos naturais possam ser eficientemente usados o que trará benefícios sociais, ambientais e econômicos. Conseqüentemente, há muita discussão, especialmente, entre os educadores a respeito das abordagens mais adequadas para aumentar a consciência ambiental.

Dessa forma, esse artigo apresentará algumas das possíveis abordagens para lidar com questões ambientais em sala de aula bem como os resultados práticos obtidos a partir da adoção de uma determinada abordagem. Será apresentado como estudo de caso o projeto para educação ambiental intitulado "lobo Guará", elaborado por um grupo de estudantes da escola Pastor Dohms localizada em Porto Alegre. O projeto foi proposto por um grupo de estudantes como trabalho prático para um curso a distância sobre educação ambiental, organizado pela Lund University na Suécia. Esse projeto foi apresentado durante a Global Environmental Youth Convention em junho de 2000 em Lund.

 

O contexto global

Existe evidências tais como o aumento da temperatura no Planeta e a sensível redução dos recursos de água potável de que os padrões de produção e consumo estabelecidos a partir da Revolução Industrial, geram externalidades que ameaçam o sistema econômico e ambiental. Contudo, esses fenômenos resultam em danos que dificilmente podem ser medidos, considerando o atual modelo de produção.

Esse modelo incentiva a associação direta entre produtividade e desenvolvimento econômico sem levar em consideração alguns resultados negativos como, por exemplo, os riscos ambientais. Além disso, a relação custo-benefício é considerada dentro de uma perspectiva de curto prazo. Portanto, os problemas ambientais e seus efeitos cumulativos que normalmente são sentidos dentro de uma perspectiva de longo prazo são ignorados.

Do ponto de vista econômico também é visível que existem algumas ineficiências, considerando que grande parte da poluição poderia ser evitada através de uma melhor gestão de recursos e energia. Há sempre uma grande quantidade de resíduos sendo gerados, por conta das atividades industriais ou da disposição de lixo o que demanda o tratamento e isso representa custos.

Dessa forma, é possível afirmar que o modelo de produção atual cria uma relação paradoxal entre homem e natureza. Por um lado, a produção demanda uma grande quantidade de recursos e energia. Por outro lado, é produzida uma grande quantidade de produtos e serviços bem como marketing – para garantir o consumo – e é liberada uma grande quantidade de poluição, isso é, sustentamos um círculo vicioso. Através desse sistema, lançamos constantemente no mercado uma grande quantidade de produtos, enquanto danificamos constantemente nosso ambiente e procuramos através do marketing e consumo satisfazer e substituir algo que consciente ou inconscientemente perdemos, como, por exemplo, rios mais limpos e comida mais saudável (Gore, 1992).

A fim de encontrarmos alternativas mais eficientes para produção é fundamental que os futuros trabalhadores possam estar preparados para entender que economia e ecologia são assuntos que estão diretamente relacionados. Portanto, a escola tem um papel importante. Educadores têm a responsabilidade e o desafio de procurar por novas abordagens e metodologias de tal forma que os estudantes possam entender que a preservação da natureza e o uso eficiente dos recursos são vitais para a manutenção do desenvolvimento social e econômico.

 

3. Abordagens para Educação Ambiental

Existem duas abordagens principais que podem levar ao crescimento da consciência ambiental. Uma possibilidade é associar o ambiente natural a sentimentos positivos tais como alegria e prazer, porque os indivíduos podem ficar encantados com a natureza o que os tornará mais envolvidos com sua proteção. Outra possibilidade é chamar atenção para características negativas como, por exemplo, acidentes ambientais. O temor aos riscos ambientais pode levar a reações mais ativas. Entre essas duas possíveis abordagens, educadores perguntam-se sobre qual seria aquela que de fato pode trazer resultados mais efetivos para suas práticas em sala de aula (Layrargues, 1998).

A consciência ambiental pode crescer sensivelmente após um acidente ecológico causado por derrame de óleo ou de metais pesados, especialmente, quando existem danos e vitimas visíveis. Nesse caso, o processo de sensibilização tem um caráter passivo (reação) ao invés de um caráter ativo (ação).

