Ano I - Nº 02 - Julho de 2001 - Bimensal - Maringá - PR - Brasil - ISSN 1519.6178

Considerações sobre O Homem Cordial, de Sérgio Buarque de Holanda e A Teoria do Medalhão, de Machado de Assis

Éder Silveira*

 

E esta é a pior hipocrisia que entre eles encontrei: que também

os que mandam simulam as virtudes dos que servem.

“Eu sirvo, tu serves, ele serve”- assim reza, aqui também, a

hipocrisia dos dominantes – e ai, quando o primeiro

senhor é somente o primeiro servidor.

Friedrich Nietzsche (2000: 205)

 

Resumo
Neste artigo busca-se problematizar alguns aspectos atinentes a duas construções de identidade do ser brasileiro, através de um estudo comparativo entre  a concepção de “Medalhão“, expressa no conto do escritor carioca Machado de Assis (1839-1908), A Teoria do Medalhão, e aquela de “Homem Cordial”, desenvolvido pelo historiador Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) na obra Raízes do Brasil.
Palavras-chave: Literatura brasileira, historiografia brasileira, identidade nacional.

 

Resumé
Mon but avec cet article, est de demontrer quelques aspects liés à deux constructions de l´identité brésilienne. Il s´agit de mettre en évidence quelques points de repère entre le conte de l´écrivain carioca Machado de Assis (1839-1908), A Teoria do Medalhão, et la définition de « l´Homme cordial » développée par l´historien Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) dans son livre Raízes do Brasil.

 

A busca da psique

Dado enfatizado por diversos comentadores [1] da obra do historiador paulista Sérgio Buarque de Holanda: um dos principais objetivos de Raízes do Brasil era delinear uma ‘psicologia’ do povo brasileiro, em algumas de suas principais nuances. Da mesma forma, Machado de Assis, em vários momentos de sua obra, recorreu à sensibilidade de zonas mais sombrias da cultura brasileira para detectar sentimentos e formas da “psique” do brasileiro. Acaso de encontro entre a história do Brasil e sua literatura em diferentes gerações? Parece a constatação, em diferentes tempos, de uma certa ética que se forma na maneira de ser destas gentes debaixo da linha do Equador. Não um acaso histórico; ocaso civilizatório, talvez.

Controvertido e polêmico conceito, a noção de homem cordial merece, de antemão, esclarecimentos. Mas antes, lançar-se-á mão de uma parábola. Diz-se que um velho funcionário público carioca, ante a mínima menção à literatura brasileira, teimosamente afirmava a superioridade de Lima Barreto sobre Machado de Assis. Acintosamente desafiava quem dissesse o contrário, disparando que somente um débil, um estúpido, não reconheceria a superioridade de Lima sobre Machado, o qual cobria de impropérios, bem como aquele que ousasse defendê-lo, por mais discreta que fosse essa defesa. Os anos passaram, o funcionário público cada vez mais se indispunha com as pessoas que o rodeavam e cada vez mais se isolava. Diz-se que as suas últimas palavras, à beira da morte, doente e cansado, foram uma espécie de murmúrio, dizendo algo como: que Lima é maior que Machado; ninguém duvida,... no entanto, não li nenhum dos dois... (MERQUIOR.1990: 343)

Essa negação a priori e radical da noção de Homem Cordial creio partir de uma postura similar à do rabugento funcionário público quanto à dicotomia Machado/Lima. Se por bom tempo os ensaístas brasileiros, principalmente a “geração” de 1930, foram tomados como “criadores de mitos”, verifica-se que o os anos 90, com a quebra dos paradigmas rigidamente científicos, fez com que a academia passasse a olhar com mais simpatia para a intuição e brilho das análises desses ensaístas. Gilberto Freyre, Sérgio Buarque e Paulo Prado, para citar apenas alguns, são todos atualmente relidos, no mais das vezes com um olhar mais generoso do que o de outrora, quando uma geração de intelectuais radicados majoritariamente na USP [2] buscou “enterrar” esses autores, alguns com mais intensidade (G. Freyre, Paulo Prado), outros com certos cuidados (Sérgio Buarque).

