Ano I - Nº 02 - Julho de 2001 - Bimensal - Maringá - PR - Brasil - ISSN 1519.6178

 

A Sobrecarga da Informação na Era da Internet

Antonio Mendes da Silva Filho* e Maria Viviane Monteiro Delgado**

“A riqueza da informação cria a pobreza da atenção”.

Herbert Simon*

Atualmente, a informação está disponível de maneira rápida, barata e disseminada. Assim, não é de se admirar que todos se queixem do excesso de informação. Note que hoje em dia o problema não é o acesso à informação, mas sua sobrecarga. Como resultado, tem-se a necessidade de filtrar e discernir. Neste contexto, o discernimento é um fator chave, pois implica que o indivíduo deve possuir a capacidade de julgar as coisas, clara e sensatamente. Quantos de nós recebem no cotidiano uma enxurrada de mensagens via correio eletrônico? A Internet tem beneficiado as pessoas oferecendo-lhes um forma ágil e de baixo custo para comunicação profissional e/ou pessoal bem como de pesquisa. Por outro lado, tem exigido maior atenção e discernimento no seu uso sob o prejuízo de termos o tempo precioso sendo consumido de forma avassaladora.

É importante observar que excesso de informação pode ser benéfico. Mas quem não gostaria de dispor de muita informação? Quanto mais, melhor. Mas, qual o custo de usufruir deste benefício? Isto requer que o indivíduo seja capaz de analisar, sensatamente julgar e discernir a fim de selecionar, ou melhor, separar o joio do trigo.  Entretanto, quantos têm a capacidade de discernir? Em princípio, todos. Todos somos capazes de analisar, julgar e decidir. Entretanto, este é um processo longo para o ser humano até que ele atinja um amadurecimento, permitindo-lhe filtrar e discernir sobre a enxurrada de informação de seu cotidiano. Um exemplo simples: considere um estudante que necessita fazer um trabalho de pesquisa sobre determinado tema. Se ele não tiver o escopo do tema da pesquisa bem delimitado, certamente encontrará uma quantidade enorme de fontes. Isto deve-se a elevada produção de informação sob a forma de vídeos, livros, revistas e jornais  de natureza impressa e eletrônica. Assim, é fundamental conhecer as fontes bem como saber discernir sobre seu conteúdo, pois quantidade não implica qualidade. Neste caso, uma orientação sobre boas fontes é imprescindível. Agora, o leitor deve estar refletindo e questionando-se: Será que vale a pena toda essa gama de informação disponível ? Qual meu real ganho nisso tudo? Eu, você e cada um de nós que tenhamos acesso a Internet somos permitidos buscar por tudo aquilo que precisamos para satisfazer às nossas mais diversas necessidades. Note que, até aqui, a preocupação tem sido o consumidor da informação, e o que dizer do produtor ou fornecedor da informação?

O valor verdadeiro produzido por um fornecedor de informação reside em focalizar, filtrar e comunicar o que é útil para o consumidor. Não é por acidente que os sites mais populares da Web pertencem às máquinas de busca, aqueles dispositivos que permitem às pessoas encontrar a informação que valorizam e evitar o resto. Costuma-se dizer que no ramo imobiliário existe três fatores essenciais: localização, localização e localização. Qualquer um pode estabelecer presença na Web – e muitos o fizeram. O grande problema é fazer com que as pessoas saibam sobre essa presença. Por exemplo, a amazon.com (uma das livrarias eletrônica na Internet), recentemente, fez um acordo com a América Online (AOL) para ter acesso aos seus milhões de clientes. Em outras palavras, o que pode ser compreendido desta transação é a atitude da amazon.com de comprar a atenção dos assinantes da AOL. Mas, observe que à medida que os consultórios médicos, supermercados e outros estabelecimentos tentarem agarrar nossa atenção, a sobrecarga de informação irá piorar.

Perceba que a venda da atenção dos espectadores, e porque não possíveis consumidores, sempre foi um modo atraente de manter a disponibilidade de informações. Dentro deste contexto, tem-se que os comerciais sustentam a TV aberta e os anúncios constituem um excelente fonte de receita das revistas e jornais. Daí, a propaganda funciona pois explora os padrões estatísticos.

Cabe salientar que a Internet é um híbrido entre o meio de radiodifusão e o de ponto a ponto pois oferece potenciais novos e atraentes de harmonizar clientes e fornecedores. Assim, a rede permite que os fornecedores de informação se movam da forma convencional de propaganda por meio de radiodifusão para a comercialização de um a um. Uma outra observação importante é o trabalho de coleta de informações sobre os hábitos de assistir programas de milhares de consumidores, objetivando direcionar os programas da próxima temporada. Similarmente, os servidores da Web podem observar o comportamento de milhões de clientes e produzir de imediato um conteúdo personalizado. Em outras palavras, isto significa apresentar anúncios personalizados. Note que a informação acumulada nesses servidores da Web não está limitada ao comportamento atual dos usuários. Esses servidores podem também ter acesso a bancos de dados com informações históricas e demográficas de clientes. Assim, essa nova forma de comercialização baseada na Internet beneficia tanto fornecedor quanto consumidor pois o anunciante consegue atingir o mercado visado, e os consumidores só têm de dar sua atenção aos anúncios de seu interesse. Entretanto, o problema da sobrecarga persiste e tende a piorar, excetuando-se se eu, você e cada um de nós formos capazes de discernir e selecionar sobre o conteúdo buscado e encontrado.

Finalizando, uma preocupação ainda não discutida emana: E o que dizer dos excluídos da Internet? Ah, este é um tema de outro artigo.


* Docente do Departamento de Informática na Universidade Estadual de Maringá

** Acadêmica do Curso de Economia na Universidade Estadual de Maringá

* SIMON, H. “Designing Organizations for an Information-Rich World”. Em Donald M. Lamberton, ed., The Economics of Communication and Information. Cheltenham, Reino Unido: Edward Elgar, 1997.