De forma geral, contudo, os indivíduos são resistentes à mudança de comportamento que possam levar de fato à proteção ambiental. Dados estatísticos consistentes, referindo-se a resultados negativos por má utilização dos recursos naturais não são capazes de motivar indivíduos para que esses mudem de atitude e tenham ações concretas. A alusão ao risco não é suficiente, porque esse é normalmente percebido como alguma coisa distante da realidade. Além disso, dificilmente são assumidas responsabilidades por atitudes presentes ou do passado que possam ameaçar as gerações futuras (Mandel, 1992).

Cientistas e analistas tentam através de dados científicos e cenários chamar a atenção dos cidadãos para os riscos ambientais. Contudo, essas informações não são suficientes para mudar comportamentos e atitudes. Isso acontece, porque a consciência funciona por estímulo e significado e, considerando que os riscos referentes a acidentes ambientais parecem algo completamente distante da realidade, esses acabam perdendo sua importância. Os riscos podem estar próximos, mas como não são reconhecidos, perdem seu significado (Ayres, 1999).

Alguns pesquisadores, contudo, acreditam que o temor aos riscos ambientais pode ser o caminho que levará realmente à proteção ambiental. A idéia é fazer com que os educandos entendam o real significado dos riscos ambientais, para que, nesse caso, esses não seriam sub ou superestimados. Através da verdadeira percepção do risco, atitudes poderiam mudar, levando à eliminação ou minimização do potencial de danos (Mandel, 1992).

Também é dito que o elo perdido nas aulas de educação ambiental seria uma abordagem mais positiva para o tema. Mudanças de atitude podem resultar de um processo afetivo que leva à proteção ambiental. Portanto, os educadores deveriam realmente chamar a atenção para as belezas naturais que podem ser encontradas quando observamos o ambiente (Mandel, 1992).

Independentemente do tipo de abordagem a ser adotada, pesquisadores estão sempre preocupados com os resultados: o que de fato pode levar a mudança de atitudes? A experiência de trabalho junto a um grupo de estudantes de uma escola de Porto Alegre demonstrou que uma das abordagens pode realmente trazer resultados.

 

4. Estudo de caso: o projeto lobo-guará

Em 1999, os adolescentes envolvidos nesse projeto estavam no primeiro ano do ensino médio do Colégio Pastor Dohms  em Porto Alegre. Nessa escola as aulas de biologia têm entre seus objetivos a educação ambiental. Os estudantes desenvolvem atividades em sala de aula e também fazem viagens de estudo. Eles visitam lugares como o aterro sanitário local e uma cooperativa que desenvolve projetos em agricultura orgânica chamada ¨Rincão Gaia¨. Os estudantes apreciam as viagens de estudo e, principalmente, encantam-se com a visita ao Rincão que faz parte da Fundação Gaia. Nessa área rural distante cerca de 140 km de Porto Alegre um grupo de ambientalistas desenvolve um trabalho cooperativo com o objetivo de recuperar uma área degradada que foi anteriormente utilizada para exploração de basalto. Hoje, esse local encanta seus visitantes por sua beleza e harmonia com a natureza. Em outubro de 1999, os adolescentes estiveram durante um dia visitando a área, a fim de aprender novas alternativas para viver em equilíbrio com o ambiente natural. Eles realmente ficaram maravilhados diante das belezas locais. No final da visita, os adolescentes receberam um convite para participar de um curso internacional de educação ambiental a distância e de uma convenção que foi organizada pela Universidade de Lund na Suécia [2] . Apesar do curso a distância ser oferecido em inglês e incluir um período em que normalmente os estudantes brasileiros estão em férias de verão (entre dezembro e marco), muitos estudantes tiveram interesse em participar do curso. De acordo com as informações dos organizadores do curso, cada país deveria ser representado por quatro estudantes, contudo devido ao grande interesse manifestado, a delegação brasileira contou com a participação de oito estudantes. O grupo foi coordenado por uma professora de biologia e uma educadora ambiental e foi formado por três alunas e cinco alunos com idades entre quatorze e dezesseis anos [3] .