Mas, buscando entrar na discussão mais diretamente, onde está o cerne da noção de homem cordial? Sérgio Buarque afirma de antemão, buscando evitar más compreensões: a referida “cordialidade” não se trata, necessariamente, de um referência direta ao significado literal da expressão. Na realidade, ao referir-se à cordialidade, Sérgio Buarque busca enfatizar uma característica marcante do modo de ser do brasileiro, segundo sua lupa: a dificuldade de cumprir os ritos sociais que sejam rigidamente formais e não pessoais e afetivos e de separar, a partir de uma racionalização destes espaços, o público e o privado. Mais do que uma espécie de indivíduo, a cordialidade perpassa, em maior ou menor escala, a todos os atores sociais no Brasil. Afirma Buarque de Holanda:

A lhaneza no trato, a hospitalidade, e generosidade, virtudes tão gabadas por estrangeiros que nos visitam, representam, com efeito, um traço definido do caráter brasileiro, na medida, ao menos, em que permanece ativa e fecunda a influência ancestral dos padrões de convívio humano, informados no meio rural e patriarcal. Seria engano supor que essas virtudes possam significar “boas maneiras”, civilidade. São antes de tudo expressões legítimas de um fundo emotivo extremamente rico e transbordante. Na civilidade há qualquer coisa de coercitivo – ela pode exprimir-se em mandamentos e sentenças.(HOLANDA. 1999: 141)

Consiste, então, a cordialidade dos gestos largos, deste espírito aparentemente folgazão, que têm como marca o uso exagerado dos diminutivos, visando, justamente, a quebra da formalidade da relação que deve estar se estabelecendo, para que esta passe a se tornar uma relação de “amigos”, para que passe a imperar a máxima, dito popular que se torna regra de conduta e ‘verdade’ sociológica: “Aos inimigos, a lei; aos amigos, tudo!” (DAMATTA.1997: 24) Quer dizer, é preciso dominar as regras do trânsito facilitado pelas esferas do poder, que se estabelecem, por laços pessoais, em microrelações que se desdobram ad infinitum. Uma vez quebrada a formalidade, a relação assume sua proximidade e dá vazão aos necessários desdobramentos de uma relação de “amigos”. Por isso, por exemplo, pôde assinalar Buarque de Holanda o fato de pertencer “À mesma ordem de manifestações certamente a tendência para a omissão do nome de família no tratamento social.” (HOLANDA. 1999)

Logo, pode-se dizer que toda esta parafernália de sentidos, de aparências e de minúcias presentes diariamente nas relações pessoais/públicas, trata-se apenas de aparente gentileza e afetuosidade, sendo, efetivamente, uma cápsula protetora, uma estratégia tanto de ascensão quando de “sobrevivência” em sociedade. Todas essas questões acerca da cordialidade explicitam a essência, da cordialidade; uma norma de conduta estruturante, sendo que não há um homem cordial, pois, em maior ou menor escala, todos brasileiros são cordiais.

Tal forma de identidade faz com que Sérgio veja este indivíduo como uma figura diluída na massa. Buscar-se-á em Nietzsche, seguindo a pista deixada pelo próprio Sérgio, a caracterização desse indivíduo. Ao afirmar que: “Mais antigo é o prazer pelo rebanho do que o prazer pelo eu; e, enquanto a boa consciência se chama rebanho, somente a má consciência diz: ‘Eu’.”(NIETZSCHE. 2000: 86) Quer dizer, esta crítica ao ideal cristão do amor ao próximo é também uma crítica à forma através da qual manifesta-se a individualidade, pois, como afirma Ernani Chaves, “evidencia-se portanto, para Nietzsche, a ambivalência do ‘amor ao próximo’, na medida em que ele nada mais seria, em princípio, do que a forma socialmente aceitável para que o “eu” pudesse se manifestar.” (CHAVES. 2000: 54) Assim, este homem cujos movimentos na sociedade estão condicionados a relações sobre as quais ele deixa de ter pleno controle, pois são partilhadas, meticulosamente tramadas como os laços de uma rede, faz com que ele se desindividualize, passando a não ser socialmente um, mas vários, pois todas as suas relações são definidas a partir de trocas e de susceptibilidades que não podem ser feridas. Talvez por isso, no Brasil, como já acentuou Da Matta, seja impossível negar uma gentileza a um ‘amigo’.

Por essa impossibilidade de afirmar-se por suas próprias forças como indivíduo, passa, em meio a esta teia de relações “a viver nos outros” (HOLANDA. 2000: 147). Noção esta que têm outras implicações, como o gosto pelo perdulário, pelo saber meramente “bacharelesco” e de adorno, povoado pelas máximas e frases de efeito, em uma relação “esquizofrênica”, que em muito remete ao conto d’O Espelho, de Machado de Assis, em que, sem sua trupe de bajuladores, o velho alferes não podia se reconhecer, não podia ver sua imagem refletida no espelho, pois ela existia apenas na medida em que era sustentada pela horda que o rodeava. Ou seja, voltando a Nietzsche “Não vos suportais a vós mesmos e não vos amais bastante: então, quereis induzir o próximo a amar-vos, para vos dourardes com seu erro.”(NIETZSCHE. 2000: 87)

