VANESSA GUIMARÃES DOS SANTOS

Acadêmica do curso de Pedagogia na UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro

 

Inclusão que funciona!

O basquete como um veículo de fortalecimento de novos modelos societais

 

Vanessa Guimarães dos Santos

 

Resumo: O propósito deste artigo é suscitar a discussão sobre a inclusão social dos portadores de necessidades especiais, através do esporte. O foco do trabalho recai sobre a desmistificação de supostas limitações dos mesmos. Assim como, na necessidade de relativizar as representações sociais de menos valia com relação ao considerado diferente, por fugir dos padrões sociais e comportamentais instituídos.

Palavras-chaves: Portadores de Necessidades Especiais, Basquete, Inclusão Social.

Abstract: The intention of this article is to excite the quarrel on the social inclusion of the special carriers of the necessities, through the sport. The focus of the work falls again on the to demystify of supposed limitations of the same ones. As well as in the necessity relativizing the social representacions of little value with relation to the different considered one, for running away from instituted the social and mannering standards.

Word-Keys: Special Carriers of Necessities, Basquete, Social Inclusion.

 

À vontade de conhecer as especificidades e/ou dificuldades e/ou habilidades que tangem o cotidiano dos portadores de necessidades especiais e, mais especificamente dos deficientes físicos, surgiu da proposta de elaboração de um pequeno esboço, sobre a seguinte temática: questões atuais sobre educação especial.[1] O objetivo do trabalho era o de contribuir para a desmistificação (inclusive pessoal!) sobre a “impossibilidade” dos portadores de necessidades especiais experienciarem determinadas atividades, uma tentativa de relativizar o imaginário social de menos valia instalado, que consciente ou inconscientemente difunde e/ou reforça expectativas como a surpresa, e até mesmo espanto ao encontrar um cego no cinema, assim como um deficiente físico praticando um esporte...[2]

É comum a imposição de padrões posturais e comportamentais, aos portadores de necessidades especiais, é certo que não só a eles, afinal, são impostos modelos de sentido, de riqueza, de beleza, de saúde, etc, a todas as pessoas. Porém, no caso dos deficientes físicos, restringem-se às experiências de mobilidade e plasticidade. A visualização da doença antecede a do indivíduo e as seqüelas físicas e/ou sensoriais acabam por regular as possibilidades de desenvolvimento da expressividade e da consciência corporal.

“(...) adultos “conhecedores” das técnicas e das linhas de desenvolvimento. No seu alto poder, acreditam estar propiciando a formação desses indivíduos para a autonomia social, mas, muitas vezes cerceiam a liberdade dos mesmos com tabus e restrições de ações e comportamentos...” (BUENO apud CARPES, 2001:25)

Em contrapartida, é fácil notar, assistindo treinos e jogos, as faculdades de movimento, espaço e tempo que os atletas apresentam, e a eficácia dos trabalhos corporal, cognitivo e afetivo desenvolvidos através da adequação de metodologias de treinamento e ensino para atender às características de cada um deles, revelando estruturas que extrapolam suas supostas limitações. O basquete adquire assim, sentido de desenvolvimento e profilaxia física.

“(...) se desenvolve o domínio da orientação espacial, do sentido muscular para a resolução de problemas físicos com economia de esforços e obtenção de melhores resultados, promove a melhora das funções circulatória, respiratória, e ainda boa formação corporal, postura e melhora da qualidade de vida...” (BATISTELLA; KRUG, 2002:94)

Além dos benefícios citados anteriormente, talvez os reflexos mais significativos das atividades esportivas na vida dos portadores de necessidades especiais sejam o fortalecimento da auto-estima, a auto-afirmação, a participação, a promoção das inter-relações pessoais e sociais. Isso significa a expansão da cidadania.

“Não é por decreto que os homens se transformam em cidadãos: é preciso que tenham interiorizado o valor democrático, que tenham descoberto seu poder criador, a força instituinte do poder criador coletivo. É preciso que sejam capazes de considerar como tarefa mais essencial construir e reconstruir o que deve ser a sociedade, o que deve significar justiça, igualdade, democracia, cidadania para sua sociedade”.(VALLE, 2000:30)

Ao mesmo tempo, isto supõe uma ruptura do conceito estático de homem, de mundo e de conhecimento. O foco passa a estar na pessoa não na diferença! A reorganização proposta pela perspectiva de prática do esporte desconstroi uma série de conceitos e nos faz relembrar a necessidade de cultivar uma ótica de estranhamento ao que está posto como natural, é fundamental um contínuo exercício de re-significação das representações sociais.

O que diferencia o ser humano das outras formas vivas é justamente, sua percepção ética, a possibilidade de participação consciente. Que tipo de geo-sociedade queremos, e que pressupostos orientam as diretrizes de construção da mesma? Mais do que nunca, emerge uma questão: se a consubstancialidade das sociedades humanas é a mescla de elementos heterogêneos, porque a diferença ainda exerce funções de dissensão e/ou cerceamento de relações?

Talvez os motivos sejam sociedades preconceituosas, patriarcais, machistas, patrimoniais, individualistas, consumistas, condescendentes com privilégios e a corrupção, com as agressões, sejam elas físicas ou morais, contra os socialmente discriminados, o que causa uma espécie de letargia que nulifica e/ou anestesia os homens.

A representatividade do indivíduo se encontra na equação individual/coletivo, “o todo está incluído na parte, assim como a parte está no todo, porém, cada parte é dotada de singularidades, e por isso não representa meros fragmentos do todo” (MORIN, 1999:114), mas a possibilidade de novas e incomensuráveis interconexões. Por tudo isso, a importância de acolher, agregar e compreender a alteridade como parte de si mesmo. Mais do que integrar, incluir e vislumbrar a possibilidade de realizar uma “rede sócio-cósmica de solidariedade” (BOFF, 2003). E você o que propõe?

[1] Disciplina obrigatória ministrada no curso de Pedagogia da UERJ.

[2] Essas questões circunscreveram a opção por uma modalidade esportiva, o basquete em cadeira de rodas, que no Rio de Janeiro apresenta um crescente grau de desenvolvimento e organização. Para maiores informações sobre as regras do jogo, fotos, competições, entre outras informações que tangem o universo consulte o site www.fbcrerj.org.br.

Referências:

BATISTELLA, Pedro Antônio; KRUG, Marília de Rosso. Dança e Desenvolvimento Motor de Portadores de Necessidades Educativas Especiais. Revista Cadernos de Educação Especial, nº20, p. 89-95, 2002.

BOFF, Leonardo. Socialismo e Moderna Cosmologia. 2000. Disponível em: www.leonardoboff.com/artigos. Acessado em: 23/04/04.

CARPES, P.S. O perfil motor dos portadores de síndrome de down. Cruz Alta. Relatório de Pesquisa Universidade de Cruz Alta – UNICRUZ, Cruz Alta – RS, 2001.

MORIN, Edgar. O método: o conhecimento do conhecimento. Porto Alegre: Sulina, 1999.

VALLE, Lílian do. Cidadania e Escola Pública. In: VALLE, Lílian do, (org.) O mesmo e o outro da cidadania. Rio de Janeiro:DP e A, 2000, p.13-32.

 

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Última atualização: 03 dezembro, 2004.