Os estudantes participaram ativamente do curso a distância. Eles acessaram o website diariamente de suas casas ou da escola. Algumas dúvidas de vocabulário foram resolvidas pelas coordenadoras. O conteúdo do curso era bem  acessível e interessante e estimulou a participação do grupo. O programa era dividido da seguinte forma:

 

  • 1o. Parte – Curso a Distância (outubro 1999 – fevereiro 2000)
  • Conteúdo:
  • Natureza e Ecologia
  • Biodiversidade
  • Temas Ambientais Estratégicos
  • Desenvolvimento Sustentável
  • Agenda 21
  • Prevenção é Melhor do que o Tratamento
  • 2a. Parte - Projeto de Trabalho ( marco  – maio 2000)
  • 3a. Parte – Youth Convention em Lund (em junho de 2000 representantes de 100 países apresentaram seu projeto na Suécia).

 

Em março, quando as férias de verão acabaram, iniciaram-se as reuniões na escola que reuniu alunos e coordenadores duas vezes por  semana. O objetivo era avaliar o curso a distancia e discutir os possíveis problemas encontrados. Existiam datas limites para a apresentação dos resultados que deviam ser respeitadas. Eventualmente, algumas tarefas propostas no curso a distância não eram entendidas e também havia alguns problemas com relação ao acesso via internet.

Nessa fase, os estudantes elaboraram uma home page com as informações sobre o curso e o projeto que estavam desenvolvendo. Durante a organização dessa página na web ficou claro que estavam ocorrendo alguns conflitos entre os membros do grupo e que o trabalho conjunto, às vezes, era difícil. Algumas vezes, foi necessária a intervenção dos coordenadores, de tal forma, que as informações, responsabilidades e tarefas pudessem ser melhor divididas. A concentração das informações nas mãos de um único estudante provocou concentração de poder o que não era bom para o relacionamento entre os membros do grupo. Após várias  reuniões foi finalmente decidido que tipo de projeto poderia ser desenvolvido. No primeiro encontro para discutir sobre o projeto, estavam presentes o diretor da escola e o representante da Fundação. Os alunos discutiram as possibilidades de projetos e decidiram que o ideal seria dividir com outros alunos aquilo que haviam aprendido nas aulas de educação ambiental regulares (curso de biologia) e no curso a distância. Então, os alunos optaram por trabalhar com estudantes do segundo ano do ensino fundamental. Eles decidiram trabalhar com dois grupos distintos. Um dos grupos escolhidos foi da própria escola Pastor Dohms. Essa é uma escola privada com alunos de uma classe social mais privilegiada. O outro grupo pertencia a uma escola pública, Fammello, e a uma classe social menos privilegiada.

A proposta dos estudantes foi trabalhar com educação ambiental de uma forma lúdica, usando alternativas de ensino como histórias e jogos. Eles decidiram também que seria importante para as crianças uma visita ao Rincão Gaia. Os ”professores adolescentes” resolveram  trabalhar com cada um dos grupos de crianças uma vez por semana. Os adolescentes dividiram-se em dois grupos, seguindo um esquema de trabalho, de tal forma que ambos os grupos pudessem trabalhar com as diferentes turmas de crianças. 

Após receberem a aceitação das diretorias das duas  escolas e das professoras responsáveis por cada uma das turmas, o projeto foi iniciado. Os ”professores adolescentes” começaram a ter encontros semanais e o objetivo era a preparação das aulas. Cada grupo tinha cerca de 30 alunos. Na escola privada as crianças tinham em média oito anos de idade. Na escola pública havia também alunos um pouco mais velhos.