Culto aos símbolos e estratégias

Para compreender-se melhor os aspectos referentes às estratégias de ascensão social permeadas pela cordialidade, buscar-se-á introduzir na discussão o conto de Machado de Assis. Em “A Teoria do Medalhão”, presente na coletânea de contos Papéis Avulsos, lançada em outubro de 1882, Machado de Assis imagina um diálogo entre pai e filho, no dia do aniversário deste último, que estaria completando 21 anos. Desta forma, o primeiro ponto sobre o qual busca-se lançar luzes é a idéia de rito de passagem. Assim como o personagem-autor de O Ateneu, que, na primeira frase do referido romance assevera: “Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. Coragem para a luta.”(POMPÉIA. 1997:11). Assim, Pompéia marca o sentimento da passagem do protegido mundo do interior dos sobrados para o mundo exterior, onde o menino de onze anos precisaria de coragem para enfrentar todas as agruras que o destino certamente este lhe reservaria.

O conto machadiano, por seu turno, retrata o momento do ingresso do filho na maioridade, para o qual o pai busca dar-lhe os conselhos certos, estimando que este possa vencer na vida, com galhardia e rasgo. Mas vê-se no conto de Machado de Assis, em uma sutileza, a marca das águas que se dividem neste momento de passagem ao mundo dos “homens”. Ante um comentário do pai, em tom memorial, em que frisa lembrar-se bem do dia em que o filho nasceu, e hoje o vê homem feito, de “bigodes e namoros”, o filho replica com um tratamento um tanto açucarado: “papai....” sendo que o pai lhe responde imediatamente: “Não te ponhas com denguices e falemos como dous amigos sérios.”(ASSIS. 1997: 65) Além disto acentuar a importância dada pelo progenitor ao assunto, mostra que esta conversa era, como tanto ouve-se no dia-a-dia, nas máximas populares, de homem para homem. É mister observar que o tom das intervenções de Janjão, a partir deste momento se altera. Passa a tratar sempre seu pai como “Senhor”.

Passa então a se desenrolar a conversa. O pai passa a examinar o que possivelmente o futuro reserva ao filho. Vislumbra uma série de possibilidades de carreira profissional, todas abertas diante do rebento: ”Vinte e um anos, algumas apólices, um diploma, podes entrar na indústria, no comércio, nas letras ou nas artes. Há infinitas carreiras diante de ti.” Mesmo percebendo que várias são as possibilidades de carreira que o filho dispõe, o único desejo verdadeiro do pai é que este se “faça grande e ilustre” ou, pelo menos “notável”. Aspira que o filho se erga “acima da obscuridade comum.” (ASSIS. 1997: 65) A questão centra-se não em vocações, mas em posição social.

A crítica endereçada por Machado de Assis nesta passagem deixou poucos homens públicos do Séc. XIX impunes. O bacharelismo [3] grassava nos mais variados campos da vida social brasileira, onde raramente alguém seguia uma carreira de acordo com sua formação acadêmica. O título era uma chave, que além de servir para abrir as portas para a ascensão social, era usada largamente para compor a figura do medalhão. Como assevera Sérgio Buarque de Holanda, visando pontuar a presença de resquícios senhoriais nesta valorização do título: “Numa sociedade como a nossa, em que certas virtudes senhoriais ainda merecem largo crédito, as qualidades do espírito substituem, não raro, os títulos honoríficos, e alguns dos seus distintivos materiais, como o anel de grau e a carta de bacharel, podem equivaler a autênticos brasões de nobreza.”(HOLANDA. 1999: 83). Além disso, é preciosa a interpretação de Buarque de Holanda do fato acusado por Machado de Assis em Teoria do Medalhão, quando o historiador paulista afirma que

...as atividades profissionais são, aqui, meros acidentes na vida dos indivíduos, ao oposto do que sucede entre outros povos, onde as próprias palavras que indicam semelhantes atividades podem adquirir acento quase religioso. Ainda hoje são raros, no Brasil, os médicos, advogados, engenheiros, jornalistas, professores, funcionários, que se limitem a ser homens de sua profissão. (HOLANDA. 1999: 156)

Sendo o sonho do pai ver o filho tornar-se aquilo que não foi, ele passa a aconselhá-lo passo a passo sobre as minúcias desta fórmula mágica: como tornar-se um medalhão. O fato de ser uma conversa de pai para filho remete, imediatamente, para um momento de Raízes do Brasil, em que Sérgio Buarque menciona a dificuldade de romper-se com a imbricação entre público e privado no Brasil atendo-se a comentários sobre a educação dos filhos. Afirma o historiador paulista que esse tipo ambiente familiar, pintado com tanta maestria por Machado de Assis, voltado para a criação de um microcosmo ao mesmo tempo superprotetor e deformador de personalidades, acaba circunscrevendo “os horizontes da criança dentro da paisagem doméstica”, formando assim uma verdadeira escola de “inadaptados e até de psicopatas”(HOLANDA. 1999: 145)

A primeira prevenção do pai é afastar o filho das idéias e de toda e qualquer manifestação de originalidade. Diante da afirmação peremptória do pai de que deveria sofrear com todas as forças as ‘idéias’, o filho expõe sua aflição, pois esta parece-lhe uma tarefa difícil. Mas o pai tranqüiliza-o, há uma forma de deter a erupção das idéias: matá-las. Para isto, o filho deve “lançar mão de um regímen debilitante, ler compêndios de retórica, ouvir certos discursos, etc. “(ASSIS. 1997: 68) Sugere-lhe, igualmente, embrenhar-se caminhando entre as pessoas, para que possa saber como todos pensam. Porém, adverte para que se afaste da solidão, que é solo fértil para o aparecimento das idéias, bem como das livrarias. Porém, quanto a estas, há exceções. Passagens por livrarias podem ser importantes para a formação do medalhão, porém nunca “às ocultas”, mas sempre “às escâncaras”(ASSIS. 1997: 68). Pois o objetivo destas idas, eventuais e espalhafatosas, não é a busca pelos livros, mas sim uma conversa, deve ir...

...ali falar do boato do dia, da anedota da semana, de um contrabando, de uma calúnia, de um cometa, de qualquer cousa, quando não prefiras interrogar diretamente os leitores das belas crônicas de Mazade; 75 por cento destes estimáveis cavalheiros repetir-te-ão as mesmas opiniões, e uma tal monotonia é grandemente saudável. (ASSIS. 1997: 69)

Ou seja, eis aí a caracterização do típico bacharel que ocupará cargos como funcionário público, visto em Raízes do Brasil por Sérgio Buarque com muitos dos traços os quais o pai roga ao filho. Agarrados ao símbolo, ao título que confere distinção, raramente passaram estes letrados de ventrílocos. “ainda quando se punham a legiferar ou a cuidar de organização e coisas práticas” afirma Buarque de Holanda, “os nossos homens de idéias eram, em geral, homens de palavras e livros; não saíam de si mesmos...” (HOLANDA. 1999: 163) Eram os beletristas, portadores de títulos que nada além de posição social lhe conferiam, pois, certificavam um conhecimento que não era real, antes fruto de um amor bizantino aos livros, que eram pouco mais que um adorno nas paredes dos sobrados.

Existe também nestas passagens da “Teoria do Medalhão uma crítica endereçada por Machado de Assis, sempre de forma sutil, ao personalismo dos polemistas da época, alguns dos quais, ainda que em vão, buscaram desafiá-lo. Roberto Ventura, em Estilo Tropical, ao analisar a polêmica entre Silvio Romero e Machado de Assis, verificou que, a partir de 1875, Machado passa a progressivamente se afastar da crítica literária, evitado envolver-se em disputas. Todavia, a ponderação de Ventura torna-se ainda mais atraente na medida em que este ventila a possibilidade de, por um lado Machado de Assis realmente estar assumindo uma posição blasé em relação à bile e ao personalismo de contumazes polemistas, como Silvio Romero e, por outro, buscando “evitar inimizades que pudessem dificultar sua ascensão social e literária”, além de, é claro, refletir-se em um já bastante acentuado ceticismo de sua parte quanto às possibilidades e à eficácia da intervenção social e cultural.(VENTURA. 2000: 105)

Ironia e chalaça

Justamente sobre o humor reside uma das mais pungentes recomendações expressas pelo pai zeloso a seu filho, para que este seja mestre em pensar o pensado, em repetir com garbo o ululante, enfim, para que se torne um medalhão: os cuidados com o riso. O filho, preocupado com qual deveria ser a sua atitude ante a vida e diante das pessoas que o rodeiam, pergunta ao pai:

Também ao riso?
Como ao riso?
     -    Ficar sério, muito sério...
     -   Conforme. Tens um gênio folgazão, prazenteiro, não hás de sofreá-lo nem eliminá-lo; podes brincar e rir alguma vez. Medalhão não quer dizer melancólico.” (ASSIS: 1997: 74)