Após um período de preparação, finalmente, iniciaram-se as aulas. Foi possível perceber que o grupo que deveria dar a primeira aula na escola pública estava um pouco nervoso. Isso esta relacionado à ansiedade normal que surge diante do enfrentamento de situações novas e ao medo que os adolescentes tinham de não serem aceitos pelas crianças. Eles estavam especialmente preocupados com o fato de que alguns dos futuros alunos também já eram adolescentes. Havia a possibilidade de não haver aceitação e interação com o novo grupo. Foi decidido, então, que uma das coordenadoras [4] acompanharia sempre o grupo de ”adolescentes professores” para ajudar, caso fosse necessário.

 

4.1.Sobre as aulas:

Durante algumas reuniões as aulas foram preparadas. Foi discutido que seria necessário e importante a preparação de atividades, especialmente, para as crianças da escola pública Famello, que colaborassem para o desenvolvimento da auto-estima. Essa idéia esta baseada no princípio de que nos deveríamos ter respeito por nos mesmos e entender que fazemos parte da natureza e, quando entendemos essa relação, aprendemos também a respeitá-la.

Embora existam algumas diferenças entre os dois grupos de crianças, foram organizadas atividades que pudessem ser aplicadas em ambas escolas. Foram enfatizadas as atividades que trabalham com a auto-estima na escola pública, Famello, porque em classes sociais mais baixas, muitas vezes, a auto-estima é bastante baixa. É importante que os estudantes possam acreditar na sua própria importância com agentes capazes de influenciar e alterar o ambiente.

 

4.2.Algumas Atividades:

Caixa com Espelho – as crianças foram chamadas para olhar para dentro de uma caixa através de uma abertura localizada na sua parte superior (na parte inferior da caixa, havia um espelho). Antes de iniciar a atividade, as crianças foram informadas que dentro da caixa encontrariam uma ”coisa” muito importante a qual elas deveriam cuidar sempre. Eles deveriam manter em segredo o que haviam visto até que todos tivessem realizado a atividade.

Jogos com Cartões – cada estudante recebeu um cartão com o nome de algum material que deveria ser jogado no lixo. Havia um envelope que representava o lixo orgânico e outro para o inorgânico. As crianças deveriam dizer para qual envelope pertencia cada cartão. No final das atividades, os envelopes eram abertos e havia um comentário sobre cada cartão e, quando esse estava no envelope não correspondente, também havia um esclarecimento.

Desenhos – as crianças eram convidadas a desenhar figuras que pudessem expressar o meio ambiente. Vários tipos de desenhos foram feitos, com figuras de casas, arvores, grama, animais. Através dos desenhos foi possível falar um pouco mais a respeito da importância da separação entre lixo seco e orgânico.

Aquário – em um aquário foi colocado terra e nela enterrados um copo plástico e restos de comida, de tal forma que as crianças pudessem observar o processo de decomposição. Na mesma terra também foram plantadas sementes de feijão, para que as crianças pudessem observar o desenvolvimento de uma planta. A observação era feita diariamente e eles  registravam nos seus cadernos. Semanalmente, era discutido com as crianças o tipo de transformações que estavam ocorrendo. 

Também foram desenvolvidas outras atividades que incluíam escutar músicas e histórias infantis – essas relacionadas à fauna e flora brasileiras – bem como jogos que tratavam de assuntos como reciclagem e ciclos de vida. Todo o material usado em sala de aula foi organizado/montado pelos adolescentes durante a preparação das aulas.

Após cada aula, em cada escola, um dos ”professores adolescentes” era responsável por escrever um relatório sobre as atividades realizadas. Em cada reunião era discutida a última aula e preparada a próxima. Essas reuniões ocorriam, de acordo com um ritmo próprio dos adolescentes: havia discussões de vários assuntos ao mesmo tempo. Eles eram capazes de ler, escutar música, trabalhar com o computador e preparar as aulas. Apesar do ritmo caótico( na visão de um adulto), surpreendentemente, os adolescentes realizavam tarefas e apresentavam resultados. 