Porém eis aí um dado importante a ser realçado. Diante do impasse do filho sobre o riso, o pai imediatamente afirma que ele não precisa ser grave a todo momento, porém chama-lhe atenção para um cuidado importante que o filho deve ter ao rir. Que este riso venha aberto, espontâneo e despreocupado, que venha sob forma de chalaça, “a nossa chalaça amiga, gorducha, redonda, franca, sem biocos, nem véus...” O filho poderia, seguramente, lançar mão dela, mas nunca da ironia [4] , desta ele deveria se afastar sem pestanejar, pois a ironia, “esse movimento ao canto da boca, inventado por algum grego da decadência, contraído por Luciano, transmitido a Swift e Voltaire, feição própria dos céticos e desabusados.” (ASSIS. 1997: 74)

Ou seja, deve ser o Medalhão, como descrito por Machado de Assis, cordial. Deve saber habilmente ser bem quisto por aqueles que o rodeiam, homem de inteligência tacanha, não agredindo ninguém por suas idéias, não mantendo nenhuma posição política firme, nem mesmo uma posição filosófica, aliás, da filosofia interessava apenas os discursos metafísicos e incorpóreos, sem preocupações verdadeiras e palpáveis, além de suas próprias estratégias e relações para que possa ter uma profissão para a velhice. (ASSIS. 1997: 63)

Porém, a esta altura da argumentação, cumpre diferenciar pontualmente os conceitos com os quais se joga. Como afirmado acima, deve o medalhão, segundo Machado de Assis, saber com precisão usar da simpatia e da cordialidade, da “nossa” chalaça amiga, quer dizer, usar-se habilmente da cordialidade, inata ao ‘caráter’ nacional. É interessante perceber como este ‘diálogo-receita’ se trata da exposição minuciosa pelo pai de uma estratégia de ascensão social recomendada ao filho, que, como é possível perceber, imbrica-se e principalmente alimenta-se deste escudo socialmente aceito no Brasil e próprio, segundo o autor de Raízes do Brasil, aos brasileiros: a cordialidade, ou lançando mão de uma expressão de Antônio Candido, da “mentalidade cordial”; que se trata de uma forma espontânea de manifestação própria ao temperamento do brasileiro, mui habilmente canalizada pelo progenitor para servir como veículo de navegação social no conto machadiano. A espontaneidade da cordialidade é explicitada por Sérgio Buarque quando este afirma que: 

Ela (a polidez) pode iludir na aparência – e isso se explica pelo fato de a atitude polida consistir precisamente em uma espécie de mímica deliberada de manifestações que são espontâneas no “homem cordial” : é a forma natural e viva que se converteu em fórmula. Além disso, a polidez é, de algum modo, organização de defesa ante a sociedade.(HOLANDA. 1999: 147)

Como a leitura paralela de Machado de Assis e Sérgio Buarque aponta, este jogo de sociabilidade têm suas regras, forma uma espécie de circulo vicioso. Em Raízes do Brasil, seu autor busca, dado o olhar negativo que lança sobre estes fenômenos, propor uma saída para este dilema, a qual interessará, a seguir, ser compreendida, “temperando” a discussão com alguns diálogos políticos presentes em Machado de Assis.

A moral das senzalas e a razão utópica

Dado pouco enfatizado sobre Raízes do Brasil, obscurecido em grande parte pela análise tipológica weberiana [5] , é o apelo político que fecha a obra, em tom quase didático, buscando alinhar os próximos passos em busca de um saneamento deste personalismo e desta falta de ordenação e racionalização quanto à gestão da res publica, que não consegue desligar-se destes vícios senhoriais, frutos, na análise de Buarque de Holanda, dos resquícios daquilo que ele irá chamar de moral das senzalas, que consiste em uma avaliação do quanto a formação, ao longo da maior parte da História do Brasil, de uma sociedade patriarcal e escravocrata foi contaminada por um sem número de vícios.

Sinuosa até na violência, negadora das virtudes sociais, contemporizadora e narcotizante de qualquer energia realmente produtiva, a “moral das senzalas” veio a imperar na administração, na economia e nas crenças religiosas dos homens do tempo. A própria criação do mundo teria sido entendida por eles como uma espécie de abandono, um languescimento de Deus. (HOLANDA. 1999: 62)

São estas marcas profundas de segregação e do fortalecimento do desprezo ao trabalho manual no imaginário nacional que se convertem no dilema apontado por Buarque de Holanda. Arrastando-se desde o começo da formação do Brasil, esta instituição tratou de contaminar sobremaneira a forma mentis nacional, viciando-a de uma forma tal em preconceitos e à uma ética peculiar. Nesta relação entre os proprietários de escravos e seus cativos, não há necessariamente uma vitória por parte dos senhores, uma vez que saem desta relação impuros, pois o mundo que criaram pela dominação também os dominou, tornando-os uma casta de inadaptados aos novos processos sociais, como o da urbanização rápida e progressiva, que acabou rendendo-lhes a imagem que os eternizou na arte, a do sinhozinho boçal que sobrevive apenas pela força dos seus jagunços e de suas sórdidas jogadas políticas.