4.3.Rincão Gaia

Foram realizadas duas visitas ao Rincão Gaia. Numa semana o grupo de adolescentes visitou o Rincão juntamente com as crianças da escola privada, na semana seguinte, visitaram com o grupo da escola pública. Acompanhando os adolescentes estavam também os professores de cada grupo de crianças, as coordenadoras do projeto e um representante do Rincão Gaia. A visita era iniciada às 9h30min e extendia-se até às 16h. Essa incluía o café da manhã, almoço e lanche, assim todos podiam também  experimentar os produtos orgânicos, localmente produzidos. 

As crianças eram divididas em quatro grupos para visitar o Rincão. Cada grupo era acompanhado por dois ”professores adolescentes”. Cada grupo era acompanhado por um dos adultos. Os adolescentes.explicavam às crianças como a natureza trabalha em círculos. Por exemplo, mostrando como o material orgânico decomposto pode transformar-se novamente em nutriente para o solo, plantas e animais, formando a cadeia alimentar.

As crianças também verificaram como o resíduo orgânico pode transformar-se em novo produto, como alguns animais como galinhas, porcos e vacas podem ter uma alimentação mais natural e como é possível recuperar algumas áreas degradadas. Eles visitaram um lago artificial criado a partir de água da chuva em uma área que anteriormente era utilizada para a extração de basalto e, além disso, tiveram a oportunidade de plantar uma árvore.

Após visitar o local, as crianças fizeram desenhos e falaram a respeito do que lhes chamou atenção e sobre o que acharam da visita.

O projeto lobo guará foi o trabalho prático realizado e apresentado pelos adolescentes – após o curso de educação ambiental a distancia oferecido pelo International Institui for Industrial Environmental Economics – durante a Global Environmental Youth Convention em junho de 2000 em Lund, Suécia.

 

5. Comentários Finais e Conclusões

Os estudantes decidiram livremente a respeito de que tipo de projeto gostariam de trabalhar. Quando os adolescentes decidiram por trabalhar com educação ambiental para crianças já estava definido que eles iriam utilizar abordagem mais afetiva ao invés de chamar atenção para os problemas e acidentes ambientais. A decisão não resultou de um estudo bibliográfico prévio a respeito das possíveis abordagens, acreditamos que essa escolha é resultante da maneira como os próprios adolescentes aprenderam a lidar com o meio ambiente a partir de suas aulas de biologia. Eles encantaram-se com o meio ambiente ao visitar o Rincão Gaia e essa viagem de estudo funcionou como um estímulo para: a) a decisão em seguir os estudos em meio ambiente através de um curso a distancia b) o interesse em dividir a mesma experiência com as crianças.

Alguns textos para orientar os adolescentes a respeito da preparação das aulas foram lidos e discutidos durante as reuniões. A opção pelo trabalho de uma forma lúdica trouxe bons resultados, porque as crianças foram capazes de entender melhor como funciona, por exemplo, os ciclos de vida. Além disso, eles também tiveram a oportunidade de estar em contato direto com a natureza o que lhes proporcionou a possibilidade de fazer uma relação direta entre teoria e prática. A verdadeira associação entre estímulo e significado é essencial para o processo de conscientização (Ayres, 1999).

A atividade com o espelho foi muito  importante, especialmente, na escola Fammelo. Cada criança olhou para dentro da caixa e eles ficaram  felizes com o que puderam ver. Um aluno relatou para a sua professora o que havia ocorrido – ela não estava presente no momento da realização da atividade – e ele parecia muito orgulhoso de ter visto sua própria imagem. É fundamental o auto respeito e valorização, porque isso poderá nos levar a respeitar a natureza já que fazemos parte dela. Talvez a melhor maneira de incentivar ações efetivas seja aprendendo a respeitar a nossa própria geração, porque, como conseqüência natural, as próximas serão também respeitadas (Mandel, 1992).

A atividade para observar a decomposição através do aquário o processo de decomposição do lixo orgânico e não orgânico chamou a atenção das crianças. Eles estavam particularmente interessados em acompanhas o processo de germinação das sementes de feijão. Após a visita ao Rincão Gaia, as crianças da Famello estavam interessadas em fazer uma horta na escola. Eles pensaram em começar a horta, transferindo as sementes de feijão para o canteiro. Foi feita uma solicitação à diretoria para dar início ao projeto. É interessante observar como a informação científica ganha de fato significado e reconhecimento a partir da experiência vivida. É muito mais fácil entender o processo de decomposição e crescimento, quando esses podem ser observados (4).