Obviamente não há, em nenhum momento, a pretensão de afirmar nem mesmo sugerir que sejam os índios e negros os culpados por esta ‘moral’, contaminando os senhores de engenho luso-descedentes. A rigor, e esta afirmação pode ser buscada em Sérgio Buarque, foram estes antigos senhores de engenho carrascos e vítimas de uma lógica que lhes é mais própria do que aos demais povos, pois “é curioso notar como algumas características ordinariamente atribuídas aos nossos indígenas e que os fazem menos compatíveis com a condição servil – sua ‘ociosidade’, sua aversão a todo esforço disciplinado, sua ‘imprevidência’, sua ‘intemperança’”, antes de serem características próprias aos povos indígenas, “ajustam-se de forma bem precisa aos tradicionais padrões de vida das classes nobres.” (HOLANDA. 1999: 62)

Ante a constatação da sociedade brasileira posta nestes termos, vítima de uma estrutura arcaica, que segundo Sérgio Buarque é a culpa maior de sua “insuficiente modernidade”, busca o autor uma saída para esta situação, vista por ele na radical ruptura com a tradição [6] . Se o núcleo da tese de Sérgio Buarque está justamente na argumentação deste de que a maior parte dos problemas nacionais assenta-se nos resquícios senhoriais e nas antigas tradições luso-brasileiras que em grande parte ainda imperam na organização e imbricação do público e do privado, como busca Sérgio Buarque romper com esta lógica, no fechamento de Raízes do Brasil? Segundo o autor:

Só pela transgressão da ordem doméstica e familiar é que nasce o Estado e que o simples indivíduo se faz cidadão, contribuinte, eleitor, elegível, recrutável e responsável, antes as leis da Cidade. Há neste fato um triunfo do geral sobre o particular, do intelectual sobre o material, do abstrato sobre o corpóreo e não uma depuração sucessiva, uma espiritualização de formas mais naturais e rudimentares, uma procissão de hipóstases, pra falar como na filosofia alexandrina.(HOLANDA. 1999: 141)

Seria este o ideal de construção da República, a partir da idéia de que se deveria respeitar os limites entre o público e o privado, racionalizando assim as atividades administrativas da máquina burocrática. Entretanto, o fato com o qual Buarque de Holanda se depara no Brasil é com um languescimento das formas institucionais, que não chega a separar de forma estanque, na prática, o público do privado, sendo, justamente, a esta frouxidão dos laços institucionais que se dirige sua crítica à lógica que organiza as relações entre as esferas pública e privada. Uma vez que a imbricação entre elas seja total e/ou ao menos crescente, passam a dominar as relações pessoais, o cumpadrio, o “jeitinho” e a troca de favorecimentos, tornando impossível a realização do processo de racionalização que deveria dar origem ao Estado de Direitos, ao invés do Estado de Privilégios. No entanto, parece importante apontar para o caráter híbrido deste Estado; nominalmente, secular, racionalizado e de Direito, todavia, formando um sistema entendido pelo autor como imperfeito, onde, pelas suas ranhuras, escorrem privilégios e vantagens para os grupos que se colocam estrategicamente em relação a este.

Sérgio Buarque de Holanda constata nossa incapacidade de fazer uma ruptura radical, afirmando que não desejamos “o prestígio de país conquistador e detestamos notoriamente as soluções violentas”, po isso buscamos “ser o povo mais brando e o mais comportado do mundo.” (HOLANDA. 1999: 177) Nossas saídas políticas são pacíficas, negociadas, sendo, para Sérgio Buarque de Holanda, a abolição da escravatura a nossa única revolução social, sabidamente mansa e calma. Se isto tem certa positividade, pois nos leva, por exemplo, a ser um dos primeiros países a abolir a pena de morte na legislação, ainda que já estivesse havia muito abolida na prática, por outro lado, possui um aspecto entendido por Sérgio Buarque como perverso, uma vez que essa feição do nosso aparelhamento político “se empenha em desarmar todas as expressões menos harmônicas de nossa sociedade, em negar toda a espontaneidade nacional.” (HOLANDA. 1999: 177)