Desde o primeiro dia de aula os adolescentes foram bem recebidos pelas crianças de ambas as escolas. Os adolescentes tinham um pouco de medo de iniciar as aulas com as crianças, especialmente com aquelas da Fammelo, porque se tratava de uma escola desconhecida. Após o primeiro contato, eles sentiram-se muito bem. As crianças da Fammello foram bastante receptivas e afetivas e tinham grande interesse nas aulas e nas atividades propostas. Foi observado que as crianças da escola pública tinham menos informações do que aquelas da escola privada sobre as questões ambientais, contudo, todas as tarefas propostas eram bem realizadas. Os ”professores adolescentes” eram sempre recebidos com entusiasmo pelas crianças. Os adolescentes estavam  felizes com o projeto, porque eles se sentiram muito úteis e eles estavam  entusiasmados com a preparação das aulas. No Pastor Dohms as crianças também tinham  interesse nas aulas, mas foi possível observar que eles também tinham mais informações sobre as questões ambientais. Nesse grupo havia crianças que já sabiam como reciclar papel e como separar lixo orgânico do inorgânico. Essa é uma informação que já haviam recebido da família. É importante, ressaltar a questão da importância da motivação, porque é essa que levou os adolescentes a seguir adiante com esse tipo de trabalho o que pode servir de exemplo para que outros adolescentes venham a desenvolver projetos similares. Também foi muito interessante observar a motivação das crianças, porque essa pode leva-las a novas atitudes e assumir novas responsabilidades (Layrargues, Mandel).

As professoras que trabalhavam regularmente com as crianças também estavam entusiasmadas com as aulas e essas demonstraram interesse em continuar o trabalho em educação ambiental. Os adolescentes conseguiram entusiasmar as crianças, as professoras e a si mesmos. Esse efeito dominó é um resultado bem positivo do projeto.

Considerando que estamos tratando de um estudo de caso não podemos fazer generalizações, mas a experiência nos mostrou que uma abordagem afetiva pode levar a ações concretas, proporcionando ao crescimento da consciência ambiental e a mudança de atitudes.

 

6. Bibliografia
 
GORE A. Earth in the Balance: forging a new common purpose. London. Earthcan Publication Ltd, 1992.
LAYRAGUES L. P., Como Desenvolver uma Consciência Ecológica?. São Paulo. Ecopress, Agosto. 1998.
MANDELl, V. , Comment Développer une Conscience Écologique ?.Paris.La Reserche, 243, Mai 1992.
AYRES E., Why are we not Astonished? World Watch, May-June 1999.


* Kátia Cilene Rodrigues Madruga, Doutoranda em Gestão Ambiental.
** Cynthia Fleming Batalha da Silveira, Professora de Biologia.
[1] Trabalho apresentado e publicado nos anais do 7th European Round Table on Cleaner Production, realizado no International Institute for Industrial Environmental Economics, Lund University, Suécia, Maio de 2001.
[2] A Fundação Gaia foi previamente contatada pela educadora ambiental Kátia Madruga que estava procurando por um grupo de estudantes do ensino médio que estivessem interessados em participar de um curso e de uma convenção que estava sendo organizada pela Universidade de Lund, na Suécia.
[3] Participantes do projeto "Lobo Guará" (http://www.go.to/geycbr): Michael  Sopper, Aline Pares Dadald, Leônidas Gonçalves Albuquerque Cavalcante, Felipe Frantz Ferreira, Henrique Brusius Renck, Henrique Schlatter Manfroi, Mariana Santos, Taiane Barbosa. Coordenadores: Cynthia Batalha da Silveira (professora de biologia) e Kátia Madruga (doutoranda em gestão ambiental).
[4] A professora de biologia Cynthia da Silveira que trabalha no Pastor Dohms acompanhou todas as aulas.