Como afirma Mozart Linhares da Silva, “o que está em jogo, na visão de Buarque, assim como em grande parte de nossa historiografia, é a mística da modernidade inacabada, agrilhoada por uma tradição que pode ser reportada ao escolasticismo lusitano que condicionou a intelligentsia colonizadora a partir da segunda metade do século XVI.” (SILVA. 2000: 123) Ou seja, Sérgio Buarque entende que a nossa “insuficiente modernidade”, fruto da colonização lusa, uma vez que, para ele, Portugal, quando do descobrimento não havia ingressado na modernidade, gerou um “atraso” civilizatório que deveria ser reparado. A saída para que se repare este “mal” seria, na visão de Sérgio Buarque de Holanda, a racionalização do Estado e da vida política em geral.

Neste ponto, ainda é preciso ter cuidado, pois a racionalização deste Estado, como a quer Sérgio Buarque de Holanda em Nossa Revolução, último capítulo de Raízes do Brasil, deve ser cautelosa, uma vez que o autor nos previne sobre as saídas caudilhescas, tipicamente latino americanas. Estar-se-ia, assim, substituindo uma forma de personalismo político por outra. Ponderação que se entende tranqüilamente levando em conta o período em que Sérgio Buarque de Holanda escreve Raízes do Brasil: os anos 30, em meio às turbulências da subida de Vargas ao poder. Nas palavras de Buarque de Holanda, seria preciso vencer-se, definitivamente a “antítese liberalismo-caudilhismo”, sendo que, para o autor:

Essa vitória nunca se consumará enquanto não se liquidem, por sua vez, os fundamentos personalistas e, por menos que o pareçam, aristocráticos, onde ainda assenta nossa vida social. Se o processo revolucionário a que vamos assistindo, e cujas etapas mais importantes foram sugeridas nestas páginas, tem um significado claro, será este o da dissolução lenta, posto que irrevogável, das sobrevivências arcaicas, que o nosso estatuto de país independente até hoje não conseguiu extirpar. Em palavras mais precisas, somente através de um processo semelhante teremos finalmente revogada a velha ordem colonial e patriarcal, com todas as conseqüências morais, sociais e políticas que ela acarretou e continua a acarretar.(HOLANDA. 1999: 180)
Em grande parte parece que, movido por sua estada na Alemanha e sua ligação às teorizações de mestres alemães como Max Weber e Georg Simmel, Sérgio Buarque de Holanda se frusta ao perceber o quanto o Brasil ainda era tributário de uma estrutura de fundo “sumamente arcaico”, em grande parte ainda regida pelos mesmos senhores de engenho de quatrocentos anos de história, ainda que se apresentassem em outros trajes e termos. Continuava a imperar a mesma moleza, a mesma “suavidade dengosa e açucarada”, que, segundo o autor “invade, desde cedo, todas as esferas da vida colonial” (HOLANDA. 1999: 61). Esta frustração de Buarque de Holanda aparece em passagens como esta, onde assevera que:

 

Na verdade, a ideologia impessoal do liberalismo democrático jamais se naturalizou entre nós. Só assimilamos efetivamente esses princípios até onde coincidiram com a negação pura e simples de uma autoridade incômoda, confirmando nosso instintivo horror às hierarquias e permitindo tratar com familiaridade os governantes. A democracia no Brasil foi sempre um lamentável mal entendido.(grifo meu) (HOLANDA. 1999: 160)

Na realidade, se a constatação do problema feita por Sérgio Buarque de Holanda é primorosa, a permanência de ranços relativos ao patrimonialismo e a imbricação entre o público e o privado demonstra que a sua utopia racionalista segue em aberto, uma vez que parece posto com clareza que, adentrando o Século XXI, a forma mentis brasileira permanece, em espírito, marcada pela cordialidade e pelo jeitinho como, por exemplo, buscaram sistematicamente demonstrar os estudos do antropólogo Roberto Da Matta [7] . Esta cordialidade, estruturante das relações de sociabilidade dos brasileiros, esta forma de identidade nacional vista como arrevesada por Sérgio Buarque e esta falta de uma separação do público e do privado que tanto prejudicam a política e a vida nacional sejam algo impossível de extirpar, justamente por pertencerem  a uma lógica civilizatória diferente. Dadas as devidas proporções e ponderações, o Brasil não “racionalizou-se totalmente”,  estando, para usar uma expressão do crítico literário indo-britânico Homi Bhabha em uma “região liminar”, neste “espaço intersticial entre identificações fixas” que, ainda segundo este autor “abre a possibilidade de um hibridismo cultural que acolhe a diferença sem uma hierarquia suposta ou imposta.” (BHABHA. 1998: 22)

O sutil pessimismo com que Sérgio Buarque de Holanda observava a vida política nacional parece ter se confirmado. A “Nossa Revolução”, como chamava Sérgio Buarque o processo crescente de racionalização do Estado e de transformações sociais que o autor identificava a partir da Abolição da Escravatura parece ter se estendido, usando palavras suas, apenas até o “epidérmico”, não movendo, como gostaria, as estruturas mais profundas da sociedade. Os brasileiros continuam ‘cordiais’. Da mesma forma, em outros termos e movidos por outros símbolos, continuam os medalhões descritos por Machado de Assis à proa de nossa história. Desde aquele diálogo entre pai e filho, parecem ainda vagar pelo ar as palavras finais do progenitor a Janjão: “Rumina bem o que te disse, meu filho. Guardadas as proporções, a conversa desta noite vale o Príncipe, de Machiavelli.” 

Considerações Finais

Buscando colocar vis a vis a palavra do historiador Sérgio Buarque de Holanda com a do escritor Machado de Assis, tentou-se, ao longo deste artigo, mostrar como se usa, segundo a leitura machadiana, o medalhão da carapaça que é a cordialidade, é ardil importante, próprio dos brasileiros, segundo Buarque de Holanda, para sobre ela construir sua estratégia de navegação social.

Tratou-se de uma tentativa de propor o diálogo entre a história e a literatura, na verdade, entre a análise psicológica de Sérgio Buarque com o impiedoso retrato pintado por Machado de Assis. Diálogo este que, dado o espaço de tempo entre o nascimento de Machado de Assis, 1839 e a morte de Buarque de Holanda, 1982, a seu jeito, antes de buscar inferir uma imutabilidade ontológica dos brasileiros, buscou deixar uma pista para a leitura da permanência de uma estrutura mental de longa duração, bem como uma rede de sociabilidade que seguem presentes no Brasil.


* Historiador. eder@viavale.com.br


Notas:
1 DeDECCA, Edgar Salvadori. Teoria e Método Históricos em Raízes do Brasil. In: PESAVENTO, Sandra Jatahy. Leituras Cruzadas. Porto Alegre: Editora da Universidade, 2000. P. 169 a 190. REIS, José Carlos. Sérgio Buarque de Holanda. A Superação das Raízes Ibéricas. In: As Identidades do Brasil, De Varnhagen a FHC. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 1999, entre outros.
2 Ainda que Sérgio Buarque lecionasse na USP e fosse um intelectual que mantinha uma atitude militante, ainda que não no campo marxista, há indicações de um semi-ostracismo do mestre. Ver: VASCONCELLOS, Gilberto Felisberto. O Xará de Apipucos. Um ensaio sobre Gilberto Freyre. São Paulo: Casa Amarela, 2000.
[3] Gilberto Freyre analisa a figura do Bacharel no Brasil com vagar em Sobrados e Mucambos, mais especificamente no capítulo entitulado Ascensão do Bacharel e do Mulato, onde busca investigar as implicações deste título em uma sociedade (o Brasil do Segundo Reinado), que chegou a chamar de Reinado dos Bacharéis. Ver: FREYRE, Gilberto. Sobrados e Mucambos. São Paulo: Record, 2000.
[4] Para uma análise mais sistemática sobre o papel do humour em Machado de Assis, ver: MOOG, Vianna. Heróis da Decadência. Petrônio, Cervantes e Machado de Assis. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1964.
[5] É importante salientar que, mesmo sendo tido como dado por boa parte dos comentadores de Raízes do Brasil sua forte vinculação aos modelos teóricos weberianos, há autores que discordam desta postura, como Maria Odila Leite da Silva Dias e Raymundo Faoro, colocando em xeque análises como a de José Carlos Reis e Edgar De Decca.
[6] Ver: SILVA, Mozart Linhares. A modernidade Luso Brasileira, entre o Logos e o Mithos. Revista Ágora, Departamento de História e Geografia da Universidade de Santa Cruz do Sul. V. 6, Nº 1, Jan/Jun. 2000.
[7] Ver Carnavais, Malandros e Heróis, A Casa e a Rua, O Que Faz o Brasil brasil, entre outros.
 
Referências Bibliográficas.
 
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SILVA, Mozart Linhares da. A Modernidade Luso Brasileira, entre o Logos e o Mithos. In: Revista Ágora, no prelo. Texto cedido pelo autor